segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

novas direções, novos ares.

Não, isso não é 'meu retorno'. Não sei quantas pessoas lerão isso, já que Pernície se tornou um blog tão desatualizado que acredito que a maioria das pessoas tenham desistido de vir aqui e verem o meu novo post ou algo do tipo. Estive ensaiando um retorno durante as últimas semanas, mas sem entusiasmo algum. Escrever todo dia é algo que cansa e quase impossível, e eu estou me tornando uma pessoa muito diferente da que criou esse blog. Acredito que estou me tornando quem eu queria ser durante anos, amadurecendo com as experiências, entendendo e indo em frente. Aprendi a superar muitas coisas e eu simplesmente estou ficando mais animada.

2010 foi um ano surreal, assustador, fantástico e maravilhoso. Foi um ano que eu não comecei bem, porque eu estava muito frustrada e me sentindo péssima por ter repetido o 2º ano. Para quem sempre quis estar um passo à frente, para quem é considerado um exemplo pela inteligência, algo assim é simplesmente um choque. Mas não foi um choque para mim, é como se eu soubesse que isso iria acontecer. Mesmo assim fiquei me sentindo muito abalada e triste, e eu estava realmente chateada por ter que me separar de amigos que eu tinha feito, ficando para trás. Mas, sabe, foi bom. Eu entendi que não era sempre perfeita e eu não tinha toda a sorte do mundo para me salvar do pior. E eu meio que aprendi a ser sociável, fazendo ainda mais amigos. Eu aprendi tantas coisas esse ano que nem sei como começar ou dizer.

E eu espero continuar com isso nos anos seguintes. Espero poder separar as amizades que eu realmente considero das aquelas que tenho apenas por ter, porque o distanciamento e a frieza tomaram conta por tanto tempo que não há mais chance de retorno. Eu espero aprender mais coisas como tocar teclado e falar inglês, e eu espero adquirir mais cultura, mais sabedoria, mais conhecimento, mais empenho, todas essas coisas que as pessoas querem. Eu vou precisar me tornar mais focada e organizada nesse ano, porque já tenho tarefas que vão exigir isso de mim. E isso está relacionado com a escola e atividades fora da escola como esse blog.

O blog. É sobre isso que preciso conversar.

Eu quero continuar com o Pernície. Eu o considero demais, foi o primeiro blog que foi para frente, o primeiro a ter realmente leitores, blog mesmo do tipo que compete em competições como Blorkutando. Mas eu me pergunto se o rumo que eu estava levando o blog estava bom. Os posts estavam ficando curtos e chatos, absolutamente nada de interessante, sem sal nem pimenta. E eu fico cansada quando não tem polêmica para agitar as coisas. Então por isso que ele está em obras. Porque eu estou delineando um novo visual, que seja mais compatível com os rumos que eu quero dar. Eu quero que esse blog seja apenas um blog de opiniões, e eu quero que essas opiniões tenham um foco: ok, eu gosto de falar de tudo que é coisa, mas eu quero focar em cultura, em geral. Eu quero falar de filmes - fazendo análises, quero falar de álbuns - e lamento por quem não gosta do gênero, mas nesse caso meu foco será pop e eu quero, também, falar de feminismo em geral. Eu estou francamente cansada de ficar calada simplesmente porque estou com preguiça demais de dar murro em ponta de faca. Tem muitos blogueiros ignorantes que se acham no direito de estigmatizarem as mulheres como se elas só falassem de maquiagem e desfiles de moda, e esquecem completamente que temos o direito de ser tão respeitadas quanto eles. E não vou mais aceitar essa situação.

Aliás essa é uma das maiores mudanças em mim que vem se concretizando nos últimos anos: eu não estou mais disposta a abaixar a cabeça e aceitar simplesmente que as pessoas tenham opiniões diferentes sobre as minhas crenças, minhas opiniões, minhas condições. Eu exijo respeito por ser uma mulher, ser atéia, ser uma cidadã no fim das contas. Não vou simplesmente engolir essa merda de "respeito por todas as religiões" quando essas mesmas pessoas não perdem a chance de falarem mal dos ateus, e não vou mais aceitar cristãos e homens fazendo papel de vítimas como se fossem eles os discriminados pela sociedade. Estou ficando muito mais agressiva e não vou deixar ninguém tirar isso de mim. Eu não sou uma pessoa que vai perdoar piadinhas grosseiras sob nenhum argumento, nem tolero machistas, homofóbicos, religiosos fanáticos. Meu blog nunca teve muita polêmica, mas agora vai ter - eu não vou mais ficar cheia de dedos para não ofender ninguém.

Eu não entendo porque minhas opiniões tenham que ser invalidadas em cada debate possível da internet e eu simplesmente não posso falar nisso, senão sou chamada de feminista radical, agressiva e monstruosa. É uma coisa sem sentido.

Então nesse novo rumo que vou dar ao blog, a dica é: se você quer continuar lendo meu blog, leia. Eu serei simpática com meus antigos e novos leitores como sempre fui. Eu continuarei postando a partir de janeiro, mas o tom vai ser ligeiramente mais baixo, venenoso e irônico. Fiquem avisados.


segunda-feira, 8 de novembro de 2010

a perfeição como uma meta

Eu terminei de ler o livro "Perfeitos" hoje. É o segundo de uma série que ainda não sei direito que nome tem, acho que é simplesmente Feios (confesso que odeio quando o nome da série é o mesmo que o título do primeiro livro. Porque não dá um nome diferenciado tipo Harry Potter ou A Mediadora?). Apesar da série ter quatro livros, eu já fiquei tonta de dúvidas, concepções e de profunda filosofia. Não porque o livro seja filosófico. Quer dizer, ele é. Acontece que sabe aquele livro que você devora na hora enquanto sua cabeça surta?

Pois é.

A premissa é quase igual à do filme Equilibrium... e a idéia-chave da coisa me faz lembrar também aquele filme chamado Os Invasores, o remake com a Nicole Kidman. A diferença é que em Equilibrium e Os Invasores, o ser humano é falho porque sente. Em Feios não: a humanidade é falha porque está fadada à isso. Enquanto ela tiver diferenças, imperfeições, conflitos, ela vai brigar. Então eles corrigem as pessoas por fora - através de cirurgias plásticas que são extremamente dolorosas e invasivas que envolvem desde corrigir o narizinho torto até remodelar os ossos - e por dentro que envolve, basicamente, manipular o cérebro. Como pode perceber, a série é ficção científica que acontece, pelos meus cálculos, daqui a uns três séculos. Eles sempre falam de duzentos anos atrás, algo do tipo. E eu imagino que em cem anos a gente teria aquele tecnologia e daria tempo da catástrofe acontecer. Definitivamente é um daqueles livros que te faz pensar "céus, porque não pensei nisso antes?" Pois é, o cara pensou e escreveu.

Tally, a personagem principal, é uma garota que vive programada para aquele mundo. Ela quer ser "perfeita", designação para todas as pessoas que passaram pela cirurgia. Devo dizer que fiquei pensando em um monte de coisa. Primeiro, eu gostei daquele mundo. Não foi quando eu assisti Equilibrium e ganhei repulsa de imediato porque era proibido escutar música e coisas do tipo, porque eram coisas que favoreciam a emoção, o sentimentalismo e tal. Em Feios, ninguém tem isso. A arte existe, é valorizada. O negócio não é a falta de sentimento. Mas sim um sentimento falso, como alguém que vive dia após dia procurando estar feliz e está feliz só porque essa é a ordem. Eu consigo imaginar colocando fogo no mundo de Equilibrium: ninguém gosta de ser forçado a tomar uma pílula todo santo dia. Ninguém gosta de viver em cidades que parecem bases militares. Mas aposto que a maioria das pessoas viveriam no mundo de Feios numa boa, mesmo com as lesões cerebrais e tudo o mais. Aposto que muitas pessoas abririam mão da individualidade humana se o mundo proposto fosse aquele: festas a noite toda, diversão garantida, nenhuma conta para pagar. E não é como se você fosse igual a todo mundo... é como se todo mundo fosse lindo e bêbado. É difícil ficar triste ou com raiva.

Eu estou, literalmente, na metade. Ainda não li Especiais e Extras. Mas eu fico pensando como será o final. Como podemos destruir uma sociedade sem oferecer uma alternativa em troca? O que poderíamos oferecer em troca desse mundo perfeito da série? Tally não pode ser uma agente contra o sistema, ela faz parte dele assim como eu faço parte da sociedade que vivo. Eu sou uma pessoa feminista em uma sociedade machista, anti-clerical em uma sociedade cristã, mas eu não estou à margem da sociedade. Eu vivo dentro dela como um câncer. Talvez essa seja a melhor definição para Tally Youngblood: ela é como um câncer cheio de pensamentos conflituosos dentro do mundo perfeito. Ela é como uma bomba que vai explodir a qualquer momento e atingir a todos que ama e odeia.

Apesar do livro ser todo cheio de tecnologia, não falta nenhuma emoção ou perfil psicológico. Não existe impessoalidade, aquela coisa chata de estarmos lendo uma coisa técnica, vazia, repleta de clichês científicos e bla bla bla. As relações entre as pessoas continuam importantíssimas, e as personalidades individuais trazem a graça. Acho que é a única obra de ficção científica que consigo ver completo sentido, que posso imaginar a nossa sociedade caminhando para aquele rumo. É bem inventivo como pranchas voadoras, nanoestruturas que destróem células cerebrais, buracos que cospem tudo o que você quiser, ausência de qualquer doença. Mas é real, é algo que você pode visualizar no futuro. Controle de natalidade, pessoas confinadas em reservas para estudos de antropologia, manipulações cerebrais, jogos de poder - é absolutamente tudo humano.

Porque não importa o quão cibernética seja a série... ela continua fantasticamente humana.


/Não preciso falar nada sobre meu abandono desse blog? Bem, blog é um hábito que você precisa cultivar. É preciso paciência, inspiração, tempo. E quando tenho um, não tenho outro. Nem tenho o que dizer...

sábado, 30 de outubro de 2010

banalidades sobre nada

Saiu o novo videoclipe de Katy Perry, Fireworks.
Eu não gosto muito da cantora, a acho meio irritante. Mas devo confessar: eu gostei do novo clipe. Eu o achei animador, alegre, para cima, como bons clipes conseguem fazer. Eu gostei dos fogos de artifício saindo do peito de todo mundo, achei engraçado. Gostei da fotografia, da atuação, do tom, das tomadas. Em suma achei que foi o melhor videoclipe de Katy Perry.

Mas eu queria falar que eu ando meio distante do blog. Acontece que estou muito voltada para a música. Não em termos de fazer, mas em sentir, experimentar, ouvir. Eu me aprofundo cada vez mais em pop, em arte, em coisas visuais. Eu não sei exatamente o que eu quero, mas eu sei que quero arrumar um jeito de unir escrita com pop, palavras com trilha sonora. Não apenas músicas, mas algo além. Quero fazer com que as pessoas sintam algo mais poderoso do que um livro ou uma música, mas não sou poeta para isso. Eu quero ser artista.

Um novo conceito.
Uma outra arte.

Enfim, estou meio confusa. Mas, por favor, é de madrugada e eu postando besteiras.



E aí, vocês acham que Fergie ficou bem de "rockstar" junto com Slash? Acho que ela sensualizou muito! -s

sábado, 23 de outubro de 2010

ache onde está o erro.

Perdão, eu não me contive.


Após uma semana de conturbados episódios envolvendo as militâncias dos dois principais partidos que apoiam os candidatos à presidência de República, a Juventude do PSDB e de partidos aliados reuniu na tarde sábado (23) cerca de mil jovens militantes em uma manifestação para apoiar a candidatura do tucano José Serra.

Ao longo das quase duas horas de caminhada ao redor da Praça Charles Miller, além das bandeiras, os jovens erguiam faixas com pedidos de votos e mensagens contra o PT. Com rostos pintados de verde e amarelo, a maioria dos jovens usava roupas azuis e capacetes com a palavra "paz" inscrita - em referência irônica ao ato de agressão sofrido pelo presidenciável tucano, José Serra, na última quarta-feira (20), no Rio de Janeiro, quando um objeto foi atirado em sua cabeça.

Ok, violência é condenável de qualquer jeito. Eu sou totalmente contra o uso da agressão física em qualquer caso, e por mais que meu coração peça para dar um chute em todos os safados, eu sou contra que isso seja posto em prática. Repudio veementente que qualquer coisa seja atirada em qualquer pessoa e isso inclui rolos de fita crepe, de fita durex e bolinhas de papel. Sempre fui contra bullying e o máximo que fiz foi jogar um aviãozinha de papel para meu primo pegar, numa singela brincadeira infantil. Sem agressão.

Mas a palhaçada que Serra fez em cima, que a Globo fez em cima foi tão absurda, tão inesperada que superou todos os meus sentimentos pacíficos. Porque é inquestionável que Serra&Globo fez alarde em cima disso e a internet inteira sabe que a Globo mente. Pena que não tem nariz de Pinóquio para todo mundo sacar, mas qual é? Quer discutir com SBT quando a SBT gravou tudo e a Globo não? Quer comparar imagens amadoras de um celular com as câmeras profissionais? A SBT também manipula como qualquer outra emissora. Mas nessa história a Globo pagou papel de ridícula, ainda mais ao contratar um perito que constatou que é um rolo de fita durex. Algo do tipo (e aquele negócio sequer aparece no frame interior. Porque tudo que atinge a cabeça de alguém tem uma trajetória de ida e volta. Aquele negócio não teve!). Aquele negócio, seja qual for, desafiou as leis da física!

"Nós decidimos fazer essa caminhada, com ajuda do PSDB, para deixar o recado: chega de violência, a gente quer um Brasil melhor. Nós estamos a favor da democracia", defendem as estudantes do curso de Relações Internacionais da FAAP, Eduarda Ramos e Nicole Giliam, ambas de 20 anos.

Portando bandeiras e discursando para os jovens, a filha do ex-candidato ao Senado pelo PSDB, Orestes Quércia, Andrea Quércia explicou que o objetivo do evento foi mostrar o engajamento dos jovens na política. "Queremos mostrar que nós fazemos uma manifestação pacífica e não tratamos os nossos concorrentes como inimigos de morte, como acontece com a militância do PT", declarou.

Um carro de som animava militantes e em certo momento chamou atenção para um cartaz, considerado dos mais criativos, com o pedido: "queime uma bruxa no dia 31 de outubro", referindo-se ao último dia do mês, em que além de se escolher o novo presidente do País, será comemorado o Dia das Bruxas.

Também participava da manifestação o advogado formado pela USP Renan Ferreira dos Santos que fazia propaganda de um jingle que compôs, "Vou te abortar Dilma vez". O clipe da música foi colocado no youtube e atingiu cerca de 1,5 mil exibições.

A incoerência é gritante. E só reaça tapado não consegue enxergar que 'tratar concorrente como inimigo' significa exatamente tratar o concorrente como uma bruxa que deve ser queimada ou como alguém que deveria ser abortado. O vídeo desse singelo single desses tucanos com amor no coração.



Não é fantástico como eles são cheios de amor e outros sentimentos cristãos para dar?

"O diferencial da nossa manifestação é ser civil e partidária. Todo mundo que está aqui está participando de maneira espontânea e não contratada", afirmou o presidente da Juventude do PPS, Peterson Ruan. "No PT, eles pagam para as pessoas participarem. Aqui nós temos uma sociedade civil independente que participa de forma voluntária. No PT, quem vai às manifestações é a gente aparelhada pelo Estado, ligadas aos sindicatos", acrescentou Ruan.

O senador eleito pelo PSDB em São Paulo, Aloysio Nunes, também esteve presente ao longo da passeata e parou para cumprimentar lideranças presentes. Enquanto caminhava, pessoas gritavam: "Aloysio, põe o capacete que sempre tem um petista por perto".

Tá bom. PT contrata todo mundo. Ligados aos sindicatos. Tá bom. Porque, que eu saiba, PT marcou pela militância. O clássico de ter gente que ia lá, conversava, fazia boca de urna e não recebia um centavo pelo trabalho. Todo mundo que eu conheço que milita ou é a favor de PT (sem ser militante, de fato) não recebe grana pra falar bem de Lula. 80% do Brasil, de acordo com essas pessoas, seriam pagas pelo PT para dizerem que sim, o governo de Lula é ótimo/bom (fonte: G1). Ah, claro, as pesquisas são pagas. Elas só não são pagas quando apontam vitória para Serra. Ou melhor ainda, quando a rejeição ao governo Lula aumenta!

A mulher do senador eleito, Gisele Sayeg Ferreira Nunes, ao contrário do tucano, que não quis falar com a imprensa, discursou ao final da caminhada. "O Aloysio é a prova viva de que as pesquisas não refletem a realidade. É impossível o país trocar uma pessoa honrada e honesta por alguém que surgiu do nada. Não vamos permitir que isso aconteça", afirmou.

Sério, eu acho que quem diz, sinceramente, que Serra é uma pessoa honesta e honrada tem grande potencial para ser humorista. MUITO potencial.
E adoro quando falam do passado obscuro de Dilma... ela está no governo de Lula desde 2001. Se eles não conhecem o quadro administrativo de Lula, então qual moral eles tem para falar que conhecem de política?

E o bônus fica com a foto.

Eles estão segurando a... revista VEJA. Ótima maneira de divulgar uma revista imparcial, neutra e cumpridora do dever sagrado que é nos informar. Também nos omite alguns detalhes e manipula outros. Mas e daí? Eles estão super certos, super informados e super coerentes, ok?




Matéria aqui - obrigada, @lolaescreva, pelo link.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

foi um choque de realidade.

Aquelas casas eram lindas.
Havia uma que lembrava uma mansão vitoriana. Diz-se que as telhas são importadas. E era absolutamente fantástica, linda, maravilhosa. As ruas eram limpas, e havia verde, muito verde. E aquela que parecia ser uma casa de praia, com um jardim enorme, com brinquedos e tudo o mais? As casas estavam uma atrás da outra, todas grandes, espaçosas, confortáveis, lindas, dignas de uma novela da Globo. Qualquer pessoa ali ficaria simplesmente pasmo com tanta riqueza e beleza. Porém quase todas as casas tinham muro e poucas eram exceção, sendo uma dessas a mais linda: com flores, as portas de vidro, a cor marfim, a casa transpírava elegância. Todas essas casas estavam dentro de um condomínio murado com porteiro e cerca elétrica. Você tinha que se justificar diante do porteiro, respondendo para quê entrar naquele pequeno paraíso.

Aquele condomínio foi construído quando a cidade estava no apogeu do café, para abrigar a burguesia local. Para separar os ricos dos pobres. E a coisa mais absurda é visitar isso depois de passar por bairros pobres, com casas pequenas, doadas pela Prefeitura que lutou para conseguir comprar aqueles terrenos - porque os herdeiros não queriam que o terreno fosse vendido para ser feito casas populares. Se fosse para ser feito um Greenville da vida, venderiam numa boa como já fizeram. Mas não, foi para pessoas carentes que mal tinham o que comer. Você andar pela cidade, visitar lugares que mal tem saneamento básico e logo em seguida visitar um condomínio com essas casas tão luxuosas, com tudo isso... é um choque.

Foi um choque e eu não consigo deixar de pensar nisso. É uma coisa que me incomoda. Como permitimos viver em uma sociedade que haja tanta desigualdade? Como aceitamos essa situação bizarra? Como aceitamos essa disparidade? Como eu posso me sentir bem olhando a chuva sabendo que há pessoas cujas casas são alagadas por toda essa água, porque não tem infra-estrutura alguma? Eu sabia da desigualdade social. Eu sabia que tinha algo de errado em ter um menininho que chega no ônibus pedindo dinheiro. Sabia que tinha algo de errado se temos miseráveis, se temos violência, se temos todas essas coisas. Eu já sabia disso. Mas acho que até hoje, até ver todas aquelas diferenças, eu nunca tinha realmente percebido, sabe? O quão bem uma pessoa podia viver em comparação com outra. Eu sou rica em comparação com muitas pessoas. Eu tenho internet, TV, roupas, escola, teto pra me proteger. Eu sou uma pessoa privilegiada e nunca fiz nada para merecer isso. Mas sabe, é difícil as pessoas entenderem isso. É difícil entender que tantas pessoas tem tão pouco. E é difícil entender que poucas pessoas tem tanto, sabe?

Eu nunca sentira essa diferença.
Quer dizer, eu sabia. E já tinha sentido quando eu era mais nova e me incomodava profundamente que eu não pudesse fazer uma festa de arromba como as minhas coleguinhas. Mas, assim, aprendi a andar com pessoas com a mesma condição social que eu e estava tudo bem. Nenhum problema. Ricos nunca me incomodaram profundamente, e já senti inveja sim, mas nunca foi algo tão cortante quanto hoje. Porque foi tudo isso: foi inveja, deslumbramento, repulsa, revolta, choque. Não sei o que mais me afrontou: se foram as casas lindas do condomínio ou se foi ver a rua que divide as casas populares do Greenville. Porque de um lado são as casas populares e elas não são as coisinhas lindinhas que aparecem em filmes. São pequenas, muitas sequer são pintadas, com murinhos de tijolo, e até chão de terra. São fileiras e fileiras de casas nesse estilo, até perder de vista. São centenas de pessoas vivendo em condições desanimadoras. E do outro lado da rua, o condomínio murado, com cerca elétrica e mal podemos enxergar as casas dentro. O muro é a divisão. É como fosse uma afronta às pessoas carentes que moram ali: nós nos protegemos de vocês, nós não queremos falar com vocês, nós ficaremos aqui ao seu lado, mas não pegaremos ônibus com você. E as pessoas carentes só fazem jogar o lixo junto ao muro, onde há várias flores. Seria somente por falta de educação? Não há muito lixo nas calçadas dos pobres, devo dizer. Mas há lixo junto ao muro dos ricos.

Como eu devo enxergar isso? Por que eu ainda estou meio perdida. Eu sempre fico desde jeito quando me confronto com os absurdos da sociedade. Sempre fico ainda mais chocada quando escuto pessoas falarem 'sustentarem vagabundos' quando se referem aos pobres. Como as pessoas podem reagir com tanto egoísmo, com tanto ego quando se deparam que, sim, elas são privilegiadas? Elas agem como se todos tivessem as mesmas oportunidades na vida e isso não é verdade. Como uma pessoa que não tem estímulo algum de ninguém pode disputar com alguém que recebe tudo na mão? Essas pessoas não podem parar um ano da vida delas para estudarem e recuperarem o atraso e assim irem para a universidade. Elas não podem simplesmente se mudarem de casa, porque quem vai sustentá-las? Como elas vão estudar em uma universidade que exija tempo integral? Qual vai ser o custo disso? Muitas pessoas pensam que vale a pena sempre, que qualquer sacrifício é válido. Mas essas pessoas nunca tiveram que optar entre estudar e trabalhar e sempre vão ter pais para ajudar e apoiar. Às vezes eu gosto de À Procura da Felicidade, mas o quão aquilo pode se aplicar a qualquer um?

É muito fácil falar que pobre tem que se virar e competir, que persistência é tudo, que o que vale é correr atrás. Muito fácil falar disso quando se tem comida na mesa e nenhum perigo de receber uma ação de despejo. Realmente é fácil achar qualquer coisa.


Não, sem imagens. As únicas imagens que transmitiriam o que quero passar são as fotos tiradas hoje e eu não as tenho no momento.



segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Considerações sobre o debate da Band

Terminei de ver agora o debate político na Band, pela MegaCubo e tudo o mais. Não vi todo, acho que só de metade pra diante e perdi algumas coisas, principalmente as ditas por Serra. Acho a voz dela monotóna e tenho mais dificuldade de fazer leitura labial com ele, então não consigo me concentrar no que ele fala. Então fico entediada e vendo o meu twitter que está muito movimentado ultimamente, confesso. Mas Dilma, em compensação, tem o tipo de voz que me atrai. Só não gosto de quando ela gagueja. Dá impressão de nervosismo, de não saber o que falar, de estar mentindo. Enfim, essa eleição está ficando suja e eu amei o debate de hoje. Eu amei o debate porque vi uma Dilma mais determinada, mais forte, mais agressiva. Por que eu considero que ela não pode ficar Paz e Amor para todo mundo, não quando ela está sendo criticada, ameaçada, xingada e esculhambada pela internet inteira. Por que eu estava frustrada ao vê-la aceitando os interesses evangélicos para ganhar votos.

Ela é a favor, sim, da descriminalização do aborto, mas qual seria o custo se o povo viesse a saber disso? Como é que as pessoas vão votar em alguém sabendo que ela vai apoiar, sim, que aborto seja feito caso a mulher deseje? Porque essas pessoas não vão entender que é um direito da mulher e nem vão entender que morrem mais de dez milhões de mulheres todos os anos por conta de abortos malsucedidos. Elas só querem proteger a vida do feto. E elas também não conseguem entender que o presidente não pode fazer nada. A política do Brasil é dividida entre Legislativo, Executivo e Judiciário e quem cuida dessas leis é o Legislativo. E presidente é cargo executivo. Mesmo se Dilma rodar a baiana, ela não vai poder forçar essa descriminalização do aborto pra ninguém. Então do que essas pessoas estão com medo? Por que elas estão jogando os MEUS direitos como meio para terrorismo eleitoral? É como casamento gay. Por que estão usando isso como fator negativo? Casamento gay é DIREITO HUMANO! É o mínimo que deveríamos ter se queremos ser considerados um país para todos. Brasil é um país de todos, não apenas de um punhado influenciado por igrejas. E que se danem as igrejas.

Eu não tenho respeito algum por elas. Cansei de ficar sempre querendo ser respeitosa, amigável e não entrar em conflitos com religião. Por muito tempo mantive um ateísmo pacífico, de eu aqui e você ali. Mas essas eleições estão ficando o fim da picada. Eu me recuso a ser governada por um bando de igrejas evangélicas que consideram que é direito delas usurparem direitos de outras pessoas. Eu estou tendo os meus direitos como mulher serem pisados e chicoteados, como fossem artimanhas do demônio. Eu estou vendo minha candidata ser fuzilada porque ela defende o direito ao aborto - o meu direito como mulher - e estou vendo que ela está se curvando para não perder a parada. Por que política é assim, é jogo de concessões e alianças que são sujas, nojentas e ordinárias. Eu não gosto de ver como Dilma está usando palavras religiosas em sua propaganda (fé, sagrada) e usando a coisa de mãe de família e tal. Eu sei que ela precisa fazer isso, porque precisa firmar a imagem de que é uma mulher tão legal, mãezona, tipo a tia Dilma que você tem, sabe, que como pode ser possível imaginar que ela é satanista, assassina e bandida? Pois é, eu sei disso, mas odeio, sabe? É chato, eu me sinto desconfortável. Acho que foi por isso que eu amei o debate de hoje. Eu meio que vi uma Dilma de verdade: à solta. Era como se tivessem prendido um leão numa jaula durante um tempo e de repente soltassem. Eu realmente gostei.

É claro que quem odeia Dilma vai dizer que ela gaguejou e tal. Ela gaguejou mesmo. Ela hesitou na hora de falar de Anvisa e acho que teve algum momento que ela falhou, mas acho que foi antes de eu entrar. Mas a maior parte foi Serra recuando. Serra sequer defendeu a esposa dele, quando Dilma retrucou que a esposa dele disse que ela era uma assassina de criancinhas. Sem contar que duvido que o povo vai cair nessa história de que Serra vai estatizar algumas das empresas e fortalecer a Petrobrás. Desde quando isso tem coerência com a ideologia de PSDB? Não tem. Não faz sentido. É como dizer que Bush resolveu distribuir camisinhas nas escolas públicas de ensino médio. Não confere, sabe?



♦ Eu sei, ando sumida, chata, do meu blog. Eu pensei em mudar o visual do blog, mas não quero, acho ele lindo. Eu só preciso ser mais dinâmica, e como me empolguei com Twitter, então vou integrar o blog ao twitter, certo? Substitui meu BBB pela faixinha de Twitter. :)

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

jogando o dado para cima

"É a luxúria, nascida dentre a paixão, que se transforma em ira quando insatisfeita. A luxúria é insaciável, e é um grande demônio. Conheça-a como o inimigo."

Eu não sou nem evangélica, nem católica. Não faço parte do cristianismo, não sigo Jesus e desdenho a Bíblia. Não acredito em pecados.
Mas... eu amo os pecados.

A luxúria que nos envolvem em tabus, a ira que nos prendem à vergonha, a avareza que nos fazem menos populares, o orgulho que sempre é ferido, a gula que nos enchem de culpa, a preguiça que nos anestesia e a inveja, essa sempre mortal, que nos enchem com o sentimento de rancor e inferioridade. São os sentimentos mais humanos, comuns e cheios de verdade que encontramos nas pessoas. São simples e corrosivos, são mortais e singelos. São simplesmente pecados que cometemos o tempo todo, que levamos em frente, que amamos e odiamos. Amamos porque eles nos fazem se sentir mais humanos, odiamos porque eles são o contrário da perfeição. O humano tem horror ao imperfeito. Matamos fetos deformados em inúmeras civilizações, temos nojo de cicatrizes, verrugas, deformações físicas e qualquer coisa que ofenda a absoluta perfeição da simetria. Como não exigir o mesmo dos sentimentos? Mas não somos santos.

Somos como as cópias mortais e fajutas dos deuses de Olimpo.

E eu vivo assim, meio que beirando a linha entre o certo e errado, sempre zombando do céu e temendo o inferno, sempre olhando para cima e caindo embaixo. E ora eu peco sem culpa, sem sentir remorsos, com o sorriso de quem ama a liberdade. E ora eu junto as mãos em uma reza silenciosa à mim mesma, lembrando que eu não serei tão invejosa, tão preguiçosa, tão avarenta. Prometo a mim mesma que serei uma pessoa melhor e sempre caio no mesmo erro, como se jogasse um jogo de azar e não aprendesse que a roleta nunca irá parar naquele número. Às vezes me imagino como se estivesse em um cassino, com o batom mais vermelho do mundo, e jogasse os dados para decidir o meu destino. Eu decido qual pecado vou cometer naquele dia. E qual virtude que vou ter para balancear as contas. Então, perdão, não posso escolher um somente: eu sou uma garota pecaminosa. Sou alguém que gostaria de ser rica para simplesmente jogar pratos contra a parede sem me preocupar em pagar a conta depois. Também sou alguém que cobiça a conta bancária alheia. Sou alguém que consegue ser generosa e contar piadas sujas demais para uma dama, que grita com a parede de ódio e abraçar outros. Não posso me encaixar em categorias, porque pertenço a todas elas.

Qual é o limite entre o certo e errado? Qual é o ponto que nos sentimos culpados? Qual é o ponto que passa a ser fanatismo? O que é pecar? É ter três amantes? É ter ódio de alguém o suficiente para desejar parti-la ao meio? É sentir no peito aquela invejazinha da amiga que conseguiu passar no vestibular e você não? É não querer emprestar dinheiro para o seu amigo? Qual é o ponto que a nossa moralidade deixa de ser ética e passa a ser distorcida, patrulha, falso moralismo? Qual é o problema com casais bígamos, contanto que eles sejam felizes? Qual é o desvio moral em gays vivendo juntos e em fetiches realizados em lugares feitos para isso? Eles são tão pecadores que não irão para o Reino dos Céus ainda que sejam bons, honestos e que tenham tratado com respeito todas as pessoas que encontraram no caminho? Uma prostituta merece menos respeito do que eu? Uma freira merece mais respeito que eu? Somos todas iguais perante aos olhos divinos ou não? E quando eu quero tanto ser rica feito Madonna estou pecando tão horrivelmente? Ou todos os meus pecados e minhas virtudes são anotadas e depois, quando eu morrer, será feita uma balança e decidiremos qual é o meu destino? Seria mais fácil jogar um dado para cima.

Se der número par, sou santa, número ímpar, sou pecaminosa. Muito fácil de se decidir.


#Texto feito para a Blorkutando. Há quanto tempo!
E vazei, vou ver o debate!

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Contagem regressiva!

Hoje, depois de uma enrolação tremenda, peguei meu título de eleitor! Isso quer dizer que eu vou votar pela primeira vez na vida, e eu fico tão feliz de votar por opção. É algo que me empolga sinceramente, como se eu fosse uma criancinha. Eu sempre quis votar desde 2002 quando houve Lula x Serra e imediatamente assumi que eu era Lula. Eu só tinha nove anos, mas o simples gosto de ficar estampando adesivos com LULA 13 na pasta do colégio e discutindo com meus colegas que eram Serra era algo que me animava muito. Eu amava - e ainda amo - todas as piadinhas políticas, tipo Marina planta, Serra serra, sabe? São idiotas, mas me animavam muito.

Volta e meia eu falo que era melhor jogar uma bomba na Câmara de Deputados, Senado, Gabinete, tudo junto. Marcaria uma reunião sobre reajuste de salário, todo mundo aparecera, prenderia todo mundo e baubau. Jogava uma bomba a la EUA ou ainda encarnava Osama Bin Laden e fazia um avião cheio de gente que não coube no local se explodir. A imagem na minha cabeça de os políticos pagando o preço de tamanha corrupção é linda. É bem violento, eu sei, mas quando eu estou com raiva de alguma coisa, eu sempre imagino essa cena. É uma solução drástica, dramática e que faria o mundo inteiro ficar em choque. Ultimamente estou é torcendo que Dilma vença e coloque mesmo a ditadura socialista que a Veja e cia tá com medo. Quem sabe, assim, a Veja sabe o que é uma ditadura de verdade (pra quem chama a ditadura militar de revolução de 64...). Mas é só coisa da minha cabeça. Não que eu realmente vá fazer isso. Ou mesmo pularia de alegria se isso acontecesse.
Mas ímpetos homicidas todo mundo tem e eu não sou exceção!

Não sei em quem vou votar.

Estou tentada a votar em Dilma. Mas não tenho certeza. O fato de eu ter totalmente apoiado Lula aos 9 anos de idade não quer dizer nada: de lá pra cá eu consumi uma quantidade absurda de Veja, assumi certo ódio e decepção com o PT durante quatro anos (embora eu nunca admitisse tal coisa.) e ainda que continuasse defendendo Lula na sua reeleição, eu não estava satisfeita com ele. Não consigo ter essa sensação de apoiar cem por cento uma pessoa ou um partido. Eu concordo, apóio candidatos, mas não estou totalmente satisfeita. O PT ter precisado se aliar com Sarney e Collor é uma coisa que me desagrada absurdamente. Não gosto da idéia de Collor no poder, tinha que ser cassado de vez! Como um cara que confisca a poupança de milhares de brasileiros simplesmente volta ao poder? Como é que as pessoas VOTAM nele? Isso é algo que foge da minha compreensão.

E sabe o que está piorando com tudo isso: o preconceito contra nordestino. Cansei de tentar defender minha região: não, nós não somos os culpados pelo Brasil tá na miséria. Não, não somos sugadores do trabalho do Sudeste e Sul. Não, não votamos todos em Collor: somente o estado de Alagoas e ponto final. O Nordeste tem NOVE estados, porque nos julgam pelo erro de UM estado? É como julgar o Brasil inteiro porque 54% tá preferindo Dilma. Não, não queremos viver na mamata, no bem-bom e não, não é por isso que votamos no PT e seus afiliados. É só porque a direita brasileira é uma merda pra gente. PSDB e DEM ferraram com Nordeste durante anos. Na Bahia, era ACM e sua corja de descendentes imundos que permeia todas as eleições e eu quero mais que morra toda a família de vez. Porque essas pessoas acham que os nordestinos querem votar em partidos que simplesmente ferraram com ela? Porque essas pessoas acham que nós gostamos de sermos vistos como retirantes de sotaque forçado made in Globo? Não somos dessa maneira cheia de caricatura como essas pessoas pensam. Eu me recuso a ser inclusa no povo que chamam de alienado, burro e pobretão - como se só o Nordeste fosse assim. Como se também não houvessem alienados, burros e pobres no Sudeste, Norte, Centro-Oeste e Sul. Não somos tão diferentes do Brasil assim.

E que me permitam uma provocação: eu até assumo a culpa de eleger PT. Mas não somos nós que vamos eleger Tiririca, a piada do ano.



E sabe o que é pior dessas palhaçadas? O Brasil todo que paga o pato, como bem atesta o verdadeiro e sincero post de Amanda sobre como a França enxerga nossos candidatos.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

mentiras políticas

Dilma nunca disse nada contra Jesus.
Dilma negociou com evangélicos prometendo que não vai liberar o aborto / ao passo que há provas que afirmam que ela é a favor da legalização.
Dilma não tem uma amante que lhe pede pensão, e ainda que tivesse, ela ser lésbica não é problema nosso.
Dilma não é proibida de entrar nos Estados Unidos.
A ficha policial de Dilma publicada na internet é falsa.
O vice de Dilma não é satanista.

Não adianta, quanto mais as eleições passam, mais os tucanos ficam desesperados e tentam inventar histórias, espalhar correntes que assumem status de verdade, mas são meras mentiras que são desmentidas até mesmo por blogs sérios aliados ao PSDB. Desespero faz mal e envenena a razão.

Não sou petista.
Não sou tucana.
Não sou do PMDB, PSOL, DEM ou qualquer coisa do tipo.

Eu só gostaria que as pessoas mentissem menos, guardassem as armas e fossem capazes de sentar e discutir polícia como pessoas sensatas. Mas parece que quanto mais perto é a eleição, mais o povo fica eriçado, armando dentes e empunhando facas. Argh.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

gente louca, burra, cega e... spammer.

Ontem fiz um post elogiando o documentário Sicko que esculhamba os planos de saúde, acusando-os de financiadores de assassinatos em prol do lucro.

E eis que recebo o seguinte comentário:

"SEJAM BEM VINDOS A MEGANE CONSULTORIA, aqui começa uma parceria de sucesso, porque nós, temos certeza de que vale a pena investir na proteção daqueles que são à base de tudo.

É por isso que há 10 anos nossa Consultoria compara e oferece as melhores opções em planos de assistência médica e odontológica, tendo como princípio fundamental agilidade, ética e transparência.

A Megane conta com um amplo portifólio de produtos e uma equipe formada por especialistas capacitados para analisar de forma aprofundada, identificando particularidades e necessidades específicas. É dessa forma que oferecemos soluções sob medida e perfeitamente adequadas.

Para maiores informações entre em contato.

Atenciosamente.

MEGANE CONSULTORIA
Rua Sete de Abril, 277 - 8º Andar
Centro - São Paulo - SP
Tel. / Fax. 3231-4748
VISITE NO SITE: www.meganeconsultoria.com.br"



Exatamente. Recebo propaganda de uma consultoria que vai me oferecer o melhor plano de saúde justamente em um post que os critica. Tem gente que não toma simancol.

À essa amável empresa, digo muito respeitosamente: vá tomar no cu.
Tudo o que tenho a dizer.

domingo, 19 de setembro de 2010

Sou mais o SUS

Ontem eu assisti o documentário Sicko, de Michael Moore. Eu não lembrava quase nada dele, mas enfim, resolvi assistir. E a cada dez minutos que passava, eu ficava cada vez mais chocada. Eu sei que o nosso sistema de saúde não é dos melhores, aliás é bem precário e tudo o mais. Mas, tipo, a gente sabe disso. Nós sabemos que hospitais são falhos, que planos de saúde nos roubam, e brasileiro tem em sua natureza desconfiar de tudo e de todos: sistema de saúde, política militar, exército, presidente. Acreditamos piamente que todos vão nos roubar e que podem passar a perna na gente a qualquer momento. Mesmo assim nos chocamos com o documentário que narrava casos como, digamos, um cara teve as pontas de dois dos seus dedos cortadas e teve que escolher entre restituir o dedo médio (por 12 mil dólares) ou o anular (por 60 mil dólares). Ok, você fica com aquela cara de WTF?

Claro, porque acabamos tendo na cabeça que se a gente acaba tendo um dedo cortado, a gente vai pro hospital, consertam e se preocupam com a conta depois. Não, de acordo com o documentário, não é assim. Eles se preocupam primeiro se você pode pagar aquilo. Sua saúde não é prioridade, e sim os lucros que vão ter. Os planos de saúde que cerca de 250 milhões de americanos tem ainda são sacanas. Para você fazer uma cirurgia de qualquer coisa, um exame de qualquer coisa, comprar remédios de qualquer coisa, tudo, absolutamente tudo tem que ser avaliado pelo seu plano de saúde e é grande a porcentagem de recusas que vão te negar uma ressonância magnética, por exemplo. De acordo com a médica lá que esqueci o nome, qualquer gasto que eles façam é chamado de "perda médica". E ela contou que quando ela recusou algo lá que fez com que a empresa economizasse cinquenta mil dólares, ela foi promovida. Provavelmente a pessoa que recebeu a recusa teve seu problema agravado ou ainda morreu. Mas ela foi promovida.
Médicos que estão matando são promovidos.

O documentário fala também do sistema de saúde de Canadá, França e Inglaterra. Essas são as melhores partes do filme: a cara das pessoas quando elas ouvem sobre o sistema dos EUA. A cara do rapaz que teve todos os cinco dedos cortados e tais foram recosturados e ninguém cobrou dele é impagável quando ele ouve sobre o caso do homem que teve que escolher qual dedo pagava para ter de volta. Ele fica com aquela expressão como se alguém falasse que os pássaros dançam rumba na Espanha. Tipo, MUITO estranho. Ou quando Michael Moore resolve interrogar um homem que teve uma queda de bacia e fraturou algo, e a cirurgia iria custar cerca de 25 mil dólares, então o cara (ele era turista) voltou pro país dele ~ Canadá ~ e fez a cirurgia sem pagar um centavo. E Michael Moore conversou sobre ele e ele disse que o sistema de saúde tinha que ser público, universal, etc. Teve uma parte do diálogo que amei:

- Você não pagou nada?
- Não.
[...]
- Porque você acha que os outros devem pagar por um problema seu? [obviamente o sistema é pago pelos impostos]
- Porque os outros fariam a mesma coisa por nós. [que amor!]
- Você é comunista?
- Não.
- Socialista? Anarquista? Você é do Partido Verde.
- Oh, não. Na verdade, sou do Partido Conservador. Algum problema?
- Oh, não, não rs.

Eu confesso que dei aquela risadinha. Mas só ri mesmo quando Michael foi para Inglaterra conhecer uma farmácia onde todos os remédios são vendidos a dez dólares. Ele começa a tirar sarro, perguntando onde estavam vários itens como cadeiras e telefones, algo do tipo, e o farmacêutico todo sério. No final o farmacêutico diz, como um perfeito soldado inglês, que não estudou tantos anos para vender pneu. ok, contando não é engraçado, mas quando você vê, realmente fica engraçado. Sabe o humor britânico? Desse tipo.

Mas a cena mais tocante é quando ele descobre que na prisão do Guantánamo os presos tem atendimento melhor que ao dado para a população americana, em média. O que ele faz?
Pega todo mundo que entrevistou para fazer o filme e chama todo mundo para ir na prisão para receberem atendimento médico. É óbvio que ninguém sequer pergunta a ele quem é. Tudo o que faz é tocar uma sirene e Michael percebe que é hora de dar o fora. E ele acaba indo parar em Cuba. É, porque a prisão fica em Cuba. Nesse momento me pergunto até onde vai a manipulação. Quero muito acreditar que ele realmente foi lá querendo ajudar os doentes que o acompanhavam e tudo o mais, mas... ele realmente levou cerca de vinte pessoas doentes para o meio da Cuba sem planejamento algum? Parece que sim.
E, surprise!

Em Cuba todo mundo é atendido. Exatamente, o país que todo mundo sabe que é o inferno na terra atendeu a todos os americanos recém-chegados, dando remédios, fazendo exames, tratamento de qualidade. É de partir o coração quando a moça vai comprar um remédio em Cuba e descobre que aquele remédio custa apenas cinco centavos - nos EUA, ela tinha que pagar 120 dólares. Assim como você se emociona quando vê todo o Corpo de Bombeiros homenageando as três pessoas que ajudaram a resgatar vítimas no 11 de Setembro: sim, o governo americano ignorou essas pessoas, mas não o Corpo de Bombeiros cubano que se posicionou perante elees e declararam louvor e admiração à atitude deles. Sim, os heróis americanos foram mais bem tratados em Cuba do que na própria pátria. Eu fiquei pensando bastante no nosso sistema de saúde.

Eu não tenho plano de saúde. Quando eu era criança e a vida financeira de meus pais eram flores e ouros, eu tinha. Por conta da minha deficiência auditiva, eu tive um plano que me deu tudo o que eu precisava. Mas era pequena, eu nem lembro direito de como era. Só sei que tenho um monte de exames. Diz minha irmã que foi como se me virassem do avesso para descobrir tudo ao meu respeito, rs. Atualmente não tenho plano de saúde, como já disse, e quer saber? Não sinto falta. Eu sei que posso usar o SUS a qualquer hora. Não tenho medo de ir para o hospital, mesmo que minha mãe que é técnica de enfermagem veja casos de corrupção e descaso flagrantes. Não tenho medo de depender da saúde pública: já dependi e não morri, nem fui maltratada. Só que sou uma exceção, eu acho. De qualquer modo, acho que se eu chegar no hospital com a perna cortada, os médicos vão é costurar a perna e deixarem a conta pra depois.

Ou será que não?



Clique na imagem ou aqui para baixar o filme legendado.
Não conferi o link, não sei se está funcionando (:

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

pequena reflexão sobre eu e ele



Hoje um garotinho entrou no ônibus, contou qualquer história e pediu dinheiro. Ele pediu de forma tão bonitinha, tão engraçadinha, a coisa mais cuti-cuti. Eu o mandaria direto para protagonizar qualquer história sobre crianças sofridas. Mas ele estava lá, pedindo dinheiro com aquele jeitinho fofo, engraçadinho. Todo mundo achou fofo. E mesmo contrariando meus princípios de não dar dinheiro para crianças, porque quase sempre tem uma pessoa por trás que se beneficia disso, eu dei uma moeda.

Dei a moeda mais dourada que tinha, de vinte e cinco centavos.

Todo riu depois. "Desse jeito, quem não dá?" diz uma mulher. Mas...

Até quando? Não é justo que eu tenha acesso à internet, comida em casa e uma boa educação enquanto crianças estão pedindo dinheiro em ônibus, talvez para pagar vícios delas ou de outras pessoas, talvez para comprar pão e leite. Simplesmente não é justo que tanta gente tenha tão pouco e pouca gente tenha tanto. Me pergunto o quão abriria mão dos meus privilégios para que mais pessoas pudessem viver bem, mas me pergunto primeiramente quais os privilégios que tenho. Tenho o privilégio de estudar numa boa escola, de ter computador e acesso aos livros, revistas, jornais. Tenho o privilégio de não precisar trabalhar.

Porque quando tentamos mudar isso, nos chamam de comunistas? Não vai ser possível nivelar a sociedade por cima: é impossível todos nós termos um padrão de vida que exige demais do planeta. Para todas as pessoas serem igualmente ricas como americanos, é preciso que haja escravidão. Não sou socialista, comunista, anarquista, somente acho que o capitalismo pode e vai falhar a qualquer momento, porque se ele é a base do lucro, então para que alguém realmente lucre, é preciso que alguém perca. Eu não sou a favor disso. Eu não gosto da idéia de que é natural a desigualdade social. Não é.

A seleção natural é, sim, parte da nossa natureza. Os melhores se sobressaem, isso acontece em qualquer lugar. Mas não quer dizer que podemos agir como leões exigindo seu território e criar uma sociedade completamente desigual. Afinal numa selva de verdade dois leões saudáveis tem a mesma chance dada pela natureza. Na nossa selva, a pessoa perde a chance de competir só ao nascer numa família errada em um lugar errado.


terça-feira, 7 de setembro de 2010

O pop que me deu o caminho.

Olha, eu não sei como eu comecei a ser feminista.

Eu só sei que sou. Desde que me entendo por gente, eu sou. Era um comportamento natural, ao meu ver, de mulheres. Eu achava que todas as mulheres eram assim: por quê alguém seria contra a idéia que dava às mulheres o que era de direito delas? Eu entendia os homens: eles eram machistas e grosseiros, e cuspiam no chão. Era nojento, mas eu entendia que eles não queriam ver as mulheres se igualando a eles. Mas na minha cabecinha infantil, todas as mulheres eram feministas. Feministas não, que nem sabia o que significava a palavra. Mas a palavra na minha cabeça dizia a mesma coisa. Assim como todos os negros eram contra o racismo, todos os gays eram contra a homofobia, as mulheres seriam contra o machismo. Minha cabeça funcionava assim. E deveria ser assim, mas demorou muito tempo até eu entender que as mulheres são vítimas e agentes desse machismo e a mesma coisa acontece com negros e gays: a sociedade existe de tal forma que quem vai contra a corrente costuma se sentir muito culpado de ter um pensamento não-corrente.

Mas eu creio que um marco fatal no meu feminismo foi eu assistir um videoclipe. Não lembro quantos anos eu tinha, mas eu lembro que estava na sala e estava passando o canal de videoclipes da Multishow. Eu preferia Multishow porque os clipes passavam legendado (não sei se ainda passam), então eu entendia o que aqueles rappers e Madonna estavam cantando. Foi nessa época que comecei a amar Madonna (e peguei o dia que ela passou o clipe censurado de American Life, que eu amo). E foi quando eu assisti um clipe chamado Can't Hold Us Down. Eu nem sabia quem era Christina Aguilera. Quer dizer, até sabia porque ela tinha sido capa da Capricho, mas nunca tinha ouvido, falar, nada. Eu só sabia que ela era uma cantora que vestia roupas muito sensuais. O termo mais gentil para descrevê-la que as revistas usaram foi "vadia". E ela cantou naquele clipe e a mensagem ficou impregnada.

Sabe quando o mofo pega na roupa e não quer mais sair? Foi exatamente desse jeito.

Passou uma vez, nunca mais vi, deixei para lá. Durante esses anos, esqueci quem era a cantora e o nome da música. Não sabia nada, só que ele era com uma mulher de cabelo preto, boné, top e short que personificavam a indecência em roupa. E era rosa! Mas eu lembrava a letra.

"Então porque eu não deveria ter uma opinião
Eu deveria ficar calada só porque sou uma mulher"

Foram essas duas frases que mais me marcaram. Era só uma música. E embora eu já fosse feminista (mais ou menos, cegamente, sem ter consciência), foi com essa música que já passei a questionar um monte de coisas. Passei a questionar sobre a minha postura que embora acreditasse que mulheres tinham que ter direitos iguais, tal coisa não abrangia os direitos sexuais. Acreditava piamente que menina tinha que se dar ao respeito, que aborto só em estupro, porque a mulher tinha que aguentar as consequências do que fazia, que ninguém mandou ela abrir as pernas. Todos esses clichês de pessoas que tem horror ao feminismo, de pessoas que se dizem feministas, enfim eu acreditava que as mulheres tinham que ser consideradas iguais no trabalho, mas não podiam desonrar o movimento agindo como "vagabundas". E esse clipe, com Christina Aguilera trajada indecentemente, mudou isso completamente. Ele não quebrou de imediato, mas plantou a semente. É por isso que hoje eu sou fã dela: quantas pessoas, com palavras, conseguem mudar conceitos tão arraigados na nossa mente?

Dali em diante, calei minha boca em relação à muitas besteiras que eu dizia. E passei a ser muito, muito mais militante. Nem tanto em relação ao feminismo, mas eu relacionava machismo com homofobia e com total repulsa ao machismo, passei a defender fervorosamente os gays. A defesa era tão veemente que eu creio, na minha antiga escola, que despertava até suspeitas de que eu fosse lésbica (o que seria muito engraçado, mas enfim). A defesa veemente em favor das mulheres veio mais tarde. Por causa de Christina Aguilera e Madonna.

Eu não aceitava quando as pessoas diziam que Madonna estava velha. Que ela era uma múmia, que não fazia música boa, que estava feia, gasta e quem vive de passado é museu. Como assim? Michael Jackson tinha praticamente a mesma idade e ninguém criticava ele por fazer música. Ele estava praticamente uma caveira com todos os problemas que passou na vida, mas ninguém falava mal dele (só da pedofilia, mas isso é outro assunto). E Rolling Stones? Eles continuam lá tocando, cantando, mas quem se atreve a falar mal deles? Mas todos adoram falar de Madonna. Que está velha, gasta, feia, que não presta para dançar, está sem graça, o escambau. E o mesmo veneno corria com Christina Aguilera: que ela era puta, vadia, vagabunda, vulgar. E com Britney, em seus tempos terríveis, tudo foi uma desgraça: ela era drogada, careca, bêbada e estava tendo problemas judiciais. O que eu estava reparando é que as pessoas falavam demais das cantoras. Mas pouco dos cantores. Ninguém se incomoda com homens que queiram cantar até os 80. Mas quando é uma mulher, vestida com shorts e minissaia, namorando um cara com a metade da idade dela, todos se incomodam.

E foi aí que passei a ter consciência do feminismo que eu tinha. Porque eu percebi que se eu queria defender o que eu considerava minhas divas, eu tinha que ter argumentos. E eu encontrei argumentos no feminismo que serviram não só para isso, mas também para tudo que eu fizesse na vida. Nesse ponto entrou o blog EscrevaLolaEscreva e juro que não é porque estou puxando o saco, mas realmente mudou alguns conceitos e fortaleceu outros. É simplesmente porque tinha coisas que eu nunca tinha parado para pensar como cavalheirismo e aborto. Mudei várias idéias minhas novamente, adaptei-as à minha realidade e me tornei uma defensora de mulheres. Acabei indo além do feminismo: passei a defender mulheres. Eu sou totalmente parcial nessa questão: eu sempre vou defender mulheres. Em qualquer caso, sempre vou defendê-las. Eu defendo todas as "putas" que a sociedade abomina, defendo todas as donas-de-casa que querem reconhecimento, defendo todas as moças que querem trabalhar e não casar, defendo as que não querem ter filhos e defendo as que querem ter muitos filhinhos. Defendo as doutoras, professoras e eu, pessoalmente, encaro cada pequena vitória como pessoal. E eu tento passar isso para minha prima. Apesar de ela crescer na moda, nesse meio que eu acho que estão sexualizando demais a criança com sapatinhos de salto e coisas do tipo, eu tento passar o meu feminismo para ela. E eu fico feliz que dá resultado. Eu fico feliz ver que tem pessoas que mudaram seus conceitos sobre Christina Aguilera quando eu passei a apontar a hipocrisia da sociedade que mal repara na voz dela, e na mensagem que ela passa, e sim nas roupas que ela usa. E eu fico feliz de perceber que o feminismo é a corrente que encontrei para minha vida, mais forte do que qualquer outra. Porque o feminismo defende a igualdade entre gêneros, e eu tenho o sonho de ver o dia que as mulheres não recebam mais a culpa por serem estupradas.

Mas às vezes sempre me pergunto se vai adiantar. Só que eu tenho que acreditar que vai adiantar, que toda a nossa luta irá em frente. Por que se as feministas não defenderem e apoiarem a mulher, quem vai ajudá-las?



Post feito aos 46:00 do segundo tempo para o concurso A Origem do Meu Feminismo, do blog Escreva, Lola, Escreva. Fiz às pressas porque passei esses dias envolvida com uma prova, com a Olímpiada de História e com a letargia mental que me fazia adiar tudo que tinha que fazer, como postar no blog! Espero que me entendam...

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

me botem pra dormir por mil anos!

O feminismo é o veneno da humanidade.
O feminismo é o movimento subversivo, é o ato insensato, é a ira de quem nunca deveria se levantar. Muito menos falar. Por que sabe como é, as mulheres são feitas para serem apreciadas por seus corpos, por seus cabelos. São feitas para serem vistas, agredidas, estupradas e mortas. O feminismo não existe mais. O feminismo morreu. O feminismo é inútil. Agora só há feminazistas. Elas não são chatas, caolhas, lésbicas, fedidas, peludas e vivem com sete gatos escrevendo furiosamente sobre relações sexuais. No fundo, todas elas querem é serem pegas à força. Quem sabe até arrastadas pelos cabelos. Não há problema em fazer um editorial de moda com mulheres mortas. Ou violentadas. Elas GOSTAM da violência, da agressão, da força contra elas. Elas amam os hematomas, o olho roxo, os arranhões, as ameaças. Elas procuram por isso. Elas podem ser divididas como fossem pedaços de carne. A meiguinha é como um pintinho. A maternal é uma galinha cocoricó. A puta, ah, essa é a cadela no cio. Dá pra todos, sem hesitar. É perseguida pelo faro. Tem mais é que ser abusada mesmo, e dar um monte de filhinho pra aprender. Quem mandou ser vadia?

Mulher é imoral. É corrupta, é burra, é ingênua, é boba, é lasciva. Mulher não vale nada. Mulher de minissaia é um perigo. Claro que a culpa do estupro é dela. Claro que ela deve se casar. Ela deve ter mais honra que qualquer um de nós. Mulher é lixo. Mulher não vale nada. Tudo bem bater nelas, elas estão pedindo, estão merecendo, estão implorando, chorando, se descabelando por isso. Elas querem, estão ouvindo?, elas QUEREM E DESEJAM por mais um hematoma. Por mais um estupro. Por mais um tapa, uma ofensa, uma cantada grosseira, uma desqualificação profissional. Elas gostam de vídeos de estupros reais. Elas gostam de serem vistas como objetos sexuais, como bifes no açougue, como tentativas grosseiras de serem homens. Elas gostam que a gente diga que suas vaginas sejam ditas como "pênis castrados".

Quem precisa de feminismo? Elas tem direitos demais. Elas podem votar e não precisam cobrir os cabelos. Elas podem sair na rua e reclamarem de estupros. Elas podem trabalhar ao lado de caras, elas podem andar sozinhas, elas podem estudar o quanto quiserem. Elas não precisam de mais do que já tem. Elas não precisam das feministas, ninguém precisa das feministas. Elas cheiram mal. Elas falam algo sobre igualdade. Que igualdade? Mulheres não são iguais aos homens. O que essas feministas querem agora? Que as mulheres coçem o saco? Que deixem o pêlo do sovaco crescer? Que sejamos todas brutamontes feito os homens? Nada disso, temos que ser delicadas, comportadas, cheirosas, damas. Não podemos correr, que é feio. Nada de gritar, se descabelar, fumar, beber, rir alto demais: é vulgar. Quem se importa que homem faça tudo isso e não seja mal visto? Ele pode transar com mil mulheres, não será demitido em sua empresa. Mas é a ordem natural das coisas, não devemos atrapalhar isso. As feministas estão indo CONTRA essa ordem natural. Elas querem que todos sejam iguais e isso nunca vai acontecer. Aliás, isso é perigoso. Tão perigoso quanto os comunistas, e todo mundo sabe que eles não são homens de bem. Vamos queimar as feministas! Quem precisa delas mesmo?

Além disso tudo, eu reuni essas lindas e admiráveis campanhas de moda repletas de sentido artístico do blog Síndrome de Estocolmo.









Essas belas fotografias são publicadas na conceituada Vogue (a mesma que passa em cima da diversidade étnica). Um belo exemplo de arte. E não está satisfeito? Realmente não? Então veja essa bela montagem que foi divulgado por um twitter de mulheres que riu muito, afinal a imagem é engraçadíssima! Quem não adora um humor negro?



sábado, 28 de agosto de 2010

eu vivo de escrever

Eu sempre quis escrever. Mesmo quando criança e desejava inúmeras carreiras paralelas (estilista, empresária, acionista da Coca-Cola, etc, etc,), eu queria ser reconhecida como a escritora mais bombástica do mundo. Escrevia livrinhos pequenos sobre amigos que iam para floresta e se perdiam e morriam com uma luz verde (plágio de Harry Potter!) e sobre usuários de drogas que se arrependiam (assistia muito O Clone) e assinava com um pseudônimo que não estou lembrada qual era, mas era alguma coisa Leite. Meus planos eram escrever um livro até os meus quinze anos para ser reconhecida como a precoce espetacular escritora. Já pensava na cara de inteligente que tinha que fazer nas minhas fotografias oficiais (e haveria do lado, nas revistas, "Fonte: Divulgação"!) e nas críticas que a Veja faria ao meu livro, me chamando de a estrela literária do século XXI. Como podem ver, minhas pretensões infantis não eram nada modestas.

Obviamente não lancei nenhum livro até agora, e ainda que se eu lançasse um livro agora e pudesse ser chamada de "precoce talento", duas coisas fizeram as coisas andarem mais devagar. Primeiro foi a série Harry Potter. A escritora demorou cerca de dez anos até se sentir contente o suficiente com A Pedra Filosofal para enviar às editoras. E depois que começou, já tinha o gancho e foi bem mais fácil, claro. Mas só o fato de ela ser paciente, de ela ter reescrito tudo várias e várias vezes já me fez parar para pensar que eu, na verdade, estava sendo muito apressada. Eu não preciso escrever algo para me tornar a mais jovem escritora espetacular ou ganhar um Nobel com vinte anos de idade. E a segunda coisa, que foi muito mais impactante, foi Crepúsculo. Eu critico, falo mal, desdenho, piso e humilho a série e não me arrependo nem um pouco. O negócio é que desde que descobri que Meyer escreveu o livro em três meses, a sensação de que a pressa é inimiga da perfeição persistiu.

Não que Meyer tivesse pressa. Ela mal sabia no que estava se metendo, ora bolas. Mas eu fiquei pensando: e se eu escrever rapidamente um livro porque quero ficar reconhecida logo, mas o livro fica um lixo e eu tenho péssima fama no mundinho literário como Meyer? Eu não quero ser equiparada à ela! Não quero lançar um livro pra depois falarem que é justificável ser ruim, eu escrevi em apenas alguns meses e nem revisei nada! Porque tem gente que escreve obras-primas em alguns meses, mas essas pessoas não são eu. Eu demoro meses para ficar satisfeita com alguma coisa, e eu não gosto de nenhum dos meus contos. Acho-os bons, razoáveis, mas são aquela coisa que faria qualquer pessoa chorar de emoção? Definitivamente não. Então simplesmente relaxei com a coisa do tempo. Ok que brinco que daqui a dez anos vou estar autografando na Bienal. Mas assim, não é nenhuma obrigação. Eu quero lançar ~ quando lançar ~ livros bons de verdade e eles não vão sair tão cedo. Ainda falta muita coisa para algum texto meu ficar decentemente bom. Eu quero alguma coisa que me deixe satisfeita e no momento só tenho fragmentos de coisas que poderão ser boas.

Eu adoro escrever. Eu amo delinear histórias, planejar personagens, adicionar carga dramática. Eu adoro saber que posso passar inúmeras mensagens e referências em cada letra, que posso agir como fosse um deus. A deusa das palavras, sabe como é? Mas ainda falta muita coisa: eu não sei fazer humor, sou péssima em trocadilhos, odeio as minhas descrições, não quero escrever eternamente em metáforas como é meu estilo mais aprimorado. Eu gosto de humor e sarcasmo, mas não sei escrever desse jeito. Minha tentativa que ficou mais perto disso foi o meu conto Julia, mas definitivamente não está nem perto do meu objetivo. Às vezes eu queria conseguir ser um pouco Meg Cabot que escreve livros sem parar, e apesar de achá-la boa no que faz, dá para perceber que às vezes ela meio que se perde. Imagino que o tanto de livros seja obrigatoriedade do contrato, e eu sempre fico pensando se eu conseguiria aguentar isso. Imagina só, você tem a vida toda para o seu primeiro livro. Faz sucesso, aí a editora encomenda um segundo livro e que ele faça tanto sucesso quanto o primeiro! É como a história do primeiro e segundo CD. O segundo CD tem que ser tão bom quanto o primeiro! Acontece que todo mundo meio que ajuda mais no segundo CD: tem mais produtores, mais cantores, mais compositores, mais gente que analisa aquilo. Nos livros, nem tanto. Primeiro que nem tem uma fórmula X que ajude a vender pra caramba. E isso é complicado.

De qualquer modo, quem se importa? Provavelmente morrerei na miséria, porque ninguém quis pagar um centavo para que eu pudesse ter um sucesso com meus futuros e imaginários livros subversivos. Morrerei passando pelas livrarias e olharei aqueles romances sobre casamentos e mulheres de salto e sempre direi que posso escrever melhor. Porque eu sempre posso escrever melhor. Eu não sei fazer nada: não sei cantar, nem atuar, nem mentir, nem lavar banheiro, nem fazer um bolo, nem ter paciência com as pessoas, nem arrumar um quarto. Morreria de fome se precisasse ser faxineira. Tudo o que sei fazer é um miojo e olhe lá, porque eu nunca uso temperos variados, só o do saquinho. Tudo o que sei fazer é escrever (e algo de desenhar. Quem acha que desenho super bem, na boa, precisa ver ilustrações de verdade, não meus rabiscos) e eu sei que posso fazer isso melhor do que faço. E esse talento ninguém me tira, senão eu me lasco.



Ah, céus, perdi o prazo da Blorkutando. :~

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Profundamente sem assunto,

Perdão pela falta de posts, por posts curtos, rasos, ilustrativos. Mas quando estou sem inspiração, não consigo escrever nada. Porque estou cheia de coisas pra fazer como trabalhos escolares e fico com preguiça só de pensar em todas essas coisas que tenho pra fazer. Vontade de dormir e acordar só ano que vem... além do mais me cansa discutir sempre machismo, política, feminismo, cotas, racismo, todos esses assuntos sérios que ainda me darão rugas. Mas não tem jeito, Brasil só me dá preocupação. Cada cidadão com seus problemas, não é isso?

Como sou uma menina preguiçosa de fazer um post do estilo que eu amo [ah, meldelz, o post pra Descapricho amanhã!], então deixo somente um vídeo ensinando a fazer um tsuru. Eu preciso aprender!



O lance dos tsurus é que, de acordo com a crença oriental, se você fizer mil deles mentalizando algo positivo e dar esses tsurus para uma pessoa que você goste, esse algo positivo mentalizado vai acontecer com ela. Superstiuções e crenças à parte, é um ótimo presente pra se dar quando não tem dinheiro e muito tempo. :)



Eu sempre tento fazer vocês não ficarem com raiva de mim por não ter um post decente, rs.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Somente um vídeo,

mas esse vídeo foi tudo o que escutei hoje. Eu realmente amo a voz dessa mulher :)




Sim, tenho que retornar com os posts longos e etc. Mas é difícil se concentrar com tantos trabalhos escolares e tudo o mais. Peço perdão :)

E a minha blogosfera ali do lado está desanimada também :(

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Voltando com os petralhas versus os reaças. Algo assim.

Hoje começa o maldito horário eleitoral. Sabe como é, aqueles insuportáveis cinquenta minutos todo santo dia, entre o jornal e a novelinha das oito, com pessoas falando que vão dar quatro quatrilhões de empregos, abrir 6851 escolas, 418410 hospitais e melhorar o nosso Carnaval. Criam jingles ridículos (e nem vi os outros, mas o de Serra ganha como ridículo. Meu filho, você é da oposição de Lula. Como é que, cargas d'água, seu jingle é todo "Quando Lula da Silva sair, é o Zé que eu quero lá"? Não foi o SEU lado que passou os últimos oito anos esperneando contra a petralhada? Não foi o povo da direita, por acaso, que vai votar em VOCÊ que despreza Lula e acha que Dilma vai fazer Brasil virar uma ditadura comunista? Que merda que Lula tá fazendo em seu jingle? Está usando o mandato dele para ver se consegue ultrapassar Dilma nas pesquisas? Sua cara meiguinha na capa da Veja não funcionou?), dançam coisas toscas, dizem pra serem votados em troca de promessas, e claro ninguém assiste, muito menos presta atenção.
Ainda por cima, é de graça. Ninguém tá realmente ganhando com aquele horário eleitoral. A não ser os políticos que ganham um espaço para veicular suas (des)propostas. Mas eu posso prever o que vem por diante:

A Ibope disse que, pela primeira vez, Dilma supera Serra nas intenções da pesquisa. Perdão, mas você disse "primeira vez"? Queridinhos, Serra nunca foi realmente maioria aqui no Brasil. Todas as outras pesquisas desde a Datafolha até aquela bestinha de blog anunciam: Dilma está na frente. Ela está na frente porque ela tem Lula por trás, e que a Veja se mate por causa disso, o povo ama Lula. Eu não sou lulista, petista, qualquer coisa desse tipo. Mas eu sou honesta e eu não fechar os olhos à verdade: as pessoas querem que Lula continue com seu governo, e pra isso acontecer, vão votar em Dilma. E creio que a mídia convencional não está funcionando. Todas as revistas desprezam Dilma. Eu ainda não vi os debates, mas pelo que acompanhei pelas notícias, Dilma recebeu críticas por, aparentemente, ser durona no trabalho. Não entendi isso muito bem. Qual o problema de ela ser durona? Se ela quer ser presidente de um país com 195 milhões de habitantes, ela TEM QUE ser durona. Ela não pode nem ter cara de frágil, nem ser frágil. Ela tem que saber se impor, saber mandar, saber cobrar. Se ela não souber liderar, ela pode voltar ao posto de ex-primeira-dama numa boa. E eu sei que a Veja a chama de terrorista. Parece que todo mundo a chama de terrorista.

Mas eu me pergunto quem realmente pesquisou o passado dela. Quem foi lá e entrevistou os militares? Por que ninguém lembra da época e do contexto cultural? Era ditadura, mano. Ou será que essas pessoas acham OK a gente passar por um sistema brabo que prendia as pessoas de opiniões diferentes? Eu não sei sobre o passado dela e não sei o que ela fez para ser considerada bandida hoje. Acho que foi explodir um banco. Não me importa - os dois lados tem coisas sujas para se esconder. Ou vão me dizer que é maravilhoso o lado da direita? Se não me engano, a emissora Globo apoiou a ditadura militar. Ah, sim, e sempre rola a polêmica de a Globo não ter realmente divulgado as Diretas Já e ter apoiado a candidatura de Collor (que nem vou julgar as pessoas que votaram nele. Na época, ele realmente devia parecer mais atraente do que Lula com sua cara cheia de barba e cara de "sou capaz de matar um tigre enquanto bebo a água marvada"). Mas ninguém lembra disso. Ninguém lembra que a Globo, que a Veja, que toda essa mídia de oposição apoiou guerras insensatas e ditaduras cruéis. Veja, EU li suas matérias sobre a Guerra do Iraque. E vocês apoiavam Bush, lembra disso? Por que não lembram disso? Jogam isso debaixo do tapete? Sorry, EU lembro perfeitamente que vocês apoiaram o presidente Bush que simplesmente invadiu Iraque com o pretexto de armas nucleares. Ahahaha, sem permissão da ONU (como se ela mandasse algo, haha). E tudo o que fez foi enforcar Saddam não sei quantos anos depois. Ah, tá, Iraque agora está em uma época de prosperidade e democracia. Sei.

Digam isso para os órfãos perdidos e famílias destroçadas pela guerra.

Vivem nessa guerra idiota e louca entre esquerda e direita, manipulando loucamente os fatos, xingando um a outro e acreditando em coisas sem lógica. Lula não é tão ruim assim, mas também não é esse deus todo. E vamos lembrar aqui, porque parece que muita gente não sabe: volta e meia vejo alguém falando que só nordestino vota em Lula, mas somente dois estados (dos nove!) são governados pelo PT. Quem ganha mais é o PSB, Partido Socialista Brasileiro. E há bastante PMDB também, e muitos deputados são do DEM (medo. DEM, pra mim, me lembra ACM que me lembra ditadura e repressão). Se bem que a maior taxa de aprovação do PT vem do Nordeste mesmo. De acordo com essa fonte aqui, 46% dos nordestinos querem Dilma, ao passo que somente 27% querem Serra. Já no sudeste, 35% quer Dilma e 35% quer Serra (o que significa que em SP, RJ, MG e ES, a coisa tá equilibrada. Mais ou menos. Dilma ainda tá na frente!). E Marina, coitada, tá lá atrás nas intenções. Mas ela é boa pra tirar PT e PSDB do foco, como uma tentativa de centralizar. Ou sei lá. Não entendo muito de política, confesso. O que entendo mesmo é manipulação da mídia, e é isso que palpito. Tiro onda com a Veja que se acha A revista imparcial, mas na verdade é lixo. Perdão, é isso que é. Ok, eu até concordo com a parte mais cultural, sabe. Cinema, literatura, TV.

Mas política? Minha cara Veja, você nada sabe da vida. Uma revista que chama Marat de marxista não merece meu respeito. Uma revista que coloca Serra na capa com a cara mais meiga do mundo, ao passo que Dilma é retratada como o próprio cão da Apocalipse, não tem o direito de se denominar 'imparcial'. Uma mídia que vive falando de petralhas radicais e ditaduras cubanas, mas essa mesma adora falar com ódio de Dilma NÃO PODE se dizer imparcial, neutra, normal. Porque eu vejo as revistas se jogando uma contra a outra, e sempre metem a gente, povão, no meio disso. Vivem chamando Bolsa-Família de esmola (bem, esmola a gente dá quando pedem e não pedimos nada em troca. Que eu saiba, você precisa se cadastrar e provar que precisa. Além disso, você precisa que seus filhos estejam na escola. E é uma quantia pouca, menor que um salário mínimo. Não vejo isso como esmola) e vivem falando que os pobres vão votar em Lula, Dilma, sei lá qualquer coisa, pra continuarem vivendo com a esmolinha. Claro que vão. Cada um vai votar no candidato que beneficiar. Eles não votaram no oponente de Lula (geraldo alquimin. Eu sei que não se escreve assim, mas eu quis brincar, me deixem) porque ele queria privatizar várias coisas, e não interessa à população que tenha que pagar por saúde e educação. Afinal a gente privatizou as companhias telefônicas e vejam só a merda que deu.

Ou você vai falar que a nossa internet oferecida por essas companhias é mara em comparação com o restante do mundo?

Hoje começou o nosso pequeno inferno brasileiro que surge a cada quatro anos. E nesses meses que virão até outubro, teremos a perspectiva dos próximos quatro anos. Eu nunca fiquei tão tensa para saber quem assumirá a faixa presidencial. Eu nunca tinha ligado, mas agora eu estudo em uma instituição federal, uma das que foram favorecidas pelo governo de Lula. E eu, pela primeira vez, votarei pra valer. Não quero votar nulo, mas não quero votar sem saber o que me espera. Provavelmente Dilma ganhará e a mídia urrará de ódio (eu não sou Dilma, mas, cara, até eu me irrito ao ver como as pessoas acham que Dilma vai fazer a gente virar uma ditadura estilo Chàvez. Porque não se preocupam com a China que agora é o segundo país mais rico do mundo? Se a China cresceu tanto assim, poderá, em alguns anos, superar os EUA. E vai ser mais negócio a gente virar comunista, rs) E eu não sei minha posição política. Eu tenho ideologias: quero o direito ao aborto, veto às figuras religiosas em repartições públicas, liberar geral a pesquisa de células-tronco, incentivo às instituições técnicas federais, sistema de saúde público e de qualidade, educação infantil em tempo integral (e que comece mais tarde. Começar as aulas sete e dez da manhã é PRA MORRER!). Também gostaria que o casamento gay fosse legalizado e que tirem, de vez, os partidos religiosos da bancada (ao meu ver, religião e política são água e óleo. Nada de partido evangélico dizendo que Brasil é país do Senhor. Vão pro inferno!). Mas eu não tenho partidos.

Nem quero ter. Eu gosto de ser apartidária, encarando os candidatos com aquele olhar presunçoso de quem tá pouco se lixando. Mas quem quer que governe o Brasil, por favor, não seja idiota. Não seja FHC. Porque, FHC, você foi legal com o plano Real. Mas meus professores tem trauma até hoje dos seus tempos, devido à sua mania de querer sucatear o ensino federal... e isso não foi legal.



Vocês viram a imagem que a Época publicou da Dilma? Eu, que nem sou petista, nem lutei na ditadura, adorei. Achei a imagem muito digna, muito cara de "eu fui lá e briguei pelo país". Aparentemente a matéria era pra sacanear Dilma, mas nem funcionou. A ilustração está rodando o Brasil em forma de panfletos e camisetas, rs. Aqui a matéria da Época, pra quem quiser ver. Nem li a matéria, vale a pena lembrar.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

The Return! - ou qualquer coisa do tipo -q

Exatamente.
Minha internet foi instalada, deu tudo certo e a única coisa que perdi com essa mudança foi um casaco verde. Paciência.

Mas sem mais informações :)


sexta-feira, 16 de julho de 2010

go, home, go!

Vou me mudar amanhã, ao que tudo indica - se nada der errado.
Ou seja, blog inativo por enquanto :)

Lamento não ter participado da Blorkutando e da Interativos essas semanas, mas fiquei bem ocupada e lotada de coisas. Ainda não consegui resolver o vídeo. E ainda falta um monte de coisa para empacotar. Ah, céus, deixo minha despedida aqui.

Se possível vou fazendo pequenos posts no computador sem net e atualizo na escola, mas garanto que vai demorar muito, muito mais. Vou ter que pausar um pouco com o projeto Descapricho também para poder me focar nessa mudança que vai exigir muito de mim, já que vou viver só com mamma e minha irmã. Me desejem boa sorte! :D



Shakira, com 13 anos, cantando Material Girl, de Madonna, em espanhol! :O

terça-feira, 13 de julho de 2010

hm, que saco.

Meu vídeo não quer, de jeito nenhum, sair do seu projeto Movie Maker de forma decente. Ele sempre perde o áudio a partir de dois minutos.
Acho que terei que refazer o vídeo - e me virar com o Sony Vegas.
Eu percebi que passei as férias sendo a criatura mais inútil do planeta. Porque eu não mexi nesse vídeo antes? Ah, sim, porque eu estava preguiçosa, lenta e inútil que não aguentava mais ouvir a própria voz tendo que combinar com as imagens. Agora me lasquei.
O MadonnaOnline está sob ataque de hackers, vírus e spammers. Fodeu, eu queria ver clipes de Madonna.
O novo CD de Christina Aguilera desce a ladeira de tão baixo o desempenho e parece que novo videoclipe dela só vai ser lançado em agosto. Vontade de bater na RCA.
Ah, sim, meu computador está uma lentidão para carregar até o Google, que dirá um videoclipe de alguém, que dirá baixar o Sony Vegas (estimativa: o download acabará daqui a cinco horas. E seis minutos).
Amanhã minhas aulas começam. Odeio véspera de aula.
Ainda mais de férias que não viajei, nem nada.

E amanhã vou passar o dia inteiro estudando para a prova de quinta - coisa que já fiz ontem, sexta-feira e outro dia que esqueci.

Que raio de "férias" são essas que a gente estuda quimíca?

Sensacional.

Hm, acho que quero dormir e acordar daqui a um mês. Já terei entregue o vídeo, Christina Aguilera já terá lançado seu videoclipe, o site de Madonna estará ok, e sei lá mais o quê. Não dá raiva você sentir que nada pode fazer enquanto alguma coisa não acontece. No meu caso é ou Sony Vegas ou minha colega responder que felizmente a aula de geografia é só sexta que vem.
E espero que minha professora não leia esse post. Ela vai pensar que eu fiquei vadiando as férias inteiras e nem mexi no trabalho. Juro que mexi! Juro que fiz algo! Mas sabe como é... ainda falta vinte dias... ainda falta dez dias... ainda falta uma semana... é pra amanhã e ainda não fiz nada que prestasse a não ser tentar e tentar. Agora o que posso fazer é pagar pela minha vadiagem e entregar esse vídeo o mais urgente possível. Me desapegar disso.

Odeio trabalhos escolares.

Aliás, odeio só os que são feitos em grupo. Odeio porque sempre fico com parcela da responsabilidade e se eu não fizer minha parte, o resto do grupo se dana ~ sempre é assim. Ah, deixa pra lá. O Sony Vegas só vai terminar de baixar daqui a quatro horas e independente do que aconteça, eu tenho vinte e quatro horas! DÁ pra eu refazer algo em vinte e quatro horas - ainda mais quando eu sei exatamente como fazer, eu só preciso que a droga do programe salve o arquivo junto com o áudio u_u'

É.

E o dia está cinza e estou com fome.


Imagem de The Runaways, ainda nem assisti, mas parece que já lançaram nos EUA. Malditos u.u'

Foi pra dar um feliz dia do rock'n'roll pra você e que escute muitas bandas rock'n'roll e que faça a mão chifrada e desafie os conspiracionistas com sua rebeldia -Q

domingo, 11 de julho de 2010

Tá todo mundo entendendo de ocultismo agora,

e isso me deixa puta, pronto, falay.



Primeiro é a merda dos Illuminati. Parece que depois que Dan Brown ~ sei lá se esse é o nome correto ~ lançou O Código da Vinci e Anjos e Demônios, todo mundo se sente no direito de vomitar asneiras sobre maçonaria, ocultismo, astrologia, Illuminati, seitas secretas, teorias de conspiração, símbolos e tudo o mais. Essas pessoas não entendem absolutamente nada, mas acham que o olho de Hórus é o símbolo do capeta e que maçonaria é uma ordem secreta. Sim, tão secreta que as lojas maçônicas podem ser visitadas pelo público e tem uma ficha de inscrição para ser da maçonaria. Para qualquer pessoa.

Eu sou do tempo que seitas secretas convidavam somente pessoas selecionadas a dedo na escuridão da noite. Mas se eles dizem que seitas secretas são aquelas que tem ficha de inscrição pra você entrar, beleza, não vou discutir.

Aí vem a história de Illuminati. Aposto que você não sabia que Illuminati é uma ordem blasfema, secreta que age na indústria do pop (e de acordo com o blog A Indústria Satânica Exposta - eu não acredito que alguém leve a sério esse blog! Mas aparentemente alguém leva a sério - Illuminati tem os marionetes, agentes, etc. Muito bem organizado) e que pretende dominar o mundo. Através do Mondex - uma espécie de chip que vai controlar o mundo. Tipo a história rola há anos. Ninguém foi dominado ainda.



E o perigo dos Illuminati não é porque eles vão assassinar a gente. Ou tomar a internet. Ou cortar os cabos de alimentação. Não, eles são mais perigosos do que o Irã, Coréia do Norte e EUA lançando bombas atômicas JUNTOS simplesmente porque eles agem contra a santíssima Igreja Católica. Que amor, né? Eles são hereges e tá todo mundo com medinho deles. Parece que tudo que eles fazem é executar uma lavagem cerebral nos videoclipes: Lady Gaga é um belo exemplo. Todos seus clipes estão recheados de ocultismo. Principalmente Bad Romance. Alejandro só não ganha porque nada dali está oculto, tá explicíto mesmo - aproveitando a piada -Q

De acordo com essas pessoas, aparecer só um olho é ocultista. Fazer o símbolo do triângulo também. E nem pense no símbolo de rock'n'roll, é do demo. Mas todo mundo já sabe disso.

É a velha noção do pacto com diabo que vem desde que o mundo é mundo. A gente já conhece essa história há décadas: o nome 'diabo' foi substituído com Illuminati e a paranóia ganhou uma roupagem moderna com as palavras Nova Ordem Mundial, simbologia oculta, ocultismo. Tudo muito moderno, muito coerente. Mas que esquece de fatos que os deuses egípcios são deuses egípcios, não o lado do Satã. Que a maçonaria é só a maçonaria - e perdão, ela é baseada no iluminismo francês que trouxe a gente os ideais de liberdade e igualdade pra todos. E sequer é contra as Igrejas, você pode ser católico e maçom (meu tio, por exemplo ~ acho), wicca e maçom, qualquer coisa. Só precisa ter crença em divindades (ou seja, eu e meu namorado estamos fora hehe).

Baseando de acordo com essas pseudo-teorias, tomem cuidado. Esse blog é satânico. Eu sou do satã, afinal sou atéia e duvido de tudo isso. Vou pagar com a língua quando vier o Juízo Final. Vai acontecer que nem no filme Deixados Para Trás: crianças e crentes irão para o colo de Jesus, eu ficarei aqui com boa descrente assistir o que gente como eu fez: o reinado do Anti-cristo. Esse blog tem no topo duas mulheres que adoro: uma é Madonna, outra é J. K. Rowling. Uma é da música pop, outra é da literatura juvenil fantástica. As duas são do Satã. Uma é linda e loira (só pra combinar, rs), rica, famosa, a Rainha do Pop e faz toda hora o Olho Que Tudo Vê (que é do diabo, claro). E vendo pelos videoclipes, até eu acredito (ou você acha que foi acidental a história do '669' virar '666' no videoclipe What It Feels Like For A Girl aos 4:08?). E Rowling escreveu a maior obra satânica do mundo, só perdendo para a própria Bíblia Satânica, Harry Potter! Esse blog ainda é preto e branco, o que significa que ele tem a dualidade, que significa a luta entre bem e mal, o que de acordo com o blog A Indústria Satânica Exposta (tá, ele é um dos maiores blogs em relação ao assunto e não tenho saco pra ler outros blogs do mesmo gênero) é uma blasfêmia, porque o bem não precisa do mal e bla bla bla. Ainda por cima também tem rosa, e todo mundo sabe que rosa é vermelho com branco (de acordo com minhas lições escolares na 1º série) e vermelho também é uma cor que tem forte simbologia demoníaca (mas dizer que é do diabo, todo mundo duvida, mas dizer que é de uma ordem que pretende dominar com fortes traços satânicos, o povo acredita. Como se não fosse a mesma coisa). Além disso esse blog divulga conteúdo claramente subversivo. Todo mundo sabe que Harry Potter e Christina Aguilera com suas poses 'biônicas' são do capeta. Todo mundo sabe que eu devia era visitar o blog de Cleycianne, me vestir de freira e rezar.

E eu ainda tiro onda com esse povo.

É. O diabo está em todos os detalhes, assim como Illuminati, Nova Ordem Mundial, o escambau. Estou pouco me lixando - quando essas pessoas começarem a parar de paranóia, vão perceber que os problemas são bem mais sérios. O nosso problema não é ter a alma salva, e sim salvar outras pessoas que sofrem no mundo terreno. Se estão tão preocupados com a péssima influência que Lady Gaga, Christina Aguilera, Britney Spears, Madonna, Rowling, Black Eyes Pies (escrevi certo?) e trocentos cantores, dançarinos, escritores e tudo o mais trazem para a gente, eles que vão lá e ajudem a humanidade do jeito que esses artistas ajudam.

Porque eu não acredito em almas. Não acredito em evoluções espirituais, em infernos e paraísos. Mas eu acredito na crueldade e ignorância humana e, para mim, toda essa paranóia com ocultismo só desvia a atenção das pessoas para projetos políticos, guerras civis, assassinatos por homofobia, mutilações genitais e toda uma série de males que atingem pessoas no plano material. E essas pessoas não se preocupam com isso - elas geram ignorância sobre religiões diferentes, elas machucam os diferentes, estupram as antigas mitologias, tudo isso para demonizar tudo que não for coerente com o pensamento deles. Tudo para fazer do mundo um lugar maniqueísta: coisa que não existe.

A humanidade me cansa.



Já avisei. De acordo com os blogs conspiracionistas, estou levando vocês pro mau caminho. Depois não digam que não avisei :)
/adoro uma boa ironia, pena que não sei fazer.

terça-feira, 6 de julho de 2010

ser mulher nunca foi fácil.



Esse trecho (imenso) que transcreverei agora é de um livro chamado O Quarto Procedimento, da autoria de Stanley Pottinger. A sinopse gira em torno de corpos de homens que aparecem com canetas no estômago e a única coisa que eles tem em comum era que estavam presos/foram presos por explodirem clínicas de aborto nos EUA. Aliás, aborto é o tema-chefe do livro. Ele coordena absolutamente todos os passos: a advogada feminista militante, a médica que consegue realizar transplantes entre animais e humanos, o candidato a senador/deputador/algum cargo de governo que esqueci que é namorado da advogada e milita pela permanência da lei que permite o aborto, o juiz que vai contra isso, enfim, uma série de personagens com argumentos contra e a favor da liberação do aborto em Washigton, EUA.

Eu sempre quis passar essa parte pra você porque, de algum modo, eu me senti tocada. Me deu calafrios saber que boa parte das coisas citadas já aconteceu com alguém. E tem coisas que ainda acontecem e isso me faz me sentir mais mal ainda. Mas ao mesmo tempo são coisas como essas que me lembram e reforçam de que as coisas ainda não estão ok pra dizer 'beleza, 'bora descansar', que a igualdade ainda não está completa e que há muito trabalho pela frente.

Eu não vou dizer quem disse isso, nem transcreverei a última frase porque ela é spoiler. Quem lê o prólogo e lê a última frase entende a história toda e aí acaba o suspense.

Observação: tem coisas que não acontecem mais hoje em dia. Outras que tenho dúvidas se já aconteceram de verdade. De qualquer modo, mesmo que 90% nunca tenha acontecido, não aliviará a dor dos 10% que são reais.

"- Por que eu? - [...] - bem, cavalheiros. Deixe-me contar.

- Não fui estuprada por um louco. Não me cuspiram nem xingaram por entrar numa igreja estando menstruada. Não fui segurada enquanto velhas cortavam meu clitóris. Minha vagina jamais foi costurada ou rasgada. Não fui forçada a queimar até a morte na pira funerária do meu marido morto. Não fui afogada no rio Yang-Tsé por ter nascido sem pênis. Não fui vendida para um harém em Cartum. Não fui apedrejada por tocar o Torá. Minha garganta não foi cortada por ter dormido com um homem que não era meu marido. Nunca fui espancada por um cáften (N.L.: cáften é o mesmo que cafetão). Não me mantiveram prisioneira num armário por sete anos. Nunca fui forçada a abençoar um chicote antes de meu marido me bater com ele. Não fui esquartejada com uma serra de cadeia. Não fui morta a punhaladas por Richard Speck¹.

Meus mamilos não foram cortados com uma lâmina de barbear. Não fui sodomizada por meu pai. Meus pés não foram confinados até meus arcos estalarem. Não fui queimada na fogueira na França. Não fui sufocada até a morte pela remoção de anéis de metal de meu pescoço alongado. Não fui enforcada como bruxa em Salem. Não fiquei cega pela sífilis de meu marido. Nunca tive necessidade de fingir histeria, de modo que pudesse evitar relações sexuais e uma gravidez que me mataria. Não fui espancada nem mandada a um asilo por me masturbar.

Não fui testada em um crime, sendo afogada. Não fui uma princesa árabe executada por se recusar a negar que fiz sexo na adolescência. Não fui forçada a matar minhas filhas para impedir que se tornassem concubinas. Meu sangue nunca foi usado para fazer argamassa.

Não tive que suportar chagas com supuração causadas por um cinto de castidade. Não fui torturada até a morte por adultério, tendo minhas pernas amarradas juntas durante o trabalho de parto. Não fui forçada a ver meu estômago ser cortado para salvar uma criança que seria chamada para sempre de bastardo. Nenhum tribunal me mandou abrir mão da custódia de uma criança que engatinha, em favor de um pai que molestava crianças. Nenhum amante me bateu tanto que fui obrigada a me alimentar de canudinho. Não fui pendurada pelas mãos e chicoteada por ter deixado meu véu cair.

Nunca tive que servir de enfermeira para uma das outras seis esposas de meu marido, até sua recuperação. Não fui filmada copulando com cães. Nunca tive a necessidade de escrever minhas últimas palavras em excrementos e sangue menstrual nas paredes de uma cela sem janelas. Não pari um bebê agachada num campo de feijão (N.L.: não entendi muito bem isso). Meus filhos não foram tomados de mim porque saí de casa sem a permissão de um tribunal rabínico (N.L.: relativo ao judaísmo. O judaísmo rabínico é o tradicional). Não fui estuprada antes de minha execução, de modo que meus assassinos pudessem evitar a proibição do Corão para não se matar uma virgem.

Não fui mandada ao deserto como um demônio por ter me recusado a deitar debaixo de meu marido (N.L.: acho que isso é referência à Lilith, mito hebraico de que seria a primeira esposa e foi expulsa do Paraíso, sendo o demônio, por ter se recusado a "ficar debaixo de Adão", ser submissa). Nunca fui chamada de puta por não ter um hímen. Não fui entregue em casamento à idade de nove anos para um nepalês de oitenta. Não fui deixada para morrer sozinha porque fiquei viúva. Não fui uma jovem virgem enterrada viva para aplacar os deuses de uma outra pessoa. Não fui encharcada de querosene e incendiada, de modo que meu marido pudesse receber um outro dote. Não fui presa com anéis de ferro nos pés e acorrentada em um poste para morrer de fome porque amei outra mulher. Não fiquei cega, costurando pontos pequenos em uma loja que pagava salário de fome. Nunca vi uma multidão de homens aplaudindo o Estripador de Yorkshire². Não fui estuprada pelos guardas de minha prisão por ter entrado para um sindicato de mulheres. Não me pediram para casar com o marido de minha irmã mais velha quando ela morreu. Não fui morta em minha noite de núpcias por não ter conseguido mostrar sangue de virgem. Nunca servi a vinte homens de negócios japoneses em um bordel coreano. Minhas pernas não foram serradas e costuradas por trás por ter feito sexo com outro homem que não meu marido. A lei nunca me equiparou a menores, selvagens e loucos. Minha língua nunca foi cortada por ter falado na presença do chefe de minha tribo.

Nenhum tribunal jamais me forçou a casar com um estuprador, de modo que ele pudesse receber uma sentença menor pelo crime (N.L.: se não me engano, até a nossa Constituição de 88, caso a mulher se casasse com seu estuprador, a pena dele era anulada. Mas não achei nada que confirme o meu achismo). Nunca tive que pagar ao coletor de impostos com meu corpo. Não fui morta tendo uma estaca cravada em minha vagina. Nunca me obrigaram a comer piolhos da cabeça de meu marido. Nunca cortaram a carne de meu corpo para alimentar meu avô, a fim de curá-lo de sua doença incurável. Não tive que trincar os dentes no couro para amaciar os mocassins do meu senhor.

Não fui obrigada a realizar felações sem fim em meu velho marido, que não conseguia atingir o clímax. Não fui despedida por me recusar a fazer favores sexuais a um chefe. Não fui rejeitada pela faculdade de medicina, nem excluída de um clube para o qual desejei entrar, nem fui privada da presidência do meu departamento, nem me negaram a Medalha da Liberdade. Nunca fui forçada a coser botões na camisa de meu marido. Nem mesmo fui mandada para o quarto por conduta inadequada para uma dama.

[...]

Não cometi os crimes de que sou acusada por nenhuma dessas razões. Eu cometi por todas elas. Porque, muito embora nenhuma dessas coisas tenha acontecido comigo, algumas delas podia ter acontecido. E uma que não mencionei, aconteceu. E por quê? Poir causa do crime mais hediondo de todos. Aquele do qual sou profunda, notória e incontestavelmente culpada.

Eu sou mulher."

¹ Richard Speck: ele estuprou e assassinou oito estudantes de enfermagem em Illinois, Chicago. Morreu em 1991, na prisão. Artigo em inglês na Wikipedia aqui.
² Estripador de Yorkshire: serial killer condenado em 1981 por ter assassinado 13 mulheres e atacando outras na Inglaterra. No momento está vivo, cumprindo prisão perpétua. No dia 16 de julho, a Suprema Corte de Justiça ouvirá sobre a possibilidade de conceder liberdade condicional. Artigo em inglês na Wikipedia aqui.

O link do cinto de castidade foi para que apareça a imagem, mas eu queria ambas as imagens e a descrição. Então, por favor, relevem os comentários. São nojentos demais - aparentemente é um blog sobre sadomasoquismo.


imagem retirada do We♥It