Vamos lá: eu não quero encarnar o papel daquele típico professor de geografia que fica todo 'omg os EUA são os grandes vilões da humanidade e colonizam o mundo todo'. Eu não sou o anjo que porta a trombeta da Apocalipse e diz que os americanos serão a ruína da humanidade ou qualquer coisa do gênero. Mas eu teria que ser muito tapada para negar a influência que esse país enorme do Tio Sam exerce sobre os países como Brasil. Quer dizer apesar de Obama dizer que Lula "é o cara" e pedir pra que o nosso sábio presidente
McDonald's, Coca-Cola, Pepsi, Adams, Jonhson, Hollywood, tudo made in EUA. Antes era tudo made in França, afinal saber francês e gostar de lagostas era o básico. Hoje todo mundo deve saber inglês (o que fazer se grande parte dos brasileiros mal sabe o português?) e boa parte dos adolescentes desejam conhecer Nova York, Los Angeles e, hm, Miami? Não há problema em intercâmbios nos EUA: conhecer outras culturas é algo absolutamente fantástico e todo mundo deveria fazer isso. O problema é essa suprema valorização de tudo que vem de lá fora e a consequente desvalorização do nosso conteúdo. O fato de os EUA exportarem os maravilhosos filmes e sábias séries de TV para o resto do mundo faz com que, de certa forma, os americanos influenciem a nossa cultura, e - principalmente - as nossas novelas queridas, sábias e inteligentes -nããão! Obviamente o padrão americano é exportado da Europa que vende ao mundo todo toda sua classe e glamour de Velho Mundo. A beleza que importamos é de pessoas brancas, loiras, olhos claros que moram em casas lindas e grandes, famílias pequenas, carros confortáveis e um sistema de educação completamente diferente. Mas, sorry, a maioria das pessoas no Brasil não são brancas e loiras, e sim pardas, poucas pessoas tem a sorte de morar em bairros com ruas largas, com grama e casas grandes e confortáveis. E a educação, ah pra arrumar ela, só reformando do zero.
Então desde crianças aprendemos que tudo o que vem de fora é fabuloso, seja americano, europeu ou japonês. Pior ainda: temos a noção equivocada de que até mesmo a nossa História é mais chata, desinteressante e sem emoções, e construímos uma divisão entre o Sul (que algumas pessoas no Orkut não se cansam de dizer que o Sul é a região com maior IDH - elas nem falam isso, falam a "melhor" região - porque é totalmente from Europa), Sudeste, Norte, Centro-Oeste e Nordeste. Além, claro, do padrão de beleza que as revistas adoram falar: nós somos contra o racismo, mas só colocamos pessoas brancas na capa. Aceite seus cachos, mas só se for 100% baby-liss, na melhor das hipóteses, uma escova gradativa para abrir seus cachos será uma excelente idéia. Novelas das oito é coisa de pobre, vamos assistir as séries americanas, ainda que dubladas, que é melhor (e depois a pessoa vira e fala que não assiste TV! Como se Prision Break, Cold Case e Supernatural não fossem TV!) e filmes nacionais são lixo, a Hollywood é mil vezes melhor. E a música, ah a música. Só a música em inglês presta: a americana e a britânica. Ninguém escuta uma banda espanhola, e gostar de bandas japonesas é algo visto como 'atitude dos viciados pelo Japão'. Todos os aspectos do Brasil são inferiores ao Primeiro Mundo e a única coisa que a gente fez de útil foi inventar o avião (claro que os americanos não concordam com isso) e dia após dia alimentamos ódio porque ao mesmo tempo que seguimos o clichê Hollywood da vida, a gente se faz de vítima desprotegida que sofre de uma pseudo-colonização por parte dos ianques imperialistas. Como se nós não fossemos imperialistas também - colônias são colônias, metrópoles são metrópoles, mas no fundo, todo mundo é cruel na guerra e ninguém lembra que nós fomos tão cruéis na guerra do Paraguai quanto os americanos no Vietnã.
Os brasileiros se sentem tão cercados pelo "que vem do estrangeiro", pelas palavras em inglês que substituem (vamos lá, tudo bem dizer "underground" porque é difícil achar um equivalente em português, mas chamar a entrega de delivery não dá), tão manipulados quase o tempo todo que acabam caindo em extremos: ora idolatram tudo o que vem dos EUA, chegando a menosprezar a própria cultura, ora subestimam tudo - e se tornam ou anti-americanos fanáticos ou simplesmente pessoas antipáticas que não gostam de Halloween simplesmente porque diz-se que é uma festa americana. Então temos um sério problema de complexo de colonizado, porque apesar de sermos realmente as vítimas de uma sociedade cruel e imperialista, temos que entender que não foi algo realmente pessoal. Civilizações se destroem o tempo todo por conta da ganância, religião, intolerância. Mas não é porque portugueses vieram e estupraram nossas florestas e nossa cultura que a gente deve assumir a dor de 500 anos atrás e sentir raiva. Muito menos devíamos menosprezar toda a nossa História, achando que é tudo pagou, libertou, índio era selvagem, português trouxe civilização e africano não trouxe nada, só a macumba. Nada disso.
Gostar de The Beatles é falta de patriotismo? Não.
Querer forevermente viajar para Nova York e se esbaldar em todos os lugares citados em Sex in the City é falta de amor à pátria? Não.
E ficar obcecado, criticando cada mínimo filme de EUA só porque é dos EUA é ser patriota? Não, isso é ser chato.
Não vamos perder a nossa identidade - aí você pergunta: que identidade?
A identidade do Brasil, oras. Acredite ou não, brasileiros podem ser diferentes um do outro como um japonês é diferente de um francês. Um gaúcho certamente vai discordar de que seja mais brasileiro do que realmente gaúcho, até porque o Rio Grande do Sul tem uma personalidade muito singular comparado ao resto do Brasil. Mas isso não exclui o fato de que lá fora o gaúcho tenha o mesmo sentimento que um baiano ao escutar o Hino Nacional. Querendo ou não, a gente nasceu no Brasil. Não foi nos EUA, não foi na Inglaterra, muito menos na França ou Japão. Então, adolescentes que morrem de vergonha de terem que admitir que nasceram no Brasil, conformem-se com essa realidade: a certidão de nascimento aponta 'Brasil' e não é algo tão vergonhoso assim. Nós temos muitas coisas ruins, mas todo país sabe dos seus defeitos e qualidades, e certamente a grama do vizinho é sempre mais verde, até o momento que você vai pra lá. A nossa cultura não é simplesmente filme sobre Nordeste, escola de samba no Rio, futebol em todo canto. É muito mais, é uma questão de saber procurar. É uma questão de procurar livros nacionais (dica: Record tem umas dez páginas só de romances brasileiros para serem vendidos. Quem sabe, você se inspira e começa a estimular a literatura nacional?), música (oh, céus, nada de Cine ou... sei lá. Mas experimenta ouvir Kid Abelha) e o cinema nacional tá melhorando (e não estou falando só de Central da Brasil! É só dar uma procurada. Há dicas desde Lisbela e o Prisioneiro até Divã, que por sinal nunca assisti. De qualquer modo o cinema nacional não se restringe à ou filme 'cabra macho' (O Homem que Desafiou o Diabo) ou filme de gente muito rica (Se eu fosse Você). Há nuances, como O Cheiro do Ralo que também nunca assisti, outro pecado, e O Homem Que Copiava. Viu? Não é só Hollywood que faz filme, a gente também faz!). Além disso seria realmente legal se a gente parasse de ficar achando tudo do outro lado melhor, e simplesmente se enfocar mais no nosso próprio cotidiano.
Temos muitos defeitos, e o mais grave é o jeitinho brasileiro. Para ele, tenho a solução: Modo Lineu Silva! Simples, prático e eficiente, o personagem da série A Grande Família tem um comportamento que merece ser copiado em larga escala. Sua honestidade é inquestionável e não abre exceções nem mesmo para o seu genro, seu filho e sua esposa. Se os brasileiros agissem com mais rigor, isso melhoraria. Se os brasileiros também assumissem uma postura mais desafiadora, opondo-se aos políticos corruptos, também ajudaria, porque há grande conformismo que faz com que acreditemos que estamos realmente presos, afinal Brasília é muito longe, Lula é enviado divino e que mal faz desviar uns cem mil para viajar em Paris? Educação péssima? Pagamento decente aos professores, mais tempo dentro da sala de aula, demissão de todos os funcionários incompetentes, valorização do estudo dentro de casa, material didático mais bem preparado e, inclusive, um ambiente decentemente estruturado com carteira, lousa, giz e, ao menos, um desses negócios que passa transparência. E um globo terrestre, toda sala devia ter um. E livros também. Tirar crianças das ruas e enfiar nas escolas. Aumentar os presídios, organizar as alas (nada de misturar delinquente juvenil que pixa com assassino serial killer), e parar com essa mania de achar que político pode tudo. A gente paga o salário e a aposentadoria. O mínimo que a gente precisa receber de volta é respeito e cumprimento das promessas, e lembrar de uma noção que vem da Revolução Francesa: não é o povo que serve o governo, mas o governo que serve ao povo. Acho que vem da Revolução Francesa, sabe, iluminismo e tal.
O Brasil é um país muito rico, é tolice achar que ele se restringe a um ou outro estado. O Hino é o mesmo. A bandeira é a mesma. A certidão de nascimento diz a mesma coisa para todo o país. E, perdão aos separatistas, mas não se pode separar o país, pois seria um ato que infringe a própria Constituição, em suma, um crime. Cumpramos as leis, enxerguemos os defeitos, ajudemos a melhorar. Isso, no fundo, é ser patriota. Não berrar o quanto o seu Estado é maravilhoso para os outros, muito menos depreciar coisas de outros países. Mas, sim, é conseguir enxergar beleza nas próprias tradições e fazer algo para ajudar o lugar em que você vive.
Não é um crime se você simplesmente não gosta do Brasil.
Mas é lamentável que você viva em um lugar que só consiga enxergar os defeitos, ignorando todas as qualidades e, principalmente, todas as maneiras de ajudar o seu meio.
Cada povo tem o governo que merece.
Essa é uma verdade triste.
Pauta atrasadérrima para a Interativos, sugerido por Moara. Motivo: falta de tempo, falta de paciência, falta de inspiração. Mas não se preocupem, melhorei nisso.
E vocês viram isso? O que mais fiquei chocada é que a mulher que protestou foi ameaçada! Pombas, em que mundo estamos?
E no canto direito, substitui o meu blog de moda favorito. Era Garotas Estúpidas que é bem atualizado e tal, mas enjoei da postura "é tendência 'bora usar!" e substituí por esse, De Chanel na Laje, que gostei muito porque a blogueira faz sobre moda e reflete sobre elas, inclusive sobre machismo, ditadura da beleza e crianças emperiquitadas, isso tudo sem sair do salto!
9 comentários:
Clap, clap claaap! Disse tudo.
Adorei o post.
Não quero dar uma de hipócrita. Nunca gostei muito de história do Brasil. Sou muito apaixonada por Revolução Francesa e 2 Guerra Mundial (Napoleão e Hitler *-*) mas depois desse post vou começar a pesquisar um pouco mais sobre a Ditadura Militar (que me chamava atenção nas aulas de história).
E sobre a música, concordo com você. Adoro ouvir música de outros países - sem ser os EUA, acho que enjoei de lá - mas música brasileira eu só ouço Gabriel pensador, Charlie Brown Jr e outras bandas que tem a letra forte e falam sobre o Brasil, na maioria das vezes.
Tá ouvindo as palmas?
Deveria.
Você disse TUDO, mesmo.
Não tenho nem o que comentar.
Bjoss
Escuto música do mundo inteiro, e daqui também. Sou uma das poucas pessoas da minha geração que gosta, por exemplo, de música caipira, de raíz (nada de sertanejo universitário, estou falando de Almir Sater, Renato Teixeira e todo o povo que às vezes aparece no programa do Rolando Boldrim na TV Cultura (que aliás, não vejo ninguém mais assistir). Temos filmes bons sim, mas eles não ganham projeção quando não fazem parte do circuito Globo Filmes (que é a "nossa Hollywood", cineminha de entretenimento para não ter que pensar).
Não gosto de novela e não tenho vergonha de dizer que gosto de séries americanas (The Mentalist é a única que realmente estou acompanhando agora), sabe por que? Porque elas, pelo menos, mudam de assunto de vez em quando (sério, mesmo tendo tipo umas 10 séries de médico ao mesmo tempo, cada uma tem um enfoque e um estilo próprio). Novela é sempre a mesma coisa: os bonzinhos são todos burros e só se ferram até o último capítulo, sempre tem alguém tentando dar golpe do baú ou roubar a empresa da família, blá, blá, blá. Agora ainda tem um negócio chamado Merchandising Social que poderia ser bem feito e melhorar a mentalidade da população mas nãããããão, eles se limitam a usar enfoque emocional e só falar contra o preconceito como se bastasse. Sabe o que ajudaria? Ensinar a população a como lidar no dia a dia com portadores de necessidades especiais, que é o que quase ninguém sabe fazer!
Com os políticos, é preciso lembrar: de onde eles vieram mesmo? Porque um povo que sonega imposto, joga lixo na rua, compra mercadoria pirateada, joga sofá e geladeira quebrada em piscinão feito para evitar enchentes, dirige embriagado, estaciona em vaga de idoso ou deficiente (sem estar nessas condições), pára em fila dupla para buscar os filhos nas escolas, arranja atestados falsos de invalidez para dar golpes na previdência, etc, pode gerar que tipo de governante? Mande a Receita Federal, a Vigilância Sanitária e o Ministério do Trabalho investigarem cada empresa do país. Vamos ver quantas se safam sem uma única irregularidade (eu chuto que nem 10%, meus pais dizem que eu ainda tô sendo muito otimista).
Eu não tenho ilusões, no entanto. Ou acha que o resto do mundo não está cheio de corrupção? Alguém me explica então aquele rolo todo com aquela eleição de cartãozinho furado do Bush há uns anos. Alguém me explica então se não é por picaretagem de investidores lá nos EUA que estouram as maiores crises da bolsa (oe, e o lance dos derivativos?). No fim, sabe qual a diferença? Eles não tem medo de falar abertamente dos problemas e jogar a culpa em todo mundo, porque aqui, político todo mundo xinga porque é socialmente aceito, mas vá xingar as picaretagens dos bancos, o caixa dois dos pequenos empresários, a falta de profissionalismo e cooperação dos trabalhadores (e de vontade de trabalhar, diga-se de passagem), o comércio informal (é, sim, porque o povo usa à vontade porque paga menos, mesmo sabendo que eles fazem concorrência desleal às empresas que operam de forma *quase* regular e geram empregos, uma vez que não pagam IR, IPI, ICMS, encargos trabalhistas, etc), etc. Nãããão, o povo (não estou falando da população miserável), tadinho, só faz coisa errada porque precisa para sobreviver.
Bairrismo é perda de tempo. Nacionalismo-de-copa-do-mundo-e-carnaval também. O mundo é uma coisa só agora, se uns fazem protecionismo comercial prejudicam todo o resto, se aceita-se produção terceirizada que envolve trabalho semi-escravo além do oceano, de alguma forma vai se pagar o preço depois. Enaltecer a "cultura local" quando não se cumpre as leis federais melhora as coisas em que?
Ah, e tem coisas boas na televisão brasileira sim. O CQC é um exemplo.
Até a Globo, uma vez por ano, faz alguma minissérie de 5 capítulos que passa quase de madrugada que presta e realmente fala de coisas interessantes.
Aaaaaaaaaaamei muito o post, Luna.
Na boa, falou tudo. Hoje mesmo estava comentando com minha amiga que estou amando o assunto de História, que no momento é História do Brasil. Não gostava muito, mas desde o ano passado, tenho amado!
Falou tudo mesmo, na boa. :)
Beeeijos <3
mais uma vez comentand rs.Vc e a Umrae falaram tudo mesmo!como disse a carol tambem não quero dar uma de hipócrita,tem muita coisa no brasil q eu odeio(funk,futebol,escola de samba,o fato de a globo dominar a televisão)mas tem muita coisa boa tambem(caldo de cana q eu adoro,praias invejaveis,musicas com letras legais e ritimos contagiantes,misturas de etnias e culturas que não acontecem em outros países,e o cinema ta sim se destacando,pois é verdadeiro nada daqueles clichês de EUA ou cabra-macho como você falou)Acho que o que falta pro brasil além do patriotismo é mais cultura.Tem gente na minha escola que conversa durante o hino,ri.E a cultura ta cada vez se internacionalizando e Globalizando(falo do canal)mais e ninguem sabe quem e caetano veloso,maria bethânia,enfim.amo tudo no seu blog,principalmente aquuela parte no final do post q vc faz observações,daria super certo no meu.Beijo!
Postar um comentário