sexta-feira, 3 de agosto de 2012

essa agonia


Apenas continue vivendo.
Às vezes é difícil, porque os passos são incertos e o dia nunca é exatamente bom. É cinzento quando você quer sol, faz calor demais quando você quer frio, é longo demais quando você apenas quer que ele termine logo. Mas continue seguindo, porque o caminho ter que dar em algum lugar e se não gostar desse destino, desvie. Vire para direita. Volte atrás. Abra um outro caminho. Pare no meio para se refrescar e tomar uma sombra e reclamar da vida por uns cinco minutos, mas não fique ali para sempre. Continue. 

Às vezes a dor é muito grande e eu te entendo. Você quer apenas não precisar andar mais porque a dor te sufoca, te estrangula, te contamina por dentro. Ela é imensa, ela é intensa, ela queima, arde e você não vai conseguir conviver com ela ali, como um fantasma demoníaco, seu passado lhe atemorizando, suas mágoas lhe envenenando, as paixões não correspondidas, os olhares nunca devolvidos, as notas baixas demais, a vida monótona demais. Você quer apenas ficar em paz, você e sua dor, e então morrer suavemente. Eu entendo isso. 

O mundo continua girando, e nada vai mudar isso. O relógio vai correr e você não vai ter controle sobre isso. E então toda sua dor que mereceria outro caixão só para ela vai permanecer ali, tão vívida quanto antes e você não vai ter feito nada a respeito dela. Eu realmente lamento por isso. É difícil saber o que fazer com ela. Você a leva consigo para todos os cantos como um amuleto? Você a deixa em casa e então vai trabalhar usando a sua máscara preferida? Você guarda fragmentos dela em pequenos potes de cristal? Não é realmente fantástico ver como as pessoas lidam com suas dores?

Então, meu amor, descubra a melhor maneira de lidar com ela. Não permita que ela vire um imenso travesseiro com vida própria e o sufoque. Não faça com que ela vire algo maior que você. E deixe ela ir embora. Às vezes ela é necessária para que a gente sinta a vida com seus dramas, mas ela precisa ir embora. E você precisa deixá-la ir embora. Eu sei que você dirá que você não a impede de sumir, mas a cada momento que você se afunda em toda sua tristeza, você acaba a fazendo mais sua amiga do que deveria. Então deixe ela ir. Quando sentir a paz vindo, ela vai se afastar. Vai te dar um beijo na testa e sair pela porta, e você vai ter doces momentos. Um dia ela voltará. 

Não a trate como um fardo. Ela virá e irá embora em ondas. A permita vir para experimentá-la e depois deixe-a ir embora. Não há força sem dor. Não há paz sem angústia. E não há, simplesmente não há como viver docemente se você nunca soube o que é flertar com a morte. 

Um comentário:

Bárbara O. dos Santos. disse...

Gostei muito.
Intenso e sincero.
Às vezes fazemos mais força para lembrar e sentir a dor do que deixá-la ir no seu devido momento.
Não sei você mas eu percebo que muitas pessoas se apegam ao sofrimento e que deixá-lo passar é quase um desaforo ao que havia antes da dor, como acontece muitas vezes com a morte, com a saudade...Ou como se fosse um absurdo ficar feliz num momento tão difícil.
O melhor então é realmente viver a dor, viver a vida e todos os seus moemntos mas nãos e apegarta nenhum, deixar partir...Permitir-se seguir e viver...

Enfim...muito bom mesmo.
;)