terça-feira, 31 de julho de 2012

deu branco, desculpa

odeio ficar com falta de assunto, mesmo o mundo fervilhante de novidades.
enquanto isso, fiquem com essa música super depressiva de Marina and the Diamonds que é a trilha sonora para a galera hispter da depressão cortar os pulsos.

a menos que tu curta a Lana Del Reyzzzz lol

enfim, escute teen idle e corte seus pulsos em sua banheira. ou, se você é como eu e não tem banheira, se mate se entupindo de chumbinho escutando poeticamente a marina em seus ouvidos.


terça-feira, 24 de julho de 2012

sobre valente, disney e ligações emocionais


[ aviso de spoilers. gigantes. espetaculares. assista ao filme primeiro, please. e isso é uma análise sobre disney também LOGO ]

Eu assisti Valente sábado e saí do cinema maravilhada. Aquela sensação de "eu vi algo que valeu a pena gastar centavo do meu dinheiro". Aquela sensação de "eu compro o DVD desse filme" (não, não o Blu-Ray porque sou pobre e nem aparelho desse troço novo eu tenho). Aquela sensação de eu ter me sentido representada em algum filme de desenho animado - coisa que eu não sentia desde... Mulan. E Pocahontas.

Eu vi alguns homens gritarem pela internet coisas como "filme idiota", "filme babaca", "filme clichê", "filme previsível" e, sinceramente, tenho que ser bem sexista assim, mas eles não diriam essas coisas se fossem mulheres. Em nossa linda sociedade (só que não), homens são criados vendo filmes diversos - Homem-Aranha, Toy Story, Procurando Nemo, Harry Potter e uma série de filmes cujos os protagonistas são homens e histórias se passam em torno de homens contra homens com apoio de outros homens. Mulheres normalmente são coadjuvantes nesses filmes (alguns com pouco grau de importância, outros sendo muito importantes como Harry Potter) e se for um filme de super-herói, é uma mulher com curvas estonteantes. Mas nós, mulheres, nessa sociedade binária em que vivemos, somos criadas assistindo filmes de princesas. Claro que vemos Homem-Aranha e Toy Story e torcemos por Harry Potter, mas nós temos uma criação que nos condiciona a torcer e nos identificar com princesas.

A Disney fez dez filmes de princesas para gente, antes de Valente. Há Atlantis - O Reino Perdido, mas o pobre do filme é tão flopado que mal aparece na série Princesas, por exemplo, que nem tô contando. Também não estou contando Meg (Hércules) ou Esmeralda (Corcunda de Notre Dame). Estou contabilizando aqui a Branca de Neve, Cinderela, Bela Adormecida, A Bela e a Fera, A Pequena Sereia, Pocahontas, Mulan, Tiana, Rapunzel e Jasmine. Nós temos essas dez princesas como referências infantis. Mesmo que nossos pais não nos incentivassem a assistir esses filmes, nós temos essa influência de todos os cantos: nos cadernos que compramos, nas mochilas que usamos, nas roupinhas que vestíamos, nas brincadeirinhas nos quais a gente dizia que princesa era. 

Elas são a nossa referência do que queremos ser, da aparência que queremos ter, do comportamento que adotamos. 

eu emociono horrores com esse começo ok ~ from / lovelydisney

Todas elas se casam no final. Todas elas são tidas como lindas, atraentes, apaixonantes. No primeiro de todos, Branca de Neve (1937) é totalmente passiva. A outra única mulher é sua madrasta, a vilã maligna. Todos os outros personagens (humanos, diga-se de passagem) são homens e bondosos. O caçador que não a mata, os sete anões que a ajudam, o príncipe que a salva. Branca de Neve, feito nos anos 30, é uma princesa que nem se digna a bater de frente, simplesmente foge, cai nas tramóias da madrasta algumas vezes e então é salva com um beijo. Temos Cinderela, de 1950, cujas vilãs são a madrasta e suas duas filhas. Mas temos a fada-madrinha e, pelo menos, Cinderela se dá ao trabalho de ir ao baile. O depois é determinado pelo príncipe. Mais uma vez, o final feliz é o príncipe se casando com ela. Temos, então, A Bela Adormecida (1959). Ela, ao menos, conhece o príncipe e se apaixona por ele antes. Podemos perceber muito sutilmente uma certa mudança em relação à ela querer escolher o seu príncipe. Então ela é enfeitiçada, cai em sono profundo e o príncipe luta com a bruxa que vira um dragão, a vence e, amém, ambos vivem felizes para sempre.

E então temos um salto, no qual passou a Revolução Sexual dos anos 60/70 e depois o backlash dos anos 80. A Disney passou por maus bocados com a morte de Walt Disney, mas se restaurou com A Pequena Sereia, em 1989. Assim como as outras, Ariel é órfã (ok, Aurora não é realmente órfã, mas pensa que é, o que dá no mesmo psicologicamente falando) e isso significa que ela não tem uma referência materna. As outras mulheres são suas irmãs que aparecem pouco. O seu pai é o Rei e a reprime constantemente, e Ariel deseja conhecer a terra, a superfície. Ao conhecer Eric, o príncipe, ela resolve pedir ajuda à Úrsula, uma bruxa, e troca sua voz por pernas. E assim pode viver na terra ao lado de Eric, sem poder falar. E assim temos mais um filme para nós, garotas, no qual a protagonista sacrifica algo precioso. E no final, a recompensa é um casamento.

Dois anos depois, em 1991, temos A Bela e a Fera que foi o primeiro filme animado que ganhou um Oscar de Melhor Filme. Nós vimos aqui, pela primeira vez, a protagonista se dando ao luxo de rejeitar um pretendente por considerá-lo fútil, porque Bela gosta muito de ler. Seria muito animador se ela não virasse a prisioneira da Fera e então se apaixonasse por ela. Nada contra Síndrome de Estocolmo, mas que tipo de mensagem estamos passando à nós mesmas, que temos Bela como nossa favorita muitas vezes por nos considerarmos inteligentes e ansiosas pra conhecer o mundo lá fora? Bela se vê em uma relação claramente co-dependente da Fera, e o final do filme é, novamente, o casamento entre ambos - a Bela aprendeu a amá-lo, a Fera aprendeu a ser menos fera, digamos assim. E o vilão (um vilão homem) morre.

Temos em seguida Aladdim (1992), no qual o protagonista é um homem, Alladim, um ladrãozinho de rua que se apaixona pela princesa, Jasmine. Jasmine recusa todos os pretendentes. Ela é atraente, bonita, e tem a pele um pouco mais escura do que as princesas anteriores - o que significa um pouco mais de representação. Sua determinação em recusar os pretendentes e se apaixonar justamente por Aladdim demonstra que a Disney deu um pouquinho mais de vontade própria à uma princesa - mas isso é muito tímido considerando a época: anos 90, quando mulheres já chefiavam suas famílias e precisavam serem respeitadas como iguais. Lembrando: nós absorvemos essas princesas como referências. Nós aprendemos a sermos passivas como Branca de Neve, a sermos atraentes como Jasmine, a sermos dóceis, meigas e gentis como Aurora, Bela, Cinderela.

que gif bonito de Cinderela ♥ /from esqueci de que tumblr peguei sorry =(

Em seguida, temos finalmente princesas realmente ativas: Pocahontas em 1995 que, assim como Jasmine, é princesa e o homem que conquista seu coração não tem sangue real, e ela - opa, opa! - não termina com nenhum homem no final. Ela precisa ficar na Nova Inglaterra pelo seu povo e é isso que faz, quando John parte para Inglaterra. Em Pocahontas 2 (1998), Pocahontas termina o filme com outro John que ela conheceu no segundo filme, e não o John Smith (o cara gatão que todas as menininhas babavam). Achei inusitado. E então temos a Mulan de 1998 que é chinesa, que não tá muito afim de casamento e quando o país entra em guerra, ela vai lá, corta o cabelo cantando Reflection (na linda voz da minha linda Christina Aguilera) e vai pra guerra disfarçada de homem. E ela vai lá e vira exemplo pros marmanjos que a acharam muito fracote. Esse animado, em comparação com os outros, é praticamente subversivo: não é só uma mocinha que não tá atrás só de um marido, mas que luta pelo seu povo assim como Pocahontas. E subverte os papéis de gênero quando amarra a faixa e se faz passar por homem, vivendo em um acampamento militar, morrendo de medo de que alguém a descubra. Aí no final é oferecido um cargo pra ela e ela recusa pra morar com o maridinho que ela arrumou no acampamento. As feministas choram.

Aí nós crescemos assistindo esses filmes todos e tal. Reparando que as mais libertárias são justamente as que não possuem o panorama europeu e, sim, de "um outro povo". No caso, Pocahontas que é índigena e Mulan que é asiática. Aí em 2009, depois de todos esses filmes como Toy Story, Procurando Nemo e Madagascar, a Disney resolve lembrar de suas raízes e fazer um filme de princesa. Claro que nós, garotinhas que temos uma ligação profunda, emocional e perversa com a Disney (aka eu), adoramos a notícia. A Disney, então, resolve fazer sobre uma princesa negra. A primeira princesa negra. A primeira princesa que tem um emprego. A primeira princesa que tem uma amiga humana, normal e tudo o mais. E a primeira vez que é o pai morto e a mãe viva e ela tem uma boa relação com a mãe (embora a mãe não apareça muito). É a Tiana, de A Princesa e o Sapo. O filme é bem digno, Tiana é super diva mesmo na sua versão sapa e temos mais uma referência infantil, mais positiva que as outras. Quanto ao príncipe, se eu não estiver muito enganada, ele era um malandrão e ambos aprendem a se conquistar. Final: casamento. Mas temos um progresso. Progressinho, vamos. Era pra ter sido maior, vide a época, mas bora lá.

E então, em 2010, a Disney lança Enrolados que é simplesmente... não consigo não gostar do filme. Rapunzel é a coisa mais meiga do mundo. O filme não é mais em 2D, e Rapunzel é bem o estereótipo das primeiras princesas: branca, hetero, olhos azuis, cabelos loiros, doce, ingênua. Mas ela  tem algo de diferente das outras. Ela é ingênua porque viveu a vida toda trancada em uma torre, cercada de livros e brinquedinhos, querendo muito viver o mundo lá fora. Quando um ladrão (aliás, que fixação a Disney tem com ladrões!) invade a torre dela tentando fugir dos soldados do reino, ela sabe muito bem se defender com sua frigideira e seus longos cabelos dourados. Ela não precisa dele para salvá-la o tempo todo, por mais bobinha que seja. Ao entrar em um bar cheio de homens bêbados e agressivos, ela simplesmente os faz cantar sobre seus sonhos e vamos combinar que essa é uma ótima cena. Se você odeia musicais e odeia animados, odiará essa cena. Mas enfim ♥

Eu tenho um amor muito grande por Enrolados (até por ser emocionalmente ligada, já que foi o primeiro filme que vi em 3D e fiquei tão emocionada com as lanterninhas que tentei pegá-las com a mão como uma idiota ok), mas tenho que reconhecer: no âmbito mulheril da vida, Rapunzel não foi nenhum progresso. Não diria que foi um regresso: ela simplesmente manteve um padrão. Rapunzel, enquanto Rapunzel, não me incomoda. Mas ela ser a norma... aí é um incômodo.

COMO odiar essa menina, COMO? é até pecado, gente ~ from /lovelydisney

E então, 2012, estréia Valente.

Eu me animei a ver o filme porque, como já disse, tenho aquele apego pela Disney. Eu sei que os filmes são machistas. Eu sei que eles refletem um padrão de comportamento que eu odeio que as meninas sigam. Eu sei que não há diferença entre amar um cara que te mantém prisioneira (aka A Bela e a Fera) e amar um cara que arranca o motor do seu carro para você não ir ver seu amigo (aka Crepúsculo). Eu sei que há níveis absurdos de submissão, condicionamento, passividade que exigem de uma mulher nos filmes da Disney. Mas é aquela coisa: eu amo Disney mesmo com dezoito anos de idade. Eu amo as músicas. Eu amo as princesas. E você que ainda tem os bonequinhos de Flash e Super-Homem?

E eu não só amo princesas, como idolatro e venero as ruivas. O cabelo alaranjado me é algo muito especial, até pela raridade da coisa. Tal como as pessoas idolatram diamantes porque você não encontra diamante dando sopa por aí, eu amo cabelos ruivos porque, na minha cabeça, ou você nasce com esse cabelo ou você se desdobra em clareamentos pra parecer uma ruiva. E ainda assim, nem sempre fica convincente. E não é apenas cabelos ruivos, são longos volumosos cabelos encaracolados de tonalidade alaranjada. Quer dizer... 

eu absolutamente amo o cabelo dela. muito. mesmo. ~ from /lovelydisney

Eu fui ao cinema apenas sabendo que era sobre uma princesa que não queria casar, e sabia que tinha ursos na história. Não sabia muita coisa, portanto. E eu saí do cinema feliz.

Primeiro, pela questão gráfica. Há uma beleza extraordinária do filme. Deu para perceber que os 185 milhões de dólares - o orçamento do filme - pagaram cada movimento de cada cacho ruivo, cada folhinha da grama, cada aspecto da luz mágica, cada sarda, cada pequeno detalhe que a Disney+Pixar tão minuciosamente colocaram. Eles adoram cuidar dos detalhes e, nesse caso, fizeram bem feito. Eles cuidaram absolutamente de tudo. A parte gráfica é realmente admirável. Eu apenas invejo pessoas que trabalham nessa área. 

E em segundo lugar, por todas as coisas que Merida trouxe.

É o primeiro filme que não há nenhum príncipe. Em nenhum momento há um "par" pelo qual Merida se apaixone e se case com ele no final. O filme não é sobre um romance. Não é sobre o romance entre duas pessoas e seus obstáculos. Não é sobre Merida tendo que escolher entre três candidatos. É sobre Merida lutando pelo direito de não ter que escolher. De optar por ignorar todos e ficar sozinha. "Eu quero ser livre" diz ela, e então ela expressa um desejo de milhares de mulheres. Livres de terem que ter um homem, livres de terem que aceitar as imposições sociais condicionadas ao gênero, livres dos vestidos apertados, livres de tudo. 

Depois, é um filme cujo foco principal é entre Merida e sua mãe, Elinor, a rainha. Atenção: é o PRIMEIRO filme da Disney cujo foco seja na relação entre duas mulheres e que uma não está querendo matar a outra. Mães são raras na Disney (elas só vivem em A Bela Adormecida, Mulan, A Princesa e o Sapo e Enrolados. Porém Aurora acha que é órfã, Rapunzel vive com a sequestradora achando que ela é sua mãe e as mães de Mulan e Tiana são, tipo, ~quem liga?~), geralmente sendo assassinadas logo no começo, fazendo as princesas perderem suas referências maternas e tudo o mais. A Disney gosta muito de matar mães e isso é um assunto que merece uma monografia a respeito. Além disso, não há muito contato feminino para as princesas. Elas costumam ter animais como amigos e eles são, geralmente, do sexo masculino. Não há realmente alguma princesa com uma grande amiga (exceção: Tiana). O máximo é mulheres que agem como tutoras (A Bela Adormecida, Cinderela) e eu acho isso mais nocivo do que alguumas vilãs (eu contabilizei: de dez filmes, tirando Valente, cinco tem vilões homens e cinco tem vilãs mulheres. Os outros filmes que não estão contabilizados como Hercules, Corcunda de Notre Dame, Anastasia - que não é da Disney - e Atlântida, três tem vilões masculinos e eu não consigo lembrar qual era o vilão de Atlântida). Por isso é positivo que haja Valente, no qual Merida - cercada de homens como seu pai, seus três irmãos, os diversos homens no reino - tenha sua mãe como amiga e aliada, não como uma oponente. 

momento fofo com merida baby <3 ~ from /you-can-cancel-quidditch

Aqui se encerra parte das minhas críticas aos homens que consideraram o filme "clichê". Eles simplesmente não sabem como funcionam os filmes de princesas. Eles simplesmente acham natural que um filme não tenha nenhuma história romântica por trás ou que não termine em um casamento, porque muitos filmes masculinos não possuem essa subtrama romântica. Isso simplesmente não é importante nesse contexto. Porém, se eles entendessem o quão forte é essa subtrama romântica nos filmes feitos para as mulheres, iriam entender o impacto que é um filme animado pela Disney de princesa que não possui absolutamente NENHUMA história romântica por trás. Se eles simplesmente vissem Valente como o que ele é - um filme de princesa - iam entender o quão importante ele pode ser em termos de referências. 

Algumas pessoas discorreram sobre como Merida não era suficientemente feminista porque, no final, ela fala sobre a possibilidade de casar. Eu achei isso absolutamente insuficiente. Ela não fala que irá casar. Ela simplesmente fala que pensará nisso outra hora. Mas o que ela mais queria - a liberdade de escolher - ela conseguiu. Ela conseguiu que sua mãe a aceitasse com os cachos soltos, com a sua comilança despropositada, com seus arcos e flechas. Ela conseguiu ter a possibilidade de escolha sobre seu futuro e é sobre isso que se trata o filme. Sobre ela ser de uma determinada maneira e sua mãe a aceitar do jeito que ela é. Você não precisa romper com a família para obter isso. Com diálogo, com ambos os lados cedendo em pontos aqui e ali, há um consenso. E eu acho isso tão importante, que fico triste ao ver próprias feministas desvalorizarem isso. É como se elas ignorassem tudo o que Merida passou para se focarem em "ela é mimada", "ela é chata", "ah nem senti empatia por ela sorry". Aí algumas ficam tão "nem é tão feminista" como se houvesse um carimbo para essas coisas. Como se tivesse carteirinha de feminista para determinadas obras. Ah, Thelma e Louise morrem no final, nem é tão feminista assim. Ah, Mulan escolhe se casar no final, bora desqualificar o filme todo. Acho indigno. É uma análise rasa, superficial e insuficiente. 

Eu não vou dizer que Valente é feminista. Eu acredito que as pessoas de Pixar queriam falar sobre uma princesa indomável que não quer se casar e lutou para isso. O erro de Merida não foi querer ser livre, mas foi tentar mudar a mãe arbitrariamente, sem tentar um diálogo real. Com isso, pagou o preço de quase perder sua mãe, tendo que acompanhá-la constantemente e a salvando o tempo todo. Ela teve que arrumar os problemas que deixou o reino - ao fugir do casamento exigindo a própria mão (uma atitude ousada e corajosa, convenhamos), ela acabou provocando uma briga entre os clãs e ela o fez na base do diálogo. Essa foi a valentia dela - tão acostumada ao arco e flecha - acabou tendo que se posicionar diante de milhares de homens furiosos e argumentar sobre liberdade de escolha. Ela acabou assumindo os erros de sua impulsividade (que gosto de chamar de ~diva absoluta~), e aprendendo a entender a mãe que a ama de verdade. O relacionamento entre ela e Elinor tem muitas nuances. Elas se amam verdadeiramente e brigam uma pela outra. Merida luta com o próprio pai, pronta para morrer para salvar a mãe. Elinor luta com outro urso completamente enfurecida, perdendo qualquer senso de decoro próprio de damas, quando vê Merida ameaçada. 

um dos melhores momentos ♥ ~ from /lovelydisney

Outro aspecto que amo em Valente é que a aparência física, por mais exuberante que seja, não é levada em conta pelos protagonistas. Não há nenhum personagem que fique "oh tão bela com esses cachos ruivos". Ela não inspira suspiros nem nada do tipo. Merida é linda aos meus olhos, mas essa não é uma característica importante sobre ela. O que é importante sobre ela é ela ser tão ousada e impulsiva a ponto de, no meio de uma delicada reunião com outros clãs, exigir a própria mão recusando todos os outros pretendentes, é ela ser infantil a ponto de negar o próprio erro ao tentar justificar o que aconteceu à mãe jogando as responsabilidades para cima da bruxa e depois conseguir ser corajosa para entender que ela precisava terminar com o caos absoluto entre os clãs, explicando a própria escolha não como um ataque à eles, mas como uma escolha pessoal e a estendendo para os outros. "Escrever a própria história" ela diz e os outros concordam, porque os pretendentes também não foram interrogados em nenhum momento se queriam casar com ela. É algo inusitado para eles, mas é uma tradição que ela quebrou. Todas essas características são vistas em Merida e a fazem tão humana quanto qualquer um de nós, e a fazem ultrapassar a aparência no qual mulheres, principalmente princesas, acabam se limitando no cinema, especialmente o cinema para as massas.

Além disso, há um pequeno tópico que muito apreciei em Valente: Merida come. Come pra valer. É sabido que mulheres, no cinema, comem pouco ou se comenta sobre o que elas comem. A comida é vista de forma pesarosa, negativa, simplesmente tão engordativa em filmes, novelas, séries, livros. Fala-se de calorias, kilogramas, carboidrados, gorduras e poucas vezes há uma mulher comendo de verdade sem nenhuma culpa. A mãe fala sobre a quantidade de comida que Merida come, e ela absolutamente não liga para isso. Isso é algo dela e é algo que eu amo: a quantidade de vezes que mostra Merida roubando maçãs, pãezinhos e tantas outras coisas. 

Uma das críticas apontadas por feministas foi "porque a mãe tinha que ser a repressora?". Sinceramente, acho a pergunta estúpida. Porque o filme se trata do embate de uma filha que quer ser livre e de sua mãe que tenta enquadrá-la. Fala do relacionamento entre mãe e filha. Há esse confronto de idéias diferentes e é essa a idéia central do filme, e eu acho isso tão óbvio que quase me ofendo de alguém realmente achar que isso é um argumento sério. Há pouquissímas mães em filmes animados, todo mundo sabe disso. Há pais variados, idem. Mas um filme que fale de pai repressor x filha que quer ser livre tem uma dinâmica muito diferente de mãe repressora x filha que quer ser livre. Isso é evidente, tão claro quanto água. 

Quanto ao argumento mais chato de todos que é "Merida é mimada e não senti nenhuma empatia", nem tenho algo a comentar. Empatia é algo pessoal. Eu, pessoalmente, senti muita empatia e identificação por Merida. Eu amei Merida muito mais do que amei o velhinho ou o garotinho de Up (filme que todo mundo ama, menos eu que considero a idéia de uma casa subir por balões tão inverossímil que nem sei o que achar), muito mais do que gosto de Nemo, o peixinho-palhaço, muito mais do que gosto do ratinho em Ratatouille (eu adoro esse filme, mas convenhamos: ratos + restaurante = nojento). Todos esses são filmes da Pixar absolutamente endeusados. Pessoas vivem comparando tais filmes com Valente para dizerem "olha, é inferior à todos esses". Eu não acho. Eu, pessoalmente, achei Valente superior. Em termos gráficos (os cabelos ruivos absolutamente reais (vide a cena no qual Merida se molha e vemos os cachos molhados tal qual cachos reais), as paisagens estonteantes de Escócia, as expressões faciais, os pequenos detalhes como as flechas de Merida), em termos de roteiro (é uma história redonda, no qual as coisas se explicam, apesar da bruxa poder ser substituída por qualquer coisa), em termos de mudanças de paradigma (ser um filme de princesa que não tivesse uma subtrama romântica, por exemplo), em termos de alívio cômico (oferecido pelos irmãozinhos dela, por exemplo), em absolutamente qualquer termo.

um dos irmãozinhos de Merida ♥ ~ from /mawitzap

Eu entendo você que ama mais Toy Story que fez a todos nós chorarem copiosamente na parte final do terceiro filme quando Andy entrega seus brinquedos à garotinha (eu mesma chorei só de me imaginar doando minhas bonecas, que ainda tenho) ou ama mais Procurando Nemo (é muito difícil não curtir o baleiês de Dorothy), mas eu acho absolutamente injusto pegar Valente e dizer que ele é ruim porque você acha a protagonista mimada (sendo que Nemo é tão mimado quanto e não vejo ninguém falar um "a" dele) ou a acha sem empatia (e aí eu acho você sem noção, porque você não sentir empatia é diferente de "não ter empatia" - é muito fácil se identificar com Merida: milhares de garotas adolescentes se sentem incompreendidas por suas mães e/ou tem longos cabelos cacheados dos quais sentem uma enorme vergonha). Eu acho ainda mais injusto tecer milhares de elogios ao La Luna, curta que Pixar apresentou antes, que é lindo sim, mas os críticos tem uma estranha mania de falarem sobre como a relação avô-pai-filho é abordada de forma emocionante no curta e então criticarem Valente com sua relação mãe-filha, como se abordar mães-e-filhas não fosse importante. 

Eu ainda não vi uma crítica à Valente que fizesse sentido de verdade. Eu vejo pessoas chamando Merida de mimada, pessoas que criticam "não ser tão feminista" (mesmas pessoas que criticam Jogos Vorazes e parecem que nem leram o livro e/ou tiveram uma interpretação totalmente diferente, baseada totalmente no gênero, esquecendo-se totalmente do contexto), pessoas que esperavam por Merida ensanguentada cheia de arcos e flechas. Mas, gente, Valente é sobre uma princesa que acaba descobrindo que a verdadeira coragem está em assumir suas posições e idéias. Quando ela deixa de agir como uma adolescente mimada e se porta como sua mãe (não como uma dama, mas como uma pessoa racional e segura do que fala), ela consegue, então, o direito à sua liberdade. É nisso que consiste a sua valentia. E é esse tipo de referência que as meninas precisam ter para suas vidas: entenderem que elas podem ser o que quiserem. Elas só precisam ser seguras do que querem ser. 

espero ver esse começo eternamente ok ♥ edição do lovelydisney.tumblr.com

sexta-feira, 20 de julho de 2012

a família que escolhi


Hoje todos estão se dando ~ feliz dia dx amigx ~ e eu me sinto no dever de fazer minha parte.
Obrigada a todo mundo.

Obrigada à galera do Neopets que nunca conheci ao vivo e em cores na minha vida, nunca toquei, nunca cheirei, não sei o gosto. Mas são mais reais do que qualquer caviar, são pessoas de verdade, são personalidades que estiveram comigo quando precisei, que me divertiram, que me deram conselhos, que me ajudaram pra caramba. Obrigada a todos vocês por terem dedicado seu tempo para ir nos fóruns e serem meus amigos. Ainda hoje converso com alguns de vocês e faz quase cinco anos. Cinco anos que eu não enjoei de vocês nos meus contatos de msn. Vocês são uns lindos. Thank you <3

Obrigada à galera da minha antiga escola. Há pessoas nela que nunca leram meu blog, nunca me acompanharam nas mudanças. Eu as odiei por algum tempo e eu as amei também, e foram amigos queridos por aqueles anos que eu ainda tenho saudades, ainda que nunca queira voltar ao começo da adolescência. De todas essas pessoas, devo agradecer à querida Árina que continua firme e forte até hoje, sempre com muito mais dignidade do que muita gente por aí. Árina, eu te amo e quero tudo de bom pra tua vida ♥

E também à Luiza. Ela pode não ser tanto minha amiga quanto foi. Você se distanciou e eu também, e criamos vidas muito diferentes. Mas eu lhe agradeço, sinceramente, por todos os nossos anos juntas nos quais conversávamos sobre livros de vampiros, Brad Pitt e história. Você agora está fazendo Direito. E eu acho que combina com você. 

Obrigada às meninas da Descapricho. Eu as conheci quando eu tinha quinze anos em um tópico de orkut na comunidade da Capricho e o assunto do tópico era simplesmente Rowling x Meyer. Quer dizer, quem poderia imaginar que esse tópico faria com que surgisse um grupo de pessoas tão diferentes e maravilhosas? Gastamos muito do nosso tempo discutindo literatura, feminismo, mídia e tantas outras coisas e nisso Meyer acertou em cheio: se não fosse Crepúsculo, jamais teríamos nos esbarrado. Vocês me fizeram ter vontade de analisar coisas em minúcias, aprimorar meus argumentos, me divertir. Se vocês não existissem, eu nunca teria sido tão feliz no orkut. E se vocês não existissem, não teria a Descapricho, e agora, o Chá das 9 e eu sinto muito, muito orgulho de cada uma de vocês e do que se tornou hoje. Sinto que devo agradecer à Blanca, em especial, porque ela salvou minha vida no mar de Copacabana e também às grandes figuras daquele tópico, como Pussycat. PUSSY, SE VC AINDA EXISTE, TE AMO <3

(e me sinto na obrigação: Rafaela e Marie Kath, vocês não eram do tópico, mas eram da comunidade e eu AMO MUITO VOCÊS <3 de coração. Eu devo a vocês o fato de eu ter virado fã de Christina, porque se não fossem vocês a trazerem notícias para a comunidade, eu nunca me atentaria a ir pesquisando mais por Christina. Devo muito a vocês. E eu amei cada minuto que participei de algum barraco junto com vocês, quando éramos xingadas de matadoras de bebês ou algo profano assim)

Obrigada à minha turma atual do colégio que não sei que nome dar a vocês. Eu entrei na turma de vocês quando estava em um estado bem frágil emocionalmente falando, já que tinha repetido o ano, e eu estava praticamente pronta para me isolar. Mas o fato de vocês terem confiado à mim e me tratado como uma igual e não como uma "repetente" fez uma enorme diferença e eu devo a vocês muita coisa. Eu me senti incluída em um grande grupo pela primeira vez. O ano de 2011, quando eu festejei meu aniversário, foi a primeira vez que eu preenchi uma lista de aniversário cujos convidados eram todos amigos meus. Não eram apenas conhecidos que eu convidava "pra fazer média". Eram todas pessoas queridas que eu não podia esquecer. Eu amo cada um de vocês de forma muito única. Eu amo as viagens que fiz com vocês, os trabalhos escolares, os dias que tomamos sorvete com o trocado de todos. Amo os momentos que todos se uniam para ajudar alguém e sobre como todos ficam preocupados em se ajudarem da melhor maneira possível. Vocês me ajudaram muitas vezes quando nem sabiam que eu estava de mal com a vida só por existirem. Vocês são absolutamente especiais e eu sinto um orgulho enorme de ver como vocês se desenvolveram nesses nossos três anos juntos e como ainda se desenvolverão. Vocês são uns lindos <3

(poderia citar pessoas especiais, mas aquela coisa de citar um e não citar outro gera briga. é aquela coisa. mas quem é do grupo sabe quem é.)

E às duas pessoas muito especiais que não vieram "dentro" de um grupo: 
~ Hugo que é meu namorado e melhor amigo de quase quatro anos juntos, para todos os momentos <3
~ Malu que sigo no twitter e a venero <3

Feliz Dia dos Amigos para todos vocês! Espero não ter esquecido ninguém, mas acho pouco provável ter esquecido de citar algum grupo. Não citei família propositadamente, porque eu reservei o dia para "a família que tu escolhe". Para aquelas pessoas que esbarraram contigo nessa vida em algum momento e porque ambos queremos, ficaram aqui ao meu lado. Agradeço muito a todos vocês por terem existido. Mesmo que tenham se distanciado e etc, ainda assim valeu a pena. Arigato <3

essa imagem SUPER fofa vem do tumblr da chibird, tumblr de uma artista adolescente super fofa <3

segunda-feira, 16 de julho de 2012

porra, tati, que vacilo

gente.

você fala de machismo, homofobia, patriarcado, opressão, ditadura da beleza, sexismo. você fala de transfobia, de cissexismo, de militância, de politicamente correto. você fala de racismo, de classismo, de elitismo, de socialismo. você gasta a saliva correspondente à uma vida inteira de Adolf Hitler para tentar argumentar que é machismo dar rosas à mulher no dia 8 de março no discurso ~ mães donas-de-casa lindas ~ que é babaquice justificar estupro.

e aí você tem que ler ESSE texto lindo e maravilhoso.

ela não disse isso, disse? espera... ela REALMENTE escreveu isso. tipo, SÉRIO.

gente, nada dói mais que uma coisa dessas escrita por outra mulher. NADA. É doloroso, é horrível, é sofrível. 

é aquela dor de soldado que se sente traído, sabe? aquela coisa de "meu chapa, tu tava aqui do meu lado, viveu comigo, sabe do que tô falando e vai lá e fica dando razão pra lá? dando tiro CONTRA a gente? porra vei, traiu o movimento". bem esse sentimento dentro, me deixando aborrecida com o mundo. e é por isso que feminismo anda a passo tão lentinho, sabe? porque se a mulherada percebesse as amarras que nos prendem, dava pra sair. mas nada é mais eficiente pra deixar uma boa massa acorrentada à preconceitos e injustiças do que deixá-las acreditando que aqueles que querem se libertar que são ridículos. isso vale pra todo mundo. vale pra gay, vale pra gente pobre, vale pra negro, vale pra trans*, a porra toda. vale pra todo mundo que é oprimido de uma forma ou outra. 

eu entendo homem machista. bate aquele ódio no âmago do meu ser, mas entendo que se você está numa posição de privilégio, é simplesmente mais difícil abrir mão dele pra conseguir empatizar com quem não tem tais privilégios (se vocês discordam, experimentem se sentirem trans* - se forem cis - ou se sentirem gays - caso sejam heteros - por alguns minutos. é difícil, porque boa parte das coisas que você nunca percebe, são justamente as coisas que fazem todas as diferenças pros desprivilegiados).

mas não entendo mulher machista. não entendo mulher que escreve um texto tão babaca dele e acha que tá bom o suficiente para publicá-lo em um portal. não entendo mulher que acredita que mulherada é tudo falsa. que não dá pra ter amiga mulher. que a gente tá sempre competindo. acho inaceitável, porque eu acredito firmemente que se você parte de um pressuposto que todas as pessoas de x características (ex: ser mulher) são assim ou assado (ex: ser falsa), você só encontrará pessoas x assim ou assado, porque não prestará atenção nas pessoas x que são outra coisa. você simplesmente distorcerá as pessoas que vai conhecer por aí, tentando adequá-las à imagem que você tem delas, que é totalmente errada, baseada em preconceitos.

achei errado, achei feio, achei cafona. achei super tenso uma autora como Tati Bernardes que é conhecida no meio e fora dele e tudo o mais ter um texto desses por aí. sem querer entrar nessa onda de ~mimimi patrulha feminista pra cima de mim~ mas, vei, quando uma mulher se levanta e diz NÓS, MULHERES, SOMOS COMPETITIVAS E FALSAS MESMO, PFFF, você espera mesmo conseguir melhorar esse cenário? meu amor, se tu acha que ~ somos competitivas e falsas ~ o problema não está nas outras mulheres. está em você. é um problema todinho da sua pessoa.

trai o movimento não, tati. sério.

/morre apenas.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

sdds política laica no brasil, ops, nunca teve rs


PVFR BRASIL.
AI. CARALEO. MINHA DIGNIDADE SOFREU AQUI.

"bora discutir cura gay, galera"
Faz isso com minha pouca fé na humanidade não. Não me faça acreditar que vocês não tem solução. Porque vocês já foram longe demais com essa merda toda. Sabe, eu tava até de boa com seu "é adão e eva, não adão e steve", com o "TÁ NA BÍBLIA SEUS PECADORES" (risos eternos da minha parte), "esse bando de promíscuos" (mais risos eternos da minha parte) etc etc etc. Esse blá blá blá de gente que acha que sabe alguma coisa. Essa gentinha.

Mas daí a "bora brincar que somos psicológos e podemos mudar os preceitos que os regem"? Daí a querer questionar a Organização Mundial de Saúde sem embasamento, sem base, sem porra nenhuma que justifique tal posicionamento a não ser os velhos estúpidos e nojentos preconceitos retirados de seu livro? Sério mesmo? Really? Não, espera, porque está tudo errado. Ai euzinha, minha linda pessoa, tenho que ver essas notícias no G1 de "polêmica da cura gay causa tumulto". MEU AMOR, É PRA CAUSAR TUMULTO, BADERNA E

(faço questão)

cassação automática de quem inventa e compartilha e dá um maldito like nessas besteiras.

Já ouço as vozes urgindo "ah, mas corrupto não tem que ter que ser cassado, mas só porque o cara tá defendendo a família tem que ser cassado?". As vozes das profundezas, do classe-média-hetero-branca-cis-sofre-muito-no-facebook urgindo a favor da família. Eu acho a d m i r á v e l essa maneira que povo encontra de desviar o assunto. Sou a favor de cassação para essa galera corrupta também, mas não estamos falando de corrupção, meus amores, estou falando de uma linda bancada cristã (faço questão de sublinhar: c r i s t ã. Aquela que segue os preceitos de 'bora amar todos, galera') que tá lá gastando nosso dinheiro para discutir "cura gay".

Todas as aspas do universo para essa expressão.

sim, todo dia um hétero morre apanhando só por ser hétero

Porque, claro
1) todos eles são psicológos, psiquiatras, médicos graduadérrimos em Harvard ou Oxford concluindo que, porra, homossexualidade é uma doença, logo tem cura.
2) e como não bastasse, eles ainda tem autoridade para mudarem a Resolução 1/99 do Conselho Federal de Psicologia, PORQUE, CLARO, TODO MUNDO PERGUNTOU A OPINIÃO DELES SOBRE O ASSUNTO. Aliás, a resolução está aqui e é um documento simples e lindo que diz com todas as letras: psicológo/psicológa que faz jus à profissão não pensa em "curar" uma pessoa só porque ela curte o mesmo sexo.

Quero é ver esse povo ferrado. Já me basta engolir os escandâlos, a greve nas federais, o descaso completo com saúde, educação e tantos outros problemas. Já me basta engolir o crucifixo nos prédios públicos, os crimes por homofobia que só aumentam, a violência doméstica que só nos ferra. Me basta engolir o estupro no BBB (foi estupro e só idiota tem capacidade mental pra negar que houve abafamento muito eficiente do caso), me basta engolir a pouca quantidade de Delegacias das Mulheres pelo país, me basta engolir tanta coisa.

Mas essa bancada cristã está extrapolando todos meus limites. Eu simplesmente não vejo outra solução a não ser cassar todo mundo. Subiu no palanque e disse "EM NOME DE DEUS, EU PROMETO..."? Cassa. Se declarou evangélico e tá votando contra aborto porque vai contra deus? Cassa. Relaciona homossexualidade com pedofilia? Cassa. Cassa tudo, manda esse povo sair. Não é possível que um país tão fodido como o nosso tenha que aguentar essas pessoas no poder. Aliás, não é possível que gente como gente que bota eles no poder. Eles vivem falando de "ditadura gay". De mordaça.

Mas quem está com medo aqui sou eu. Estou sinceramente receando que a bancada ganhe ainda mais força e esse país vire uma teocracia.

laicidade é mentira, meus amores, voltem pra casa e se matem de depressão.

Aí, como se não bastasse minha expressão de "sério mesmo que estão falando de patologizar a homossexualidade?" diante do babado e confusão que rolou na Câmara, vem essa l i n d a entrevista do pastor que era ex-travesti que está linkada aqui, meus amores, para todos que quiserem apreciar a emocionante história de uma pessoa que achava que era mulher e agora, em Cristo, está no seu lugar que é de homem. "Deus me curou", amém, irmão. Aí vem o carinha todo "homossexualidade é conduta aprendida", porque ele obviamente está falando por todos os gays, por todas as lésbicas, por todos os bi. Ele está falando por todo mundo, gente, cês não sabiam que a ABGLT deu permissão escrita pra ele falar por todos?

Aliás, eu a d m i r o como ele é todo "estou falando de todos, gente". Não houve fidelidade dele com o italiano? É coisa de gay. Ele se prostituiu? Ah, desvio do caminho de deus. Não, ele nunca para para analisar como a sociedade marginaliza as travestis, jogando-as na rua por impedirem que possam frequentar a escola decentemente. Não, ele não percebe que em uma sociedade aceitável, a mãe e as irmãs nunca seriam preconceituosas como foram. Não, ele simplesmente está validando um preconceito do qual ele se sentiu.

Desculpa, sociedade, mas achei o cara escroto. Achei escroto porque acho escroto pessoa sofrer o pão que o diabo amassou e não ser capaz de perceber a situação. Acho escroto ex-gay virar pastor e assinar embaixo de uma sociedade assassina e perversa, se dizendo curado e iluminado. Curado e iluminado uma ova. Se fosse uma pessoa iluminada, teria a decência de perceber que é a igrejinha dele que estimula todo esse ciclo de bullying, de violência, de suicídio entre jovens, de ódio e hostilidade. Se vestir como "homem" não é atestado de decência. Ter esposa, ter filho também não. Nazistas também se vestiam como homens e tinham esposas e filhos e nem por isso alguém achava que eles eram pessoas decentes.

(ai, desculpa, comparação com nazistas doeu. meu amor, não sou eu que chamo esse povo de feminazi. não fui eu que inventei que existia uma ditadura gay. em termos de comparações sujas, sou caloura num jogo que vocês já são mestres)

Então, Bolsonaro, me faz um favor: se retire da sociedade. Marisa Lobo, mesmissíma coisa. Aliás, todos vocês que sorriem com orgulho se dizendo "oi sou da bancada evangélica me ame", pfvr, saiam. Vazem. Façam esse favor pela humanidade, porque esse mundo já está com ar contaminado pra perder energia com gente feito vocês.

(você que concorda com eles, não se sinta excluído. Você também pode se retirar da sociedade e ser uma pessoa imbecil junto com eles, em um outro mundo onde esse tipo de comportamento seja aceitável).

maturidade passou longe. tô nem aí.


domingo, 1 de julho de 2012

uma questão de bom senso

Ontem Letícia, do blog Cem + Um, postou um texto denominado Olímpiada de Opressões que me fez pensar um pouco sobre o meu papel em relação à uma minoria que tem sido excluída, discriminada, marginalizada e desprezada: transexuais. Eu já vinha pensando a respeito disso quando eu descobri que existia cissexismo, pessoas cis e trans*, transfobia na lista de Blogueiras Feministas no meu Gmail. Mas o texto dela ontem, com algumas feministas corroborando posições que eu pessoalmente discordo fortemente, me fez pensar muito sobre isso. Aliás, não só o texto, mas toda a postura dela em relação ao tema.

Primeiramente, eu acho bom ter em mente alguns conceitos:

Uma pessoa cissexual é aquela que nasceu sendo classificada de um determinado gênero e se identifica com ele. Não sei dizer se essa é a melhor forma de o dizer, mas vamos pegar meu caso. Eu, Luna, fui classificada do sexo feminino assim que eu nasci, porque eu possuo uma vagina. Meu corpo biológico é de uma fêmea. Eu sempre me identifiquei sendo uma mulher, em concordância com o meu órgão genital, com a classificação que me foi dada quando eu nasci. Eu me entendo como mulher, eu me sinto como mulher integralmente. Logo, por todas essas coisas citadas, eu sou uma cissexual.

O oposto de cissexual, na outra pontinha da escala, é a pessoa transexual. Uma pessoa transexual é aquela que foi classificada de um determinado gênero ao nascer. Por exemplo, Joãozinho tinha um pênis ao nascer, então papai, mamãe e médicos disseram que Joãozinho é homem. Recebeu a fitinha azul no pulso e toda a sociedade vê Joãozinho como um homem. Porém Joãozinho não se identifica com o gênero masculino e sim com o feminino. Joãozinho se sente uma mulher desde que se entende por gente, porém essa identidade difere do que a sociedade atribuiu. Logo, ele acaba saindo da norma e recebeu a palavra "transexual".

Por isso que existe a palavra "cissexual". Porque quando você dá uma palavra à algo que é considerado uma norma, você faz com que aquilo deixe de ser norma e se equivale ao que seria fora de norma. Por exemplo, homossexual e heterossexual. Antes, uma pessoa que fosse homossexual era considerada homossexual e uma hetero era considerada "normal". A palavra "homossexual", então, acaba assumindo o teor de "saiu da norma". Como se o heterossexual fosse o padrão, o default da coisa toda. Só que aí se a galera pega e começa a dizer: "espera, você não é 'normal', você é heterossexual", aí a coisa muda. Um dos lados deixa de virar a norma, pra ambos ficarem equivalentes e isso faz com que o 'homossexual' perca sua patologia.


É a mesma coisa. Quando você está dizendo: "ei, eu sou cissexual", você está dizendo que você tem uma identidade cissexual. Ela é a identidade que é aceita, corroborada e difundida como um padrão na nossa sociedade. Ela é considerada o "normal". Acontece que cissexuais são apenas o outro lado da moeda nessa coisa de identidade. Há transexuais e cissexuais. Cissexuais não são mais normais que trans*, nem trans* são pessoas doentes que precisam de tratamento enquanto cissexuais são pessoas não-doentes. Esses são conceitos que absorvemos pela sociedade, mas assim como muitos conceitos, é estúpido. A questão da patologização (?) dos trans* é uma questão problemática e eu não tenho mora para falar a respeito, já que eu sou cis e tudo o mais. Mas eu, pessoalmente, não acho que pessoas trans* sejam doentes ou qualquer coisa do tipo. Eu sei que elas estão classificadas como portadoras de transtorno e tudo o mais e com isso conseguem cirurgia para mudança de sexo (enquanto órgão genital, não identidade), mas eu reamente não consigo compreender como a transexualidade pode ser vista como uma doença. Eu simplesmente acho que é uma variação de identidade. Nem todos os homens nascem com pênis. Alguns nascem com uma vagina e são classificados como mulheres, mas se eles se identificam como homens, então não vejo a necessidade de questioná-los. Não existe carteirinha pra provar ser mulher. É identidade e ninguém tem nada com isso. Uma variação natural, e caso o homem assim deseje e prefira um pênis, que tenha acesso à tudo que seja necessário, como a cirurgia, hormônios e tudo o mais.

Mas, enfim, voltando à questão do post de Letícia.

Uma das coisas que costuma me irritar são minorias oprimindo outras minorias. Gays sendo misóginos. Mulheres sendo racistas. Negros sendo classistas. A lista segue. Isso é perfeitamente possível porque as pessoas reúnem muitas características. Eu sou mulher, cis, classe média C. Sou muito sensível à misoginia porque estou numa posição desfavorecida pela sociedade sendo mulher, porém sendo cissexual eu acabo pensando e falando muita merda que totamente ofende trans*, simplesmente porque por eu ter uma identidade considerada normal pela sociedade, então eu nunca parei para pensar sobre quem destoava. Eu acho que foi esse pequeno exercício que faltou nessa polêmica toda.

Sugiro seguinte: todo mundo que chegou até aqui nesse post, faça um pequeno exercício. Faça uma listinha tipo: sou do gênero tal. Eu me identifico com ele? Sim ou não? Sou gay, hetero, bi? Sou de que classe social? Sou branca, parda, negra? Eu tenho alguma deficiência? E por aí vai. Várias características. E depois você para e vê: quais das características te fazem perder algum tipo de privilégio (direitos sociais, por exemplo) perante à sociedade. E quais fazem parte da norma social? Reflita sobre essas em específico. Pense em como deve viver uma pessoa que não vive de acordo com aquilo. Eu considero isso um exercício de cidadania e de bom senso.


Se você não entendeu, vamos fazer um exemplo com Maria. As seguintes características de Maria:

Mulher.
Cissexual.
Lésbica.
Classe média B (digamos que ela tenha estudado em escola particular, tenha tido empregada, etc).
Parda.
Gorda.
Não possui nenhuma deficiência.

Vemos aqui, então, o perfil de Maria: ela é desprivilegiada em relação aos homens, aos heterossexuais, às pessoas brancas (porém é privilegiada em relação às negras), aos magros. E é privilegiada em relação aos trans*, aos mais pobres e aos que possuem algum tipo de deficiência. Com isso, Maria pode sentar, pensar bastante e concluir: eu sou discriminada por ser mulher, lésbica e gorda. Já ouvi piadas racistas e elas me incomodam. Então custa nada eu reconhecer que trans*, assim como eu sendo lésbica, por exemplo, estão em uma posição desfavorecida. Não necessariamente pior ou melhor, porque não é competição de quem é mais discriminado pela sociedade. Mas trans* são discriminados de forma muito específica simplesmente por serem trans*, e quando você tira deles o direito de serem cidadãos, você está os colocando em uma posição de marginalização. Então eu, Luna, considero esse um exercício que todos devem fazer. Eu tenho uma identidade cissexual. Ninguém questiona minha identidade de gênero. Eu não tenho que provar que sou mulher para ninguém. Ninguém se pergunta como faço sexo. Ninguém se pergunta em qual banheiro eu entro. Em suma, eu tenho privilégios que me foram conferidos pela sociedade assim que nasci por ser cissexual. Uma pessoa trans* não tem isso.

Eu acho isso muito simples de entender. Todo mundo tem identidade. A identidade é composta de vários fatores. Alguns desses fatores te fazem ficar à margem da sociedade, em diferentes graus. Outros fatores te dão privilégios. Não é nenhuma vergonha ter características que te dão privilégios (ser branco, ser hetero, ser homem, ser cis, etc), mas não tem nada mais vergonhoso que gente babaca que se recusa a reconhecer os privilégios que tem, negando, assim, a discriminação, o preconceito, a marginalização e a exclusão que o outro lado sofre.

{ post que achei por acaso na internet e que explica isso bem melhor que eu. e a melhor parte: foi escrito por uma mulher trans, logo ela tem moral pra falar de algo que eu não tenho: Perguntas Frequentes sobre Cissexuais, Cisgênero e Privilégio Cis

outros links super úteis, todos indicados pela linda da @malu_mad
legalizetrans (fonte de todas as imagens)