segunda-feira, 26 de março de 2012

galera apela demais pro lado da fofura bjs

"Crepúsculo é apelativo e vende sexo"
"Christina Aguilera é uma vadiazinha e Not Myself Tonight foi muito apelativo"
"Kerli tá toda sexualizada nesse novo videoclipe, igualzinho às outras vadiazinhas do pop, apelou geral"
"Madonna apelou muito nesse Girl Gone Wild com esse bando de gays se esfregando"
"Esse povo do pop apela muito pra sexo"

"Essas meninas coreanas apelam muito pra fofura, é ridículo"
"Pra quê essa coreografia toda? Não precisa disso tudo, é apelativo"
"É muito apelativo esse bullying todo em cima de Harry Potter quando criança."
"Tim Burton só curte fazer filmes bem sombrios. É muita apelação pro lado mórbido"

Eu desafio vocês a me explicarem porque as cinco primeiras sentenças são repetidas à exaustão, coisa que não acontece com as quatro últimas sentenças.

Ninguém diz que um videoclipe fofo como Shy Boy é apelativo - mesmo que ele seja excessivamente fofo, a níveis alarmantes.
Ninguém diz que um filme todo bem trabalhado cheio de efeitos especiais é apelativo - mesmo que os efeitos sejam até desnecessários às vezes, como no caso de Suck Punch.
Ninguém diz que um livro como Harry Potter é apelativo por conta dos dramas envolventes - mesmo que a coisa de "um pobre garoto de onze anos que é maltratado pelos seus tios e então descobre que é bruxo" não seja novidade alguma para literatura.
Ninguém diz que Tim Burton apela quando ele faz O Estranho Mundo de Jack ou Edward Mãos-de-Tesoura usando os mesmos cenários, mesma paleta de cores, mesmos personagens - todos oriundos do reino das trevas.

Mas galera adora afirmar que x vídeo, x filme, x livro é apelativo porque tem sexo.
Porque, oh-meu-paizinho-do-céu, a cantora tá se agarrando com um cara peladinhos-da-silva.
Porque, pior que tudo, caras estão se agarrando.



E esse é o ponto desse texto. Porque sexo é considerado apelativo, polêmico, fora dos limites aceitáveis e as outras coisas não são. É curioso estar no nosso mundinho ocidental século XXI e ver em que ponto estamos. Era para estarmos livres de qualquer amarra estúpida, mas nego continua batendo o pé e querendo fazer do sexo uma aberração. E então temos, dentro da música, estúpidas pessoas que fazem questão de valorizar mais uma cantora se ela não fala, não menciona e nem demonstra ser alguém que faz sexo. Tive essa percepção ao ver o novo vídeo de Kerli e, em seguida, a reação dos fãs. Kerli é uma cantora estoniana que sempre trabalhou na linha dark, obscura, preto e branco, amor está morto e todas essas coisas. Quem conhece o gênero sabe do que tô falando. Ela era mais lolita, saias rodadas, sem muita sexualização. No novo videoclipe, ela está mais banhada na luz, com nuvens celestiais ao redor, e ela insinua sexo com dois seres denominados silfos. Ela chega a beijar um deles, e a cinta-liga (bege. B E G E pra ficar na paleta de cores claras e felizes) é ajeitada por tais seres. É só isso.

Pra quem é fã de Madonna e aprecia ela com 53 anos se agarrando com um bando de caras, é nada demais.
Mas para os fãs de Kerli que se acostumaram com a persona sou-depressiva-e-vou-cantar-músicas-tristes e que vivem em um gênero de músicas com cantoras de tipo parecido, é um choque.
É como se Kerli se equiparasse a (oh-meu-deus) Britney Spears (vadiazinha-mor do pop, afirmam) ou Christina Aguilera (putinha de esquina) ou Madonna (rainha das putas). Porque (oh-minha-nossa-senhora-da-bahia) Kerli demonstrou que pensa, que faz e que gosta de sexo. Em uns seguindos de vídeoclipe.



Isso seria muito engraçado, se não fosse um dos sintomas bem pequenininhos de algo que faz com que a humanidade seja doente há séculos, se não milênios.

As pessoas se incomodam com insinuaçãoes de sexo em videoclipes, filmes, livros porque elas sentem que aquilo é errado, promíscuo e que deveria ficar escondido. Mais ainda: se incomodam com mulheres fazendo sexo. E isso é um grande problema, porque se as pessoas reclamam disso com artistas que são considerados livres para pintar seus cabelos de cores berrantes, usarem roupas extravagantes ou fazerem trabalhos esquisitos que ninguém entende, imagina então com pessoas comuns, no dia a dia. Elas se sentem no direito de apontarem para uma pessoa e a qualificarem de acordo com sua conduta sexual. Elas se sentem no direito de discriminarem as cantoras de quaisquer gênero de acordo com o teor de "apelação" que elas possuem que, no caso, é só pela sexualidade. Se a cantora demonstra não falar/não fazer/não pensar em sexo, passa. Se não, é "apelativa". Christina é apelativa. Rihanna é apelativa. Katy é apelativa. Britney é apelativa. Nicki é apelativa. Madonna é apelativa.

E foda-se se elas tem mais do que sexo. Fodam-se se com as cintas-ligas, canções sussurradas e sutiãs, elas falem de violência, amor, amizade e tantos outros temas. Elas são consideradas apelativas porque se servem do sexo para divulgarem seus trabalhos.

Sexo não deveria ser tratado assim. Ele não deveria ser tratado como algo pecaminoso e sujo. Ele é algo que porcos, golfinhos, coelhos fazem o tempo todo. Meu hamster faria sexo se ele tivesse um par com quem fazer (forever alone). Nós só existimos porque nossos pais transaram. É problemático nós considerarmos que sexo é algo que deve ser reprimido e guardado em segredo. É ainda mais problemático quando fazemos uma clara distinção por gêneros: tudo bem um homem fazer músicas que insinuem sexo e movimentos pélvicos e tudo o mais, mas se uma mulher faz a mesma coisa, ela é considerada apelativa, polêmica, sexual e, de repente, seu trabalho se resume nisso. Ninguém fala nada sobre os cantores do pop serem sexuais ou não. Isso não faz diferença.

Mas quando uma cantora faz um videoclipe se insinuando, já temos na cabeça que ela está polemizando e vendendo sexo. Como se tivessémos o direito de fazer isso.

É evidente que a sexualidade feminina incomoda. Incomoda também a sexualidade de gays - como se fossem aberrações. E isso me incomoda, porque faz com que essas cantoras enfrentem uma resistência na hora de divulgarem suas artes que não deveria acontecer. É bizarro que elas tenham que ficar o tempo todo na linha do "sexy" e "vulgar" como se essa linha realmente existisse. Como se não fosse apenas uma estúpida tática de controle para restringir a sexualidade de milhares de mulheres todos os dias. Porque é isso que todas essas revistas ensinam: "oi seja desejável, mas não demais". Use uma saia um pouco mais curta, mas não fale de sexo oral e todas essas coisas. Deixe ele imaginar, não demonstre que goste. E por conta de toda essa restrição, milhares de mulheres não sabem o que é ter prazer. Não sabem sequer que é permitido sentir prazer no sexo, porque se habituaram a pensar nele como algo sujo e promíscuo. Eu diria a mesma coisa com os homossexuais: as pessoas consideram que falar deles e mostrar eles se beijando e transando em diversas obras audiovisuais é apelação, é um polemizar sem fim. É algo que "a sociedade não está preparada". Bem, se ela não está preparada, foda-se. Não deveríamos ficar esperando a sociedade "estar preparada" para dar aos homossexuais algo que é de direito deles: ser gente. E ser gente significa existir, respirar, transar por aí, porque não. Já basta novelas da Globo fingindo que gays não tem vida sexual. Incomoda.

Incomoda muito à essas pessoas que alguém fora da classe homem-hetero tenha vida sexual. Incomoda porque é algo que foi refreado por séculos, desacreditado por supostos especialistas, reprimido à exaustão. Sexo sempre foi considerado, na nossa sociedade cristã e ocidental, algo bestial que deveria ser feito somente para a procriação. E isso está errado.



Sexo é normal. É algo que deve ser encarado com tranquilidade, naturalidade e beleza. Porque é belo que duas (ou mais) pessoas possam se conectar tão profundamente e tão intimamente por algumas horas. E assim como amor, ódio, morte, vida e tantos outros aspectos da vida, ele deve ser retratado em filmes, livros e videoclipes de forma livre e espontânea, sem amarras. Não deveríamos olhar para um videoclipe cheio de sexo e classificá-lo como "apelativo" só porque ele é cheio de sexo - não se a gente não faz a mesma coisa com outros atributos de outros vídeos. Nós deveríamos era parar e pensar no porquê de um vídeo com vários casais transando incomodar tanto.

E então você perceberia que o problema não está no vídeo nem na cantora nem nos diretores.
O problema está na sociedade inteira.


desenho feito pela dona do tumblr saraisazombie

créditos (aka tumblrs de onde roubei) das imagens:
fasella
kerliland
madonnax

quarta-feira, 14 de março de 2012

todo meu amor por dexter em uma pseudo tese

algumas séries são vícios e sinto necessidade de analisá-las. essa é minha vida, esse é meu clube.

Estou na metade da quinta temporada de Dexter, mas sinto profunda necessidade de discorrer sobre ela e ver se entendo o motivo de eu amar tanto essa série. Hoje, finalmente, sento na cadeira, abro bloco de notas e começo a enumerar os motivos de eu amar essa série.

Lembrando: estou na metade da quinta temporada. Sem vontade de parar. Sem vontade de que a série acabe.



Sinopse de Dexter pra quem não lembra/não sabe/não faz idéia se é de comer: Dexter Morgan é adorado pela irmã, amado pela namorada e querido pelos colegas. Perito de sangue na Polícia de Miami, ele realmente é o cara legal. Negócio é que enquanto pessoas vêem TV em seu tempo livre, Dexter sai por aí caçando assassinos e matando-os cruelmente, se servindo de muita técnica e arte, sendo um perfeito psicopata entre pessoas normais e sãs. Com o lindo detalhe de que ele foi treinado desde criança a agir assim, pelo pai policial e respeitado, assim que o pai sacou que o menino não era exatamente normal.

Aviso: spoilers até metade da quinta temporada. Não conto quem morre ou não, só coisas leves. Se você for chata que nem eu, não leia, se não tiver visto.

Dexter tem personagens femininas fortes.

Quem me conhece sabe como faço questão de uma representação do meu gênero que não seja estúpida. Descarto qualquer série cujas mulheres só saibam falar de compras - homens - filhos - casa - compras - homens - ciclo infinito. Temos aqui, então, três personagens fortes: Debra, Rita e LaGuerta. Debra é a irmã de Dexter, e trabalha na Polícia. Ela, inicialmente, se disfarça entre as prostitutas e vai crescendo ao longo da série. Rita é a namorada de Dexter, mãe de uma garota, Astor, e um garoto, Cody. Ela é amável e pacífica, e se dá muito bem com Dexter por coisas simples: ele dá à ela o que ela precisa como carinho, atenção, paz. E ela dá à ele normalidade. Ela teve um ex-marido violento e agressivo, e por conta dos estupros, ela se tornou traumatizada com sexo. Como Dexter nunca viu interesse em sexo e ele não faz questão disso, então Rita o considera um cara compreensivo e gentil. Já LaGuerta é a chefe dos policiais no Departamento de Homícidios. Ela encarna mais a vibe competição que não curto, especialmente com Debra, mas aos poucos você vai entendendo que ela simplesmente só fica querendo salvar a própria pele. Se ela erra em algo, ela nunca assume a culpa. Sabe liderar muito bem, e sabe se impor como líder. E sabe total lidar com a imprensa - às vezes não da forma mais adequada.



Analisando superficialmente as três personagens femininas que mais aparecem, notamos que nenhuma delas é representada de forma superficial ou fútil. Debra não atende ao estereótipo de menininha nem de longe, com seus quilos de palavrões por minuto. Ela sempre corta as piadas escrotas de Masuka. E ela é excelente no que faz, porque é determinada e focada. Considero Debra uma personagem bem profunda, com um enorme senso de família. Mesmo que ela guarde mágoa porque pai nunca a tratou tão preferencialmente como tratava Dexter, ela ama o pai e vê nele exemplo de vida, de carreira, de tudo. Ela ama a mãe que morreu anos atrás. E ela ama Dexter, defende ele com unhas e garras. Além disso, Debra tem um sistema de moral e ética muito próprio. Não curte a vibe de ferrar os outros por nada, e não suporta mentirinhas, intriguinhas, artimanhazinhas. Lidar com ela é relativamente fácil: seja claro, a respeite e a trate como gente. E não seja cuzão, nas palavras dela.



Por isso ela não se dá muito bem com LaGuerta que é cheia de artimanhazinhas. Não que LaGuerta seja ruim. Não é. LaGuerta tem muitos ótimos momentos nos quais é totalmente justa e ética. Na terceira temporada, ela ficou totalmente dividida porque ficou amiga de uma advogada que odiava total o outro melhor amigo dela, um promotor, e era richa de anos os dois. E um dizia coisas horríveis dos outros, capazes de levar o outro pro tribunal e passar dias discorrendo. Quando um exagerava, LaGuerta ia lá e puxava a orelha. Ela olhava a situação de fora e tentava realmente ser justa e ponderada. É também talentosa para lidar com a imprensa. Gosta de brilho e holofote, então quase sempre ela que dá as declarações para a mídia e tudo o mais. O probleminha dela é, na realidade, um grande problema: toda a ética dela vai para o inferno se acaba afetando à ela. Se ela está envolvida na merda, ela sai da reta e foda-se quem estiver no caminho. Ela pode até se sentir mal e tudo o mais, mas ela não hesita em tomar atitudes que acredita ser o melhor para todos, mas na verdade, é só o melhor para ela. Então entra em confronto com Debra que não é nessa linha.

E quem se fode é Debra, porque LaGuerta tá tipo n posições hierárquicas acima.



Então temos Rita, fora desse circuito policial e tudo o mais. Trabalha como recepcionista de um hotel e sabe o que é ser fodida pela vida, tendo um ex-marido que fez com que ela se habituasse com um cotidiano turbulento. A sua filha mais velha deve ter uns dez anos e presenciou essa violência, já o garotinho nem tanto. Tudo o que ela quer é uma vida normal. Casa no subúrbio, crianças felizes, ir à praia de vez em quando. Sinceramente, acho ela tão café-com-leite que nem sei se tem gente que não gosta da mulher. Porque ela é assim, toda amorzinho, pacífica, cheia de instinto maternal pronta pra acolher todo mundo. Ela definitivamente é um paradigma que Dexter usa para se orientar sobre como agir normalmente. Porque Dexter é psicopata. Dexter não sabe o que é sentir. Dexter está com Rita por conveniência, mas Rita não sabe disso. Rita acha que Dexter a ama sinceramente, e ama Dexter também. E aos poucos a série vai trabalhando nisso, de como essa conveniência virou algo maior que isso. E Rita vai assumindo diversas nuances. Ela é extremamente madura em várias passagens, e compreensiva em várias outras. E notamos como ela luta todos os dias para superar os traumas passados e de como ela, sinceramente, busca uma vida normal. Na segunda temporada, ela encana que Dexter tá viciado em drogas (e Dexter nem nega, porque senão teria que falar que mata pessoas por hobby. Muito melhor que cocaína, querida!) e ela busca entender isso. Ela ajuda o cara em tudo.

Ele chega tarde em casa, ele não diz onde está, ele está fatiando sua vítima quando ela liga pra ele. E ela perdoa. Ela diz sempre o quão bom ele é, e Dexter sabe que não é. Mas ele é - para ela e as crianças, ele é aquele marido ausente, mas gentil, aquele paizão que tenta ser legal. Aquele cara legal.

E retornamos à questão feminina no próximo tópico:

Dexter não é feminista, verdade. Mas tem um viés lembrando lados marginalizados da sociedade, em geral.

Lamento só a série não falar de gays, não ter representação de gay, bi, trans, nada. Em relação à sexualidade, é bem nula mesmo. Mas quanto à mulheres e latinos, a série aborda até dizer chega. Não é aberto, por assim dizer, porque não é uma série sobre mulheres ou sobre latinos, mas sobre um sociopata serial killer que mata assassinos. Mas volta e meia tem um caso policial e já se nota o procedimento padrão.

Na quinta temporada, Quinn (personagem que entra depois) diz à LaGuerta que tinham que ter investigado o marido em um caso lá. Porque ambos sabiam e essa era a regra adotada pelos policiais: se a mulher aparece morta, em 90% das vezes, o assassino foi o companheiro. É padrão desde a primeira temporada e todos sabem disso. Debra sabe disso. Masuka sabe disso. Angel sabe disso. Nós, mulheres, sabemos disso. Eu mesma mencionei uns poucos casos no post passado. Violência contra a mulher é enorme e comum e em todos os campos, e mais ainda: pelo próprio namorado/marido. A série não trabalha aprofundamente nessa questão de como a violência contra a mulher é um sintoma da sociedade toda, assim como não trabalha diversas outras questões sociais. Mas levanta aquela questão: mulher é uma vítima frequente. Outra recorrência em relação à violência contra a mulher é o fato de que boa parte dos assassinos que Dexter mata tem como vítimas mulheres. Dexter sublinha bem quando está matando. Ele diz claramente para as vítimas que elas estão ali, embaladas em plástico e prontas pra morrerem, porque mataram mulheres.

Como diz Lisbeth Salander em Os Homens Que Não Amavam as Mulheres, são caras que odeiam mulheres.


Julie Stiles fazendo Lumen.

Essa questão da violência é reforçada na quinta temporada, que estou vendo agora, com a questão do estupro que é tratada de forma artificial. Dexter encontra uma garota que está completamente traumatizada: foi torturada e estuprada por diversos caras. Ele, que acabou de passar por algo tenso, meio que acaba se unindo à ela procurando uma forma de superar aquilo. Eu não estou muito certa, já que estou na metade da temporada, mas Dexter consegue sentir um mínimo que seja do que é o horror do estupro ao conhecer a garota. Inclusive, no começo da série, ele só abrangia assassinos dentro do seu código de conduta como serial killer. Na quinta, ele já está mais disposto a acolher estupradores em sua mesa também.

A outra questão que Dexter fala sempre, mais do que a violência contra a mulher, é a de latinos. Todo mundo que já viu a novelinha da Globo com Debora Secco chorando pitangas sabe que Miami tem mais latino do que qualquer outro povo. Metade de Dexter só não é em espanhol porque tem os pensamentos em off de Dexter. Mas temos LaGuerta e Angel como policiais da Cuba e representantes da América Latina dentro da polícia. Porém nos diversos casos que acompanhamos ao decorrer da série, temos as vítimas, os suspeitos, as testemunhas e percebemos - de forma superficial - o quão grande e unida a comunidade latina é. Em um caso, temos um bairro venezuelano. Em outro, temos uma vítima e um assassino de Nicarágua. E por aí vai, todos de países diferentes. Uma das "presas" de Dexter é um cara que engana cubanos na imigração e os mata se não conseguem pagar as dívidas. É uma questão sempre tensa de abordar, porque nenhum país gosta de falar dos imigrantes ilegais. É um povo marginalizado que acreditava no sonho americano e chega e percebe que não é bem assim. E cresce a criminalidade, a tensão, o preconceito.

E a segregação é evidente.

Sem contar que os imigrantes ilegais se tornam presas fáceis nas mãos de policiais porque se não se entregarem ou não contarem alguma coisa, é fácil chamar seja lá que órgão e deportar, o que faz com que a comunidade de latinos - em geral - tenha uma relação conflituosa com a polícia. Porque se entregar aquele traficante que é camarada e todos conhecem, morre dia seguinte. Se não entregar, é deportado e volta pro país de origem. Nessas horas, sempre entra a LaGuerta com seu talento em socializar com pessoas ou Angel com seu olhar bondoso, falando em espanhol e fala mansa. Porque mandar Debra interrogar, por exemplo, ia dar errado. Debra é branca, americana, viveu sonho americano de boa. Ela não entende realmente o que os latinos passam. Ela sabe, mas não entende. Ela sequer fala espanhol - e isso a atrapalha, porque sempre que ela precisa interrogar famílias em bairros latinos, ela tem que trazer alguém que saiba espanhol junto. No meu ponto de vista, acho que se Miami tem tanto latino, todo mundo tinha que saber espanhol. Ainda mais policial que vive diariamente às voltas com problemas da marginalização. Que tem que dar batida pra prender traficante, prender marido que matou a mulher com um tiro. Custava nada Debra fazer um cursinho e não ter dito Santa Mierda em vez de Santa Muerta, sendo motivo de riso.



Dexter, mesmo sem sentimentos e sendo serial killer, é mais útil pra humanidade do que muita gente.

Sempre fui uma pessoa que nunca conseguiu ter real noção do que é certo e errado em relação ao assassinato. Sempre achei errado matar alguém, mas era aquela coisa: se o assassinado é um marido que espancava sua esposa... se o assassinado é uma pessoa doentia que matava criancinha. Aquela coisa do "se", mas mesmo assim, eu sou mais dessa linha: não é certo. Não acho que alguém tenha o direito de tomar a justiça nas próprias mãos, porque isso cria um precedente perigoso e vira aquela coisa da lei da selva. Mas não sou eu que vou levantar a voz pra culpar a esposa que matou o marido que a espancava, muito menos a lamentar a morte do cara.

Digamos que não sou da linha de "tem gente que merece morrer", e sim mais "tem gente que não merece viver".
Parece que não tem diferença, mas tem.

E a série é toda sobre isso. Sobre como Dexter é bom namorado, afora as ausências estranhas. Sobre como ele é um ótimo irmão, como ele sempre está lá pra ajudar Debra, como ele é excelente perito e ajuda os policiais a investigarem os crimes com extrema precisão. Dexter é um cara que paga seus impostos e não faz mal à sociedade (o meio ambiente que é outra história, considerando a quantidade de plástico que ele gasta a cada crime). Mas ele é serial killer. Ok, ele só mata assassinos. Mas e daí? O nosso código de ética não devia estar gritando para lembrar que nem mesmo Dexter Morgan, do alto de seu carisma, tem direito de matar um assassino, pois assim ele se torna um assassino? Mas, então, porque torcemos por ele? Porque passamos a acompanhar a série com medo de que ele seja descoberto?

Porque torcemos até mesmo para que ele consiga mudar o rumo das investigações na polícia para que o assassino esteja na sua mesa, e não atrás das celas, como manda a justiça?

Bem, eu sempre tive essa idéia de que as pessoas, em geral, não são boas. De que se um Kira (do mangá/anime Death Note) aparecesse, todo mundo ia era amar a idéia e seguir bonitinho. Ainda mais no Brasil que os conceitos de justiça, verdade e ética estão tão distorcidos que pessoas querem cortar cabeça de todo mundo, mas ninguém tem coragem de começar qualquer coisa assim. Mas se começarem, duvido muito que nosso povo ia reagir contra. Aquela atitude bem "não sou a favor, mas também não vou ali tirar a faca de sua mão". Bem eu se você resolver matar um estuprador na minha frente. Acho que é assim que a gente age em relação à Dexter. Não somos a favor. Não achamos certo que ele faça o que faz - sequestrar as vítimas, prendê-las numa mesa, matá-las, esquartejá-las e jogar seus corpos no mar.

Mas ninguém vai lá tirar as armas de Dexter. Dexter é visto meio como o mal que galera precisa, porque alguém "precisa tirar esse lixo da sociedade", nas definições do próprio Dexter. Ele sabe disso. Ele sabe muito bem que o que ele faz é crime e que é considerado errado do ponto de vista moral, ético e tudo o mais. Ele se considera um monstro em face de ser humano e não se aproxima verdadeiramente de ninguém, porque sabe que ninguém aguenta viver com essa verdade, com esse lobo em pele de cordeiro. Mas ele sabe muito bem que mesmo que todo mundo se horrorize com a engenhosidade e a frieza dos assassinatos, lá no íntimo, ninguém vai ser contra.

Se ele, um dia, for ao tribunal, é capaz do júri inteiro votar a favor dele. Porque galera tem essa noção na cabeça: de que tem gente que precisa morrer. Negócio é que ninguém quer sujar as mãos com isso.
E eu dou um gole do meu toddynho se (caso seja descoberto etc etc etc e depois morrer) ele não for considerado herói americano da pátria e sua casa virar ponto de peregrinação pra uma galerinha muito louca que resolver fazer justiça com as próprias mãos.



Dexter não tem sentimentos. Mas nós sentimos o suficiente por ele e por nós ♥

Os sentimentos de Dexter são todos construídos. Como o pai dele passou vida toda instruindo o cara a ser gente, ele tem mais ou menos uma noção de como agir. Ele sabe que levar donuts pra todos no trabalho é uma atitude vista como amigável. Ele não invade o espaço dos colegas de trabalho, nem da irmã, nem de Rita e ninguém invade o dele. Ele pode não ser muito expansivo ou emocional, mas isso é visto somente como uma atitude mais reservada. Algo da personalidade, e não como o que realmente é: Dexter é incapaz de sentir emoções. Mas ninguém percebe isso.

Só que, por viver tanto tempo aprendendo a ser normal, Dexter aprendeu a simular emoções. Ele tem o que os especialistas chamam de proto-emoções que seriam mais respostas primitivas: sexo, frustração, etc. O que realmente diferencia são as nuances: compaixão, amor, medo. E Dexter aprendeu a simular isso. Conseguiu cultivar uma afeição com a irmã e com a Rita, estabelecendo laços duradouros que ele acaba descobrindo, ao longo da série, que são vitais para que ele mantenha a normalidade. Ainda mais: de vez em quando, ele se questiona se é possível não ter mais esse impulso que o impele a matar. Se ele, um dia, será normal. Já notamos, então, que há alguma coisa em Dexter que ainda é humano, que o permite manter tais laços e conseguir simular algumas emoções, aprimorando seu disfarce - e às vezes até mesmo se enganando.

E é legal quando ele consegue cultivar algo assim. Mesmo que seja incompleto, mesmo que seja mais primitivo do que qualquer outra coisa, é legal ver Dexter se esforçando pra manter uma boa relação com as pessoas ao redor, mesmo que seja por conveniência, mais por si do que por outros. É legal quando ele atende à ligações de Debra no meio da noite, tendo uma vítima ainda acordada prestes a morrer, e ele resolve que vai apressar o serviço pra ajudar a irmã em alguma coisa. Ele não ganharia nada com isso, tecnicamente falando, mas ele sabe que é melhor. E a série vai rolando e é realmente bom ver Dexter progredindo em suas relações humanas, chegando até mesmo a confundir o espectador que esquece que ele é, antes de tudo, um psicopata.

E aqui acabo.



Isso rendeu umas 8 páginas no Word. Tô nem aí que ninguém vai ler esse troço gigante. Serviu para eu mesma entender porquê eu gosto tanto da série, e isso vale mais do que qualquer coisa.

quinta-feira, 8 de março de 2012

hoje as rosas sangram

Parem de mentir.

De que adianta 24 horas se essas 24 horas não ensinarão a vocês que não tinham que existir? Quando é que vocês, vocês que distribuem rosas e parabéns, vão entender que 8 de março era para passar em branco? Que 8 de março só existe porque, assim como as datas das outras minorias, precisamos ser lembradas uma vez por ano? E nem lembradas nós somos. Em 1917, operárias russas saíram dos seus postos de trabalho e foram às ruas para reinvindicar e exigir seus direitos: paz (Rússia estava em guerra), pão (Rússia passava fome), liberdade (Rússia tinha um governo tirano). Era 8 de março.

Dia 23 de março, mais de cem operárias morreram em um incêndio numa fábrica têxtil.

Vamos então para o nosso querido, conhecido e estimado show de horrores.

Dia 29 de fevereiro de 2012: o marido de Fabiana a mata com tiros. Guarulhos, São Paulo.
Dia 28 de fevereiro de 2012: um garoto de dez anos morre porque tentou proteger a mãe dele das agressões. Seu padrasto lhe desferiu uma facada no toráx. Crato, Pernambuco.
Dia 28 de fevereiro de 2012: Ana tinha 17 anos e não quis namorar um cara. Ele lhe matou. Com um facão. Maraú, Bahia.
Dia 27 de fevereiro de 2012: Adrielly morre aos 16 anos depois de passar 6 dias internada. Seu namorado a espancou usando chutes, socos e cadeiradas. Valadares, Minas Gerais.
Dia 26 de fevereiro de 2012: Marta foi estuprada e morta. 16 anos. Manaus, Amazonas.
Dia 22 de fevereiro de 2012: Ana reage a um homem que a assediou e disse que se ela não fosse dele, não seria de mais ninguém. Morre com um tiro no rosto. Nova Iguaçu, Baixada Fluminense.
Dia 22 de fevereiro de 2012: Edenilza tinha 27 anos quando seu companheiro a asfixiou com um travesseiro. Guaranhuns, Pernambuco.
Dia 20 de fevereiro de 2012: ela tinha 54 anos morreu de tanto ser espancada pelo marido. Campina Grande, Paraíba.
Dia 18 de fevereiro de 2012: 64 anos. Foi estuprada e morta dentro de casa. Contagem, Minas Gerais.
Dia 12 de fevereiro de 2012: Isabela e Michelle foram entregues como "presentes" para serem estupradas em uma festa de aniversário. Ao reagirem, foram assassinadas. Havia dez homens na festa e mais três mulheres estupradas. Queimadas, Paraíba.
Dia 05 de fevereiro de 2012: Andréia morre com 11 facadas do marido e a orelha arrancada pelo mesmo. São Cristovão, Sergipe.

Basta.

Não quero parabéns. Não quero rosas. Não quero esses estúpidos poemas de como somos amadas e respeitadas e admiradas por termos a ternura, a doçura, a firmeza. Não quero que me digam que eu sou bela e que consigo dar conta de tudo por usar salto alto. Eu só quero Fabiana viva. Eu quero Ana viva, Adrielly, Marta, a outra Ana, Edenilza, Isabela, Michelle, Andréia. Eu quero que todas essas tivessem vivido. Eu quero que Eloá nunca tivesse que passar pelo que passou. Eu quero Eliza Samudio viva. Eu quero que Renata, do BBB, nunca tivesse que sair do programa só porque ficou com três caras. Eu quero que as pessoas olhem para Monique e entendam que estupro também acontece com pessoas inconscientes. Eu quero tanta coisa que nem devia ser tanta coisa.

Eu quero é não sentir medo de ser estuprada a cada vez que ando na rua. Eu quero é não ter tido que ouvir "só há vagas para homens" quando liguei para o CIEE. E isso sou eu, que cresci em uma família que nunca fez distinção nas tarefas de casa de acordo com o gênero, eu que cresci ouvindo que as mulheres eram tão competentes quanto homens e que eu deveria era pensar em meu futuro, em estudar, em trabalhar. Eu nunca cresci ouvindo que minha função era casar e ter filhos, ao contrário. Minha mãe me ensinou que eu poderia ser qualquer coisa, eu só precisava desejar aquilo e me esforçar. E mesmo assim, nem eu protegida da educação machista, sou imune a essas coisas. Continuo sentindo os efeitos de uma sociedade inteira que acha que me homenagear todo dia 8 de março com uma estúpida rosa é fazer algo a meu respeito.

Dispenso.
Quando vocês pararem de zombar da Maria da Penha, quando vocês perceberem que todas essas mortes são apenas um dos sintomas de uma sociedade doente, quando vocês começarem a dispensar os poeminhas e pensarem em mulheres nos outros 364 dias, quem sabe, a situação mude. Quando souberem o que é feminismo, quando pararem de falar merda, quando começarem a ver mulher como gente (e não como objeto sexual / maria amélia do lar), quem sabe, as coisas mudem. Até lá, enfiem essas rosas onde o sol não bate. Não faço questão de presentes dados só pela data.

*fonte: Machismo Mata

quarta-feira, 7 de março de 2012

wallpaper versão pré-lançamento

Ultimamente, tô com mania louca de fazer wallpapers. Talvez seja pelo estágio que comecei que me fez ver que preciso urgentemente melhorar no Photoshop. Fazer wallpapers meio que me faz treinar várias coisas.

Aí como não sei muito bem o que fazer com eles, então deixarei liberado pra download. Não que vocês queiram. Mas sei lá, vai que queiram lol.

Para baixar:
• clique aqui no meu álbum do Picasa e escolha a imagem.
• em Ações, escolha Fazer download da foto.

O tamanho original de todos eles são 1440 x 900.

Jogos Vorazes
(fiz o favor de cortar Katniss da foto sem querer risos)



Clarice Lispector



Effie, de Jogos Vorazes



Sulli, da F(X)