sábado, 26 de março de 2011

uma nova música para vocês

Eu amo música. Muito. Demais. Como a maioria das pessoas, música é algo que me inspira, me influencia, me anima ou me relaxa. Eu tenho cantores que amo e cantores que odeio, e bandas que adoro e bandas que detesto. Como a maioria das pessoas, eu tenho preferência por certo gênero e por um certo tipo de timbre. Eu gostaria de entender teoria musical e o que faz Beyoncé ser tecnicamente uma cantora melhor do que Christina Aguilera, mas eu acabo não ligando muito para vibratos e melismas. Eu só escuto - e mesmo que desafine, se eu gostar, é bom. Se eu sentir emoção, se eu sentir algo ali, é bom. Mas curiosamente, para muitas pessoas, eu tenho uma música predileta - para mim, é a mais bonita, a mais vibrante, a mais linda de todas - e ela sequer é do pop.

Na verdade é de uma banda alemã chamada Qntal - não faço idéia de como se pronuncia. Não sou fã da banda - eles lançaram três CDs desde 2005 e simplesmente não tomei ciência disso. Mas eles fizeram um CD chamando Tristan & Isolde e eu tenho a leve impressão de que o cd tem todo o conceito da história, mas não tenho certeza. É surpreendentemente difícil achar traduções das músicas, simplesmente porque eles não escrevem em inglês ou alemão. Na realidade compõem em latim, alemão medieval, galaico-português e uma série de outras línguas extinguidas pelo tempo. Ao mesmo tempo que adoro essa iniciativa deles, eu considero irritante a forma como isso dificulta pra caramba o trabalho de saber sobre o que eles estão cantando.

De qualquer modo, apresento a vocês Maravillosos. Pelo pouco que consigo entender do latim, subentendo que é uma música com temática religiosa. Mas eu amo a melodia, amo os vocais, amo tudo.

Maravillosos et piadosos et mui fremosos miragres faz
Santa Maria, a que nos guia
ben noit’ e dia et nos dá paz.

E d’est’ un miragre vos contar quero,
que en Frandes aquesta Virgen fez,
madre de Deus, maravillos’et fero, por hua dona que foi hua vez
a sa eigreja d’esta que seja
por nós et vejamola sa faz
no parayso, u Deus dar quiso
goyo et riso a quen lie praz.

Maravillosos …

A questa dona leuou un menynno,
seu fillo, sigo, que en offrecon
deu aa Virgen, mui pequenynno,
que de mal ll’o guardass’e d’oqueijon
et lle fezesse per que disesse
sempr’e soubesse den ben assaz,
que, com’aprendo, seu pan comendo,
foi mui correndo, parouss’en az.

Maravillosos…


Eu upei o álbum que contém essa música no 4Shared. Eis o link AQUI. Aproveitem o/

Eu sei que não é um post muito bom, mas eu realmente queria deixar algo de útil: um link de uma banda não muito conhecida para ver se vocês gostam :)

segunda-feira, 21 de março de 2011

sobre homens que não querem ajudar

Tá rolando uma propaganda aí da Bombril que repete aquela velha história "homens, vocês são incompetentes, deixem o trabalho de casa para as mulheres". Sabe como é, as agências de propaganda parecem A-D-O-R-A-R a idéia de que mulheres xinguem homens de inúteis e incompetentes em comerciais e acham que isso é feminismo. Fazem comerciais de sabão em pó e de aspiradores de pó e dizem que é para gente, porque os nossos maridos não consegue lavar a louça sem quebrar um prato, então é melhor que a gente o faça. Uma vez a revista Veja fez uma matéria estúpida justificando que homens não tem aptidão natural para cuidar de bebês e que toda essa pressão para o homem ser pai está causando frustração simplesmente porque sem aptidão, sem talento, sem saber cuidar direito e tudo o mais. Como se trocar a fralda de um bebê não pudesse ser feito por um homem. Como se um homem não conseguisse lavar a louça. Como se o gênero masculino, como um todo, fosse incapaz de executar absolutamente qualquer serviço doméstico.

Aí, hey!, vem os homens praguejarem, jogando toda a culpa em nós, feministas mal-amadas, lésbicas, sapatonas, fedidas que só querem um pau na vida e nada mais, dizendo que somos nós que bagunçamos a ordem natural das coisas, que destruímos a família e se agora mulheres sofrem de jornada dupla e os homens da pressão de serem pais e maridos e provedores do lar ao mesmo tempo, a culpa é única e exclusivamente nossa. Vocês são uns idiotas, é tudo o que digo. Não percebem que a droga da jornada dupla não é culpa do feminismo, mas sim do machismo de vocês que impede que haja uma divisão justa de tarefas de casa. Não percebem que se vocês não sabem lavar louça ou encerar o chão da casa, é porque nunca foram ensinados a isso e aprenderam que não deveriam porque era atividade de mulherzinha - e não foi o feminismo que incutiu esse conceito, foi o machismo. É o machismo que impede os homens de se levantarem e ajudarem suas esposas e filhas DE VERDADE, dividindo tarefas e não apenas um "vou lavar a louça porque você tá cansada, querida". É o machismo que impede que os homens aprendam que não são incapazes de cuidar de um bebê. É o machismo que impede que um homem entenda que ele não precisa provar que é o macho alfa para todo mundo.

Vocês estão direcionando para o inimigo errado. Jogam nas mulheres toda a culpa da sociedade estar diferente do que estava trinta anos atrás e ainda querem sustentar uma versão linda e maravilhosa da família com Amélia, afirmando que antes éramos respeitadas e valorizadas e agora temos que nos contentar com as letras de funk e degradação sexual e que tudo isso é única e exclusivamente nossa culpa. Então eu só digo, com todo o respeito, que CALEM A BOCA.

Vocês não sabem droga alguma de como era a realidade das mulheres. Vocês inventam de como a vida era perfeita e maravilhosa e o pior de tudo, ainda tem mulheres aumentando as fileiras do saudosismo estúpido, acreditando fielmente que as mulheres do século XIX eram valorizadas e respeitadas e amadas quando não tinham direito ao voto, nem à opinião, eram deserdadas se transassem com qualquer um fora do casamento, eram condenadas se fossem estupradas e não poderiam sequer estudar em paz. Vocês acham que a vida é tão fácil, e não entendem que não podem entender as mulheres simplesmente porque não o são. Vocês nunca entenderão o que é ter como a maior causa da morte sofrer o ato final nas mãos de um homem, geralmente nosso parceiro. Vocês nunca entenderão o nosso medo de ser estuprada - ou no caso de muitas por aí - de acontecer outra vez. Vocês nunca entenderão absolutamente nenhum desses detalhes - não enquanto vocês não aprenderem a olhar além do seu mundinho cor-de-rosa e fofo onde mulheres são respeitadas e amadas.

O mundo não ama as mulheres.
E o mundo não ama os homens que amam as mulheres.

Entendam isso, somente.


domingo, 20 de março de 2011

reflexões sobre presente e futuro

E então há uma nova ordem.
Dizem que há uma conspiração para que as coisas mudem, algo demoníaco e satânico. Dizem sobre videoclipes de cantoras pop que fazem alusão à borboletas monarcas, chifres de bode e pisos em xadrez preto e branco e dizem ainda que são todos sinais de algo maior. Dizem que o mundo vai mudar, que teremos que fazer sinais na nossa pele para continuar comprando alimentos e quem não quiser fazer será posto de fora, à margem da sociedade. Dizem que é o Diabo por trás disso tudo, dizem que as coisas vão piorar, dizem que é tudo Illuminati ou então que é maçonaria e dizem tantas coisas que eu me perco entre a realidade e ficção. E então todos ficam com medo do mundo mudar, sem perceber que se o mundo não mudar, de uma forma ou outra, estamos fadados ao tédio e, no final das contas, à tragédia final.

Porque é assim que as coisas são. Um dia o mundo mudará. Um dia as crianças deixarão de ser as crianças que fomos, e os adultos deixarão de ser os adultos que seremos. Um dia abandonaremos todo o nosso conceito de infância e construíremos outro. Um dia deixaremos um preconceito de lado e adotaremos outro. Um dia esquerda e direita mudarão de lado e se alternarão entre o mocinho e o vilão da história. Um dia eu morrerei e então serei enterrada e daqui a duzentos anos, haverá uma lápide com a epígrafe que talvez meus descendentes escreverão. Um dia eu verei as pessoas que amo morrerem e eu irei ao enterro deles e eu chorarei. Mas no dia seguinte, eu ainda vou acordar e entender como poderei sobreviver à dor. E então algum dia esse blog será uma coisa pré-jurássica e vocês terão uma nova moda.

Porque o tempo passa. Temos tanto medo de como ficará o futuro caso os Illuminati mostrem sua cara e decidam como será a Nova Ordem Mundial que esquecemos que o presente não é exatamente dos melhores. Nós vivemos em um mundo em que 1 em cada 3 mulheres no mundo já sofreram agressão do parceiro e em que a prostituição infantil movimenta 7 bilhões de dólares ao ano, de acordo com a Anistia Internacional. Mas é tão cômodo para nós, com internet em casa e comida na geladeira, que não desejemos que o mundo mude. É cômodo, é confortável, é quentinho - como estar em um cobertor. E não entendemos que o tempo passa e que um dia nós morreremos.

Por que as pessoas tem tanto medo do futuro como se ele fosse um monstro pronto a nos destruir? Hey, um dia você morrerá. Um dia eu morrerei. E pode ser a qualquer momento, a qualquer hora. Pode ser amanhã e esse pode ser meu último post para Pernície. Há uma nova ordem pronta a nos destruir? Hey, mas que diferença isso fará? Porque as coisas mudam e um dia, inevitavelmente, países cairão, reinos ascenderão, ditadores assumirão o poder e reis perderão sua coroa. É inevitável, porque é a história assumindo seu curso, sendo a consequência dos milhares e pequeninhos atos feitos anos e anos atrás. A América Latina e a África pagam o preço da colonização de quinhentos anos atrás, e um dia faremos alguém pagar o preço igualmente. Muçulmanos e cristãos se odeiam meramente por uma guerra de mil anos atrás e nós achamos que está tudo bem. Hey, acostume-se com isso: as coisas vão mudar.

Você nunca conseguirá tudo o que quer. Você nunca será feliz o tempo todo. Você nunca vai se sentir safisfeita com a sua vida, sempre faltará alguma coisa e você sempre irá atrás dessa coisa - e tudo isso determinará o restante de sua vida. Como uma borboleta que bate asas e determina um terremoto. Você pode organizar sua mesa completamente e talvez seu guarda-roupas, mas sua vida sempre estará fora do seu controle. Presidentes pensam que pode reger o destino de seus países e todos acreditam que a ONU pode resolver todos os problemas, mas estão todos errados: a humanidade é algo desenfreado, cruel, imprevisível. Não há rei nem deus a governar nações tão complexas e pessoas tão simples. Não há como você exigir que as coisas continuem fixas, suspensas no tempo - elas vão mudar, independente de uma nova ordem mundial ou não.

Esqueçam, por favor, as borboletas monarcas e os unicórnios, eles não são importantes. Lembrem-se que por mais poderosa ou sinistra seja uma seita, ela nunca conseguirá governar um planeta inteiro composto de centenas de religiões e crenças e pessoas completamente diferentes uma da outra. Por mais poderoso que seja um país, um dia seu império cairá. Por melhor que seja as intenções de um embaixador da paz da ONU, alguém vai ser prejudicado com isso. Então é só respirar um pouco e lembrar que o tempo vai passar. E que as coisas vão mudar. E que talvez elas não mudem para melhor - mas decididamente elas não vão ficar melhores se você não fizer nada a respeito.



from We♥It

quarta-feira, 16 de março de 2011

"Almas Unidas"

Eu nunca gostei muito de blogs literários, nem de blogs sentimentais. Eu sempre preferi aquele gênero "informação", de blogs que falem de política e feminismo e coisas do gênero. Mas hoje eu não estou exatamente boa (em termos físicos, não psicológicos, não se preocupe) e achei uma história que escrevi há tempos. E eu queria postá-la aqui.

Essa história foi escrita para um concurso que a revista Capricho promoveu. O tema era "romance sobrenatural" e o vencedor ganharia vários livros de Meg Cabot. Eu não ganhei o concurso (o texto que venceu era algo sobre uma garota e um vampiro), mas deixei o texto aqui e eu gosto dele ainda, mesmo com todas as falhas.

O texto tem exatamente 500 palavras, o máximo permitido, e me inspirei um pouco na novela Alma Gêmea - porque Serena, a mocinha, só reencarnou para buscar a alma do amado dela e assim se unirem. Não tem reencarnação, mas tem almas que deveriam estar unidas. É curto, é pequeno, nem é tão bom. Mas eu o amo.

A seguir, "Almas Unidas" (o título original é Unidas as Almas, mas soou estranho hoje).


Não conseguia dormir o rapaz.

Só olhava o lago com olhos vazios, olhos que muito perderam na vida. Estava ali, encarando as águas calmas, perdido em lembranças amorosas. Com carinho, mergulhou os pés no lago, murmurando alguma música que Lara gostava muito de cantar. Fazia como sua amada: cantarolava com doçura, sempre repetindo os versos pausadamente. Mas Lara se foi. Seu espírito aventureiro se afogou junto com seu vestido de noiva, e seu sorriso não apareceria mais para confortar o noivo que deixou no altar, à sua espera. Agora tudo o que restava são memórias que só aumentavam a dor, janelas que se abriam misteriosamente, beijos que ele sentia na calada da noite. Acordava, sobressaltado e ofegante, lembrando das palavras ásperas e mexicanas. Sempre. Aquela vidente tinha olhos escuros e voz gutural.

Nunca poderão ficar longe. Nunca.

Mas agora as palavras não tinham importância. Estava longe de Lara, atrás do véu do mundo dos mortos. Queria estar com ela agora, ver seus delicados olhos a sorrirem, rir mais um pouco. Só que estava à beira do lago, perdido da vida. Ergueu os olhos, imaginando Lara remando, com toda alegria e coragem. Mas Lara estava. Sentada nas águas, sorriso aberto. Vestido de noiva a lhe rodear, olhos castanhos a sussurrarem conforto. Ele, perdido e louco, ergueu ambas as mãos a pedirem um pouco de riso.

Sempre ficarão juntos, por toda a eternidade.

— Venha – ela disse, abrindo um gentil sorriso e abrindo os braços – e nós nunca ficaremos longe um do outro novamente.

Estava delirando? A resposta em nada importava. Lara era tudo o que ele queria. Lara era tudo que importava. Mergulhou no lago, sem saber nadar, atrás da sua amada. As águas negras se agitavam com indiferença, não sentia mais o chão abaixo de si, e podia ter coisas perigosas naquele lago banhado pela noite. Alcançou Lara. Sentiu na carne o cheiro de sua amada lhe dando a mão. Mas quando a tocou, nada conseguiu sentir. Estava ali, à sua frente, mas tocar Lara era o mesmo que tocar o ar. Vazio. Triste. Nada.

— Meu querido – Lara lhe abraçou. Era só vento. Só ar. Uma estúpida ilusão de quem tivera alguém roubado. Chorando, tentou se entregar à Lara, sofrendo o pesadelo do homem pela metade. Tremendo de frio, começou a boiar, já não pensando mais em viver.

Ele fechou os olhos, lágrimas ainda lhe cegando. Lara o acolheu, beijou sua testa, lhe disse mil vezes o seu amor. Partia-lhe o coração buscar a alma de quem amava, mas a vidente há muito dissera que almas unidas jamais poderiam se separar, nem mesmo quando a morte vinha. Não havia mais chão debaixo dos dois, e ele não sabia nadar.

Com tristeza, sentiu o peso da alma em suas mãos. E com alegria sentiu o calor de ter, novamente, de volta metade de quem era. Porque não eram duas almas distintas, e sim, metades que se precisavam, se queriam, se amavam. E Lara, compadecida, levou o amado para si, para o além.


from We♥It

domingo, 13 de março de 2011

uma resenha curta e pouco digna para uma obra tão boa

Fechando a conta nesse Carnaval, eu assisti uns seis filmes [Burlesque, Atividade Paranormal 1 e 2, LelleBelle, Warrior Way -algoassim-, Cisne Negro para fechar] e ainda acho que esqueci algum nessa lista. Assisti poucos episódios de Supernatural, parei bem quando Sam recupera sua alma - ainda não vi o que vai acontecer. Assisti os últimos episódios de Glee. E terminei de reler a série Harry Potter e li o primeiro livro da série Os Instrumentos Mortais, Cidade dos Ossos. Basicamente não se pode dizer que fiz algo de útil, a não ser assimilar conteúdo digno e artístico. E definitivamente o que mais causou impacto foi meramente um filme.

Cisne Negro.

Assisti ontem e talvez, por isso, eu ainda sinta todo o drama da protagonista. E eu sei que o filme está sendo falado horrores em tudo que é canto, mas é que é aquele tipo de filme que você não consegue deixar de comentar, sabe? Eu não sei muito bem o que comentar do filme sem estragar as surpresas e mesmo que eu falasse do começo ao fim, não ia estragar nada - você ainda teria que assistir para entender e ter a sua visão. Natalie [a fdp que é linda, inteligente e talentosa e eu quero matar um dia, beber do sangue dela e absorver todos os talentos dela como os índios canibais de antigamente] interpreta uma bailarina, isso você já sabe. É sobre balé, você também sabe. E é um terror psicológico, bem, você também tá sabendo disso.

Primeiramente eu gosto desse gênero - acredito fielmente que fantasmas e maldições ferem muito pouco comparado aos estragos em nossas mentes, profundezas de traumas e personalidades. Em Supernatural, por exemplo, por mais sofrimento que Sam tenha passado na vida, ainda assim o maior inimigo é ele mesmo - sua personalidade que quase o levou às ruínas várias vezes. Você pode observar isso em vários filmes e livros - nós, independente do que tenhamos passado, escolhemos como passar por aquilo - e é essa escolha que faz com que nós possamos ficar bem ou não. Nina é frágil e desequilibrada, e também é ambiciosa. Ela passa quase o filme todo com expressão sofrida como se não merecesse nenhuma dos elogios, embora ela deseje o papel principal, e mesmo quando ela o ganha, ainda assim ela é hesitante sobre se ela merece ou não aquilo. Ela tem dúvidas sobre o quão boa é, mas no fundo ela tem certeza de que aquilo é tudo o que ela deseja fazer. Porém essa ambição é o que a prende e a arruina psicologicamente, e ela percebe que está se dividindo cada vez mais e não é no sentido financeiro.

Tudo é delicado, arrebatador, triste, incômodo - é um filme terrivelmente belo ou belissimamente terrível. Tem cenas de profunda agonia envolvendo unhas e pele, tem sustos eventuais e a parte mais importante: não, você não terá fronteiras entre o real e o imaginário. Não imagine terminar o filme sabendo o que aconteceu mesmo e o que não aconteceu, e muito menos você terá as respostas. Na verdade você terminará o filme com mais perguntas do que respostas, e uma boa oportunidade de se refletir sobre o filme a partir de praticamente qualquer pressuposto. Você pode relacionar o filme com distúrbios alimentares, absuso sexual, proteção extrema, ditadura da beleza e por aí vai. E tudo isso com passadas de balé. E eu não sei mais o que dizer do filme, porque não tem muito o que dizer. Eu só vou dizer: hey, assista. Depois você vem me contar o que achou.


segunda-feira, 7 de março de 2011

clubes noturnos e violinos,


Olha, eu não esperava grande coisa de Christina enquanto atriz não. As pessoas que me conhecem sabem o quanto eu a amo, idolatro e venero e eu praticamente sou aquele tipo de fã que acha que ela é a melhor em tudo que faz e não deve ser subestimada, nem seus talentos questionados. Mas isso é papo de fã e eu como fã ardorosa fiquei com receio quando o filme Burlesque, primeiro filme com ela e tudo o mais, iria estrear. Porque, vocês sabem, cantoras pop raramente dão boas atrizes. Quer dizer, temos bons exemplos como Barbra e Cher. Acontece que isso não é regra, e sim exceção. Madonna só se destacou mesmo em Evita, o único filme que todo mundo deu crédito e rendeu prêmios. Mas veja a ex-amiguinha de adolescência de Christina, a Britney Spears. Vá ver o único filme que ela fez, lá na época que ela sensualizava com uma cobra. Crossroad é um filmezinho adolescente totalmente clichê e a atuação de todo mundo é duvidosa. Nada ajuda: nem o roteiro, nem a história, nem a Britney salva a trama. Então vocês podem imaginar o meu receio ao imaginar como Burlesque seria, ainda mais porque Christina não é exatamente lá essas coisas em drama (Hurt e You Lost Me, seus videoclipes mais chorosos, comprovam isso).

E não é que me surpreendi? Sabe, Burlesque não é nenhuma obra de arte. E eu sou suspeita para falar porque eu amo musicais e amo filmes sobre mulheres. Musical é um gênero que me atrai desde criança por ter muita dança, muita música, muita arte, é algo que é maior do que apenas um filme, é só aquele sentimento de você estar ali, representado no meio da fotografia, atuação, roteiro e música. Para mim, o melhor musical é Chicago, eternamente, e não existe um que eu consiga odiar realmente, por mais que seja ruim (tipo High School Musical). Sempre acho que musicais, por piores que sejam, sempre tem uma música boa no meio disso tudo ou algum momento cômico que faça você dar um sorriso. Então eu sou totalmente suspeita para falar de Burlesque, porque é um musical recheado de números de dança muito bem orquestrados e trabalhados, e eu adoro músicas do gênero. E eu amo Christina Aguilera, acho a voz dela linda e perfeita - mesmo ela não tendo tanta técnica quanto, sei lá, Mariah Carey.

Quem se destaca no filme? A Christina, por ser protagonista, obviamente. Ela tem 30 anos, mas no filme parece uma jovenzinha de vinte anos com seus cabelos loiros e brilhantes (uma peruca obviamente, já que na época das gravações ela estava com o corte chanel) e olhar de criança. E tem vezes que você consegue esquecer que ela é a Christina - vencedora de cinco Grammys - e só vê a Ali, garota que veio do interior para fazer sucesso. A atuação dela se garante ali. Mas não espere demais do roteiro, porque a história não tem nada de mais. O começo é risível - em menos de cinco minutos, a Ali já chega em Los Angeles para fazer sucesso e simplesmente não tem espaço para desenvolver a personagem. Sabemos muito pouco dela antes, e depois descobrimos somente que ela não tem ninguém e que a mãe dela morreu quando ela tinha lá uns sete anos. Os outros tem seu destaque: Cam que interpreta um garçom pianista de músicas nunca prontas e possui um estranho ar de mímico quando está usando delineador, a Cher que é a chefona do local e até que se dá bem, mesmo com todo o botox que impede pessoas de atuarem bem, Kristen Bell faz uma malvadinha vilã que não assusta nada e o adorável Stanley Tucci que absolutamente brilha em Ossos Adoráveis (minha tradução do filme que é conhecido como Um Olhar do Paraíso, fiz uma review dele aqui) volta ao seu papel em O Diabo Veste Prada para ser um cara que simpatiza com a mocinha e é um amável amigo da durona.

Mas o que segura o filme nem de longe é a história, é simplesmente as perfomances. Uma a uma elas se sucedem, tendo pouco a ver com a história do filme em si (o que diferencia dos musicais como Moulin Rouge ou Chicago, cujas músicas eram entrelaçadas à história). São, em geral, números do clube noturno que é o palco principal da história, mas você não desejará pulá-las: a dança frenética e ritmada, a voz poderosa de Christina que guia a maioria das músicas e a atuação que fica entre cômica e sensual combinam muito bem, como se fossem plano de fundo da vida que todos ali tem, mas ao mesmo tempo sendo o elemento principal. Eu adoro comentar as músicas. Tenho adoração especial pela primeira, a Something's Got A Hold On Me que é contagiante e divertida. Mas você só começa a se surpreender quando Christina canta Tough Lover, no começo à capella, depois tendo a banda. Mas no meu olhar de fã, eu acho que a melhor perfomance é a da música But I Am a Good Girl. Eu sei que as pessoas preferem Express que foi perfomada no AMA 2010 ou Show Me How You Burlesque, mas eu adoro essa partezinha adorável de uma garota brincando com grifes. Christina está absolutamente linda e amável, e dança melhor do que nunca (e eu espero, sinceramente, que ela lembre de todas as aulas de dança que teve na hora de fazer suas futuras turnês). Basicamente o roteiro é clichê, mas a atuação, música, figurino, bem todas essas coisas são tão deslumbrantes que faz valer as suas duas horas valerem a pena.

Para baixá-lo [legendado]: Filmes com Legenda



Mas se você não gosta de musicais ou de cantoras pop, eu sugiro outro filme. Ele é sueco, o que confere um automático ar cult - não importa o quão trash seja. Você sabe que europeus nunca são ruins, somente "cult trash". Europeus sempre tem classe. O filme em questão chama-se LelleBelle - não sei o que exatamente significa o título, acho que está relacionado ao nome da garota que é "Bella sobrenome-que-não-lembro". E você deverá ver se você gosta de filmes suecos, filmes sobre música clássica e/ou filmes sobre sexo - em todos os sentidos. A protagonista Belle é uma garota de 19 anos, virgem (sim, essa informação é importante) que só pensa na carreira. Ela quer ser uma grande violinista e passa horas ensaiando várias composições clássicas, e é a única em seu meio que não pensa muito em sexo - seu namorado está louco para chegar nas finais e sua mãe trabalha com algo relacionado (não explica muito bem, é como se fosse um retiro para casais transarem). Ela consegue uma audição em uma escola conceituada de música, fica toda empolgada e corre para fazer a primeira fase. E toda sua vida muda.

Belle acaba descobrindo que ela toca melhor violino quando ela recém-acaba de dar uns amassos em alguém - descobriu isso quando um estranho aparece do nada e lhe beija antes de ela prestar a primeira prova, o que deixa ela alvoroçada e cheia de fogo - e faz com que ela passe para a segunda fase. Daí em diante, Belle passa a procurar o rapaz que lhe beijou e pensa que para que possa tocar violino maravilhosamente, ela precisa de sexo - e busca isso com garotos de programa. O filme não tem o típico ritmo de Hollywood e nenhuma piada suja a respeito, somente as cores vívidas e a poesia delicada da fotografia e cenas - que são explícitas. Não considero que seja exatamente um filme que você veja em uma família conservadora, considerando que não existe barreiras nem obstáculos: há sexo entre meninas e orgias sensuais, e não há nenhuma discussão sobre se o que ela está fazendo é certo ou não. Não existe ninguém para dizer que ela deve se prender ou não, e Belle descobre aos poucos o que a satisfaz e o que a deixa insatisfeita e como ela deve buscar a melhor maneira de explorar seus talentos sem magoar pessoas, e apesar de tudo a música ainda dita o filme: você vê jovens de vinte anos se maravilhando com violinos, contrabaixos e pianos.

Para baixá-lo [legendado]: Filmes com Legenda