
Estou com medo.
Anteontem vi uma menina - de 7 ou 8 anos - com unhas super bem feitas, não tinham nem cutícula (ou foram muito bem empurradas) e pintadas com uma linda cor - que está na moda, ou já passou, - um verde meio pastel, meio antigo. A menina tinha dentes de leite e unhas da manicure.
Quando eu tinha 8 anos, o que eu fazia era pintar esmalte tudo borrado, tirar tudo e resolver brincar de cidade com os frascos: o preto era o marido do branco e era o prefeito da cidade, o esmalte azul escuro era apaixonado pelo esmalte azul claro e o verde tinha uma paixão secreta pelo esmalte rosa que estava com o vermelho-vinho. Esmalte era isso pra mim aos meus 8 anos: brincadeiras.
Mas para essa garotinha que vi comprando balas no mercado do meu bairro, esmaltes são vaidade, pura e simples.
Sou eu que estou ficando velha? Ou o mundo que tá girando rápido demais, e eu que achei que saltos de espuma para crianças, escovas a la anos 50 em menininhas de 5 anos e dicas sobre garotos e batons em revistas infantis estava em Pequena Miss Sunshine e longe demais de mim, do meu cotidiano. Eu devia saber. Os saltos de Suri não existem só em Hollywood. Eles existem também aqui, na minha cidade, nos calçados da minha prima de oito anos. Eu lembro do dia que ela comprou. Ela chegou na casa dela (onde eu estava, pronta a dar aulas de reforço escolar que dei por um mês) com a caixa de sapatos da Hello Kitty, para uma festa da escola. Eram sapatinhos brancos com um relógio cor-de-rosa de brinde, uma delicadeza. Com saltinhos. Minúsculos, quase imperceptíveis, mas eram saltos. A caixa de papelão tinha dicas de combinar aquele par: no shopping, use a pulseira assim. Na escola, de outro jeito. E na hora de sair com um menino... e era uma caixa de sapatos para uma garotinha de oito anos.

E eu me pergunto: quando foi que ficamos assim? Estamos matando a infância novamente? Infância pode ser um conceito subjetivo que surgiu através da história, mas mesmo assim, crianças não deveriam sair por aí vestidas como mulheres adultas. Crianças deviam ser apenas crianças: conhecerem seus deveres e direitos, mas brincarem, se divertirem e terem boas lembranças quando crescerem. Não deveriam trabalhar, nem terem mães que querem incentivar o "se cuidar" que, claro, é nos salões de beleza, fazendo as progressivas, luzes e manicures. Não quero encarnar o discurso tipicamente a favor da inocência, mas isso está me dando medo. Está me dando um medo absurdo.
Eu só comecei a ser um pouco vaidosa depois dos catorze anos. Entrei tarde no meu círculo, por puro ódio aos salões de beleza - até hoje não consigo gostar deles, nem compartilhar as fofocas. Fiz minhas antigas mechas em casa, descolorindo e pintando em casa, para fugir do salão. E a última vez que cortei, cortei em casa - igualmente para não ter o trabalho de sentar numa cadeira, me fingir de simpática e pagar alguém para me embelezar. Mas isso é uma questão pessoal minha. Minha mãe adora salões, minha irmã idem. Mas todas nós concordamos: crianças não deviam serem submetidas a tratamentos de beleza dessa forma. Uma hidratação de leve num cabelo que está quebrando até vai (se bem que nunca vi cabelo de criança quebrar). Um brilhozinho labial ok. Mas quando foi que passamos desses limites? Antes crianças eram sempre bonitas, mesmo faltando quatro dentes da frente, porque suas peles eram sempre suaves e seus cabelos sempre eram tão macios. Mas hoje? Somente os menores, os que acabaram de nascer, de aprender a falar e andar continuam assim. Os que tem sete, oito anos?
Não, eu vejo que elas perderam alguma coisa. E não estou gostando disso.
Se eu tiver filhos, eu quero encontrar uma maneira de fugir disso. Se tiver filhas, não quero saltos, nem batons, nem esmaltes, nem qualquer tipo de estímulo assim. Não vejo mal em vaidade, mas vejo mal em começar a instigar para a criança que é essencial ela ser mega-vaidosa, ainda mais quando isso está aliado a concepções nem sempre corretas, como de que o cabelo tem que ser liso. Obviamente há empresas que só aceitarão mulheres "nos trinques", mas a própria tem que ter consciência de não se deixar perder naquilo, de saber quando parar na própria vaidade. E se crianças são influenciadas a serem sempre vaidosas, belas e perfeitas... como será quando crescerem? Não terão problemas em decorrência disso, se cobrando demais, correndo cada vez mais atrás de uma beleza inalcansável, uma beleza que só existe quando se descansa da busca? A anorexia já não está matando o suficiente? Estamos criando mais mulheres rumo ao túmulo da beleza nos anos seguinte?
O que está acontecendo com a gente?
O pior de tudo é que só repito os ecos. Eu nunca consigo responder à essa pergunta, por mais que pense nela.
Anteontem vi uma menina - de 7 ou 8 anos - com unhas super bem feitas, não tinham nem cutícula (ou foram muito bem empurradas) e pintadas com uma linda cor - que está na moda, ou já passou, - um verde meio pastel, meio antigo. A menina tinha dentes de leite e unhas da manicure.
Quando eu tinha 8 anos, o que eu fazia era pintar esmalte tudo borrado, tirar tudo e resolver brincar de cidade com os frascos: o preto era o marido do branco e era o prefeito da cidade, o esmalte azul escuro era apaixonado pelo esmalte azul claro e o verde tinha uma paixão secreta pelo esmalte rosa que estava com o vermelho-vinho. Esmalte era isso pra mim aos meus 8 anos: brincadeiras.
Mas para essa garotinha que vi comprando balas no mercado do meu bairro, esmaltes são vaidade, pura e simples.
Sou eu que estou ficando velha? Ou o mundo que tá girando rápido demais, e eu que achei que saltos de espuma para crianças, escovas a la anos 50 em menininhas de 5 anos e dicas sobre garotos e batons em revistas infantis estava em Pequena Miss Sunshine e longe demais de mim, do meu cotidiano. Eu devia saber. Os saltos de Suri não existem só em Hollywood. Eles existem também aqui, na minha cidade, nos calçados da minha prima de oito anos. Eu lembro do dia que ela comprou. Ela chegou na casa dela (onde eu estava, pronta a dar aulas de reforço escolar que dei por um mês) com a caixa de sapatos da Hello Kitty, para uma festa da escola. Eram sapatinhos brancos com um relógio cor-de-rosa de brinde, uma delicadeza. Com saltinhos. Minúsculos, quase imperceptíveis, mas eram saltos. A caixa de papelão tinha dicas de combinar aquele par: no shopping, use a pulseira assim. Na escola, de outro jeito. E na hora de sair com um menino... e era uma caixa de sapatos para uma garotinha de oito anos.

E eu me pergunto: quando foi que ficamos assim? Estamos matando a infância novamente? Infância pode ser um conceito subjetivo que surgiu através da história, mas mesmo assim, crianças não deveriam sair por aí vestidas como mulheres adultas. Crianças deviam ser apenas crianças: conhecerem seus deveres e direitos, mas brincarem, se divertirem e terem boas lembranças quando crescerem. Não deveriam trabalhar, nem terem mães que querem incentivar o "se cuidar" que, claro, é nos salões de beleza, fazendo as progressivas, luzes e manicures. Não quero encarnar o discurso tipicamente a favor da inocência, mas isso está me dando medo. Está me dando um medo absurdo.
Eu só comecei a ser um pouco vaidosa depois dos catorze anos. Entrei tarde no meu círculo, por puro ódio aos salões de beleza - até hoje não consigo gostar deles, nem compartilhar as fofocas. Fiz minhas antigas mechas em casa, descolorindo e pintando em casa, para fugir do salão. E a última vez que cortei, cortei em casa - igualmente para não ter o trabalho de sentar numa cadeira, me fingir de simpática e pagar alguém para me embelezar. Mas isso é uma questão pessoal minha. Minha mãe adora salões, minha irmã idem. Mas todas nós concordamos: crianças não deviam serem submetidas a tratamentos de beleza dessa forma. Uma hidratação de leve num cabelo que está quebrando até vai (se bem que nunca vi cabelo de criança quebrar). Um brilhozinho labial ok. Mas quando foi que passamos desses limites? Antes crianças eram sempre bonitas, mesmo faltando quatro dentes da frente, porque suas peles eram sempre suaves e seus cabelos sempre eram tão macios. Mas hoje? Somente os menores, os que acabaram de nascer, de aprender a falar e andar continuam assim. Os que tem sete, oito anos?
Não, eu vejo que elas perderam alguma coisa. E não estou gostando disso.
Se eu tiver filhos, eu quero encontrar uma maneira de fugir disso. Se tiver filhas, não quero saltos, nem batons, nem esmaltes, nem qualquer tipo de estímulo assim. Não vejo mal em vaidade, mas vejo mal em começar a instigar para a criança que é essencial ela ser mega-vaidosa, ainda mais quando isso está aliado a concepções nem sempre corretas, como de que o cabelo tem que ser liso. Obviamente há empresas que só aceitarão mulheres "nos trinques", mas a própria tem que ter consciência de não se deixar perder naquilo, de saber quando parar na própria vaidade. E se crianças são influenciadas a serem sempre vaidosas, belas e perfeitas... como será quando crescerem? Não terão problemas em decorrência disso, se cobrando demais, correndo cada vez mais atrás de uma beleza inalcansável, uma beleza que só existe quando se descansa da busca? A anorexia já não está matando o suficiente? Estamos criando mais mulheres rumo ao túmulo da beleza nos anos seguinte?
O que está acontecendo com a gente?
O pior de tudo é que só repito os ecos. Eu nunca consigo responder à essa pergunta, por mais que pense nela.

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Entrevista com a fotógrafa dessas imagens na TPM.